Sou m�sico profissionalmente h� 30 anos. Quando o Skank, de forma independente, lan�ou o primeiro �lbum, em 1992, optamos pelo formato CD – uma novidade � �poca. Ali�s, nenhum dos integrantes da banda tinha em casa aparelho para escutar o nosso pr�prio trabalho. Fizemos uma lista de formadores de opini�o e distribu�mos nosso �lbum, entregando pessoalmente ou via correio.
Hoje em dia, a m�sica � totalmente digital e a cadeia de produ��o se alterou completamente. Desapareceram algumas pe�as importantes neste mercado, como lojas de disco, atacadistas e f�bricas de CDs. A maior parte das gravadoras produzia os �lbuns, fabricava os CDs, distribu�a para as lojas e, no final, o Departamento de Marketing avisava o mercado quanto cada artista havia vendido, por meio dos famosos discos de ouro, platina ou diamante.

As m�sicas eram criadas e gravadas de forma bastante artesanal, em um processo lento e cada vez mais caro. A m�quina de venda das gravadoras s� aparecia depois que era feita a entrega do �lbum. Tudo isso mudou com a chegada dos sertanejos universit�rios. Eles criaram o conceito “f�brica de can��es”, em que por meio de um processo colaborativo e, �s vezes, competitivo, no estilo hackton, s�o compostas can��es em escala industrial.
Em conversa com Bruno Baptista, diretor da Sony Music, entendi todas as mudan�as que ocorreram na ind�stria musical nos �ltimos 10 anos. Essa facilidade que o usu�rio tem, hoje em dia, de abrir um aplicativo e escutar milh�es de can��es, � apenas a ponta do iceberg da nova cadeia de valores que alterou a forma de compor, produzir, distribuir e consumir m�sica.
As plataformas de streaming s�o estruturadas para o lan�amento de singles. Isto �, o mercado se ajustou para lan�amento de can��es separadas. Esque�a aquela ansiedade deliciosa de escutar o novo �lbum do artista de quem voc� mais gosta.
Existem vantagens e desvantagens neste novo modelo. Quando se lan�ava um disco, o artista tinha um volume de can��es para explorar o seu momento de cria��o, mas, em compensa��o, se os f�s n�o recebessem bem a novidade, um ajuste de curso demoraria muito tempo e com um custo alto. Atualmente, quando um artista lan�a sua m�sica, se ela n�o agradar a corre��o ocorre em um prazo muito menor e a um custo mais baixo.
Mais uma vez, a tecnologia dita a forma como se consome m�sica. Sempre falo que todo artista � uma startup. As d�vidas e as necessidades s�o as mesmas. J� criaram a f�brica de can��es e os lan�amentos j� est�o sendo feitos em escala industrial. O que est� faltando � o monitoramento e o investimento nos artistas, como se eles fossem a��es na bolsa.
A m�sica virou produto. Perdeu um pouco o charme, mas ganhou em efici�ncia. Eu n�o sofro mais com o desaparecimento do cl�ssico modelo de �lbum no qual t�nhamos o prazer de escutar v�rias faixas de um artista. Perdemos a identifica��o dos nomes. Aprendemos a gostar das m�sicas sem nem saber o nome de quem est� cantando.
Independentemente da tecnologia a ser criada, sempre gostaremos de escutar uma boa m�sica. Isso � o que importa.