
No texto anterior a esta coluna, voc� leu sobre o projeto de instala��o do Parque Linear de Belo Horizonte e uma esta��o de trem que pode levar as pessoas do bairro Belvedere at� o Inhotim, em Brumadinho. � fato que nossa cabe�a voa s� de pensar numa estrutura dessas para a capital mineira. Ao mesmo tempo, pode-se pensar que a estrutura beneficiaria apenas a uns poucos abastados moradores do bairro Belvedere e do Vila da Serra, j� no munic�pio de Nova Lima. Entretanto, quando falamos em planejamento e gest�o do turismo, estamos nos referindo a um enorme impacto na vida de pessoas que podem viver a quil�metros de dist�ncia de um atrativo tur�stico. E como isso acontece?!
Para entender melhor o impacto que um atrativo tur�stico pode ter para uma regi�o, estado ou pa�s, precisamos rever um pouco as pol�ticas p�blicas de turismo pelas quais o Brasil e o mundo passaram. Uma das primeiras iniciativas organizadas de pol�tica p�blica do turismo foi o Programa Nacional de Municipaliza��o do Turismo, que era a diretriz brasileira para o setor l� no in�cio dos anos 2000. De l� pra c� muita coisa mudou, e percebeu-se que o turismo, apesar de acontecer no munic�pio, envolve normalmente uma regi�o. Esse foi um movimento mundial, onde, at� mesmo como observadores, podemos perceber como o turista � din�mico e n�o possui barreiras municipais. O que move o turista � a curiosidade que ele tem a partir de temas que lhe s�o agrad�veis e motivadores.
Neste sentido, descobrimos a segmenta��o tur�stica, atrav�s de temas que instigam as pessoas a viajarem. Assim nasceu o turismo cultural, turismo de aventura, ecoturismo, turismo de sol e praia, entre tantas outras segmenta��es. Por isso, o turista n�o enxerga barreiras geogr�ficas, ele enxerga barreiras estruturais. E quais s�o essas barreiras estruturais? Dificuldades de mobilidade, tarifas a�reas e de hospedagem incompat�veis com as estruturas dos destinos e, ainda, destinos desorganizados e sem planejamento. O turista pode at� n�o conhecer com estes nomes, mas n�o se engane, eles percebem. E mais, desistem facilmente de um destino desarticulado.
Para minimizar os impactos negativos de uma atividade tur�stica desorganizada, e levando em considera��o que o setor necessita de um sem n�mero de equipamentos e servi�os bem articulados para se ter um destino tur�stico organizado, muitos locais do mundo come�aram a trabalhar o turismo de forma regionalizada.
Normalmente, regi�es pr�ximas geograficamente tendem a ter similaridades culturais, naturais e at� mesmo arquitet�nicas. E s�o exatamente essas similaridades que fazem com que o turista tenha vontade de circular al�m das barreiras municipais, para explorar mais um destino, e consequentemente ficar mais tempo, investindo em mais di�rias e alimenta��o, movimentando assim a economia regional.
� baseado nessa simples – mas n�o f�cil – equa��o, que tratamos a regionaliza��o do turismo. Exemplos de regi�es temos muitas. Quem nunca sonhou em, numa �nica viagem, conhecer diversos castelos?! Para esse p�blico, nada mais atrativo do que a regi�o do Vale do Loire, na Fran�a. Percorrendo 9 cidades, � poss�vel conhecer pelo menos 20 castelos de tirar o f�lego. Sem falar na regi�o da Toscana, na It�lia, com suas 10 prov�ncias e muitas vin�colas; e na Rota Rom�ntica na Alemanha, que se estende por 400 km e passa por 12 cidades. No Brasil tamb�m temos belos exemplares, como a regi�o da Serra Ga�cha, que nos mostra um belo exemplo de organiza��o regional.
O que j� acontecia como um movimento econ�mico natural acabou virando pol�tica p�blica no Brasil desde 2004: o Programa de Regionaliza��o do Turismo. O programa foi criado a partir de recomenda��es da Organiza��o Mundial do Turismo. Possu�mos um Mapa Brasileiro do Turismo, que categoriza os munic�pios que aderem � pol�tica p�blica. Temos tamb�m eixos que organizam a pol�tica p�blica atrav�s da gest�o descentralizada do turismo, do planejamento e posicionamento de mercado, da qualifica��o profissional, dos servi�os e da produ��o associada ao turismo, do empreendedorismo, capta��o e promo��o de investimentos, da infraestrutura tur�stica, da informa��o ao turista, da promo��o e apoio � comercializa��o e por fim, do monitoramento de projetos e a��es do programa.
Documentos, planos e diretrizes temos aos montes. Desde �ltima atualiza��o do Mapa do Turismo Brasileiro, lan�ada pelo Minist�rio do Turismo em 2019, reuniram-se 2.694 cidades de 333 regi�es tur�sticas. Minas Gerais sempre foi modelo na pol�tica de regionaliza��o do turismo, com mais de 45 regi�es tur�sticas.
Mas, mesmo com tudo isso, o pa�s e o estado n�o conseguem entender o Parque Linear de Belo Horizonte como uma estrutura que se enquadra na pol�tica de regionaliza��o do turismo.
Mesmo com sua localiza��o estrat�gica na capital mineira – principal porta de entrada do estado, e reconhecida pela Unesco como Cidade Criativa pela gastronomia.
Mesmo passando por duas regi�es tur�sticas reconhecidas e certificadas pelos governos estadual e federal, o Circuito Tur�stico do Ouro (atrav�s de Nova Lima) e o Circuito Tur�stico Veredas (com o fim da linha de trem em Brumadinho, no Inhotim).
Mesmo estes circuitos tur�sticos necessitando urgentemente de melhorar o fluxo tur�stico e diversificar a economia, tendo em vista as trag�dias que aconteceram em Brumadinho e Mariana.
Mesmo a sa�da de Belo Horizonte para estes destinos abarrotada de pr�dios.
Mesmo com o potencial de melhoria na qualidade de vida de belorizontinos e novalimenses, de lazer que pode integrar moradores e visitantes e de melhora na mobilidade atrav�s do trem, que tanto nos conta da hist�ria de Minas, e que, ali�s, � um dos principais meios de transporte em regi�es europeias.
E o que fazemos?! Deixamos que se corra livre a possibilidade de leiloar uma �rea que poderia abrigar esse novo equipamento para o estado de Minas Gerais e suas regi�es tur�sticas, para a poss�vel constru��o de mais pr�dios e uma rodovia que dificilmente resolver� o problema do intenso fluxo de tr�nsito na regi�o.
N�o existe articula��o entre o setor do turismo e as demais inst�ncias, que n�o percebem o potencial econ�mico sustent�vel da iniciativa. Precisamos aprender a inserir a pr�tica das pol�ticas p�blicas do turismo no dia a dia das decis�es e articula��es para o desenvolvimento do setor. S� assim o turismo poder� ser um dos protagonistas do desenvolvimento no Brasil.
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