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Estado de Minas Coluna do Jaeci Carvalho

Chegamos ao fundo do po�o

Todos n�s morremos um pouco quando percebemos que a vida est� banalizada e que bandidos, travestidos de torcedores, continuam a digladiar, a roubar, a matar


12/07/2023 04:00
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No Brasil, a violência de torcedores no futebol, dentro e fora dos estádios, na maioria das vezes, não gera punição severa
No Brasil, a viol�ncia de torcedores no futebol, dentro e fora dos est�dios, na maioria das vezes, n�o gera puni��o severa (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press - 10/11/19)

A morte da jovem Gabriela Anelli, de 23 anos, torcedora do Palmeiras, ao ser atingida por estilha�os de vidro, no pesco�o, durante confus�o entre “torcedores” do Palmeiras e Flamengo, no s�bado, nos arredores do Allianz Parque, � a morte da “Maria, do Jos�, do Marcos, da Joana, do Felipe e de todos n�s”. Sim, todos n�s morremos um pouco quando percebemos que a vida est� banalizada e que bandidos, travestidos de torcedores, continuam a digladiar, a roubar, a matar. S�o cenas e trag�dias recorrentes, de norte a sul do pa�s, em cada est�dio, em cada esquina, em cada estado. O assassino de Gabriela foi preso e seu nome foi divulgado. O assassino chama-se Leonardo Xavier Santiago, carioca e membro de uma torcida organizada do Flamengo. Com certeza, responder� o processo em liberdade, e as v�rias brechas na lei n�o o deixar�o na cadeia por muito tempo. Vivemos esse caos h� d�cadas e nenhuma provid�ncia efetiva � tomada.

A prima da jovem assassinada declarou: “essa viol�ncia no futebol precisa acabar. O fanatismo est� deixando as pessoas doentes e esses assassinos precisam ser punidos”. � sabido que as torcidas organizadas, que num passado distante davam show de coreografia, hoje d�o show de horror. As cenas s�o deplor�veis e correm o mundo. N�o h� santo. Todas as torcidas, chamadas organizadas, t�m membros criminosos. Pode n�o ser a maioria, mas h� muita gente envolvida com o crime. A solu��o � a extin��o de tais organiza��es, mas parece que as autoridades t�m medo de tomar uma decis�o radical. J� fizeram cadastros, identifica��es, mas nada resolve. Os caras v�o para “matar ou morrer”, conforme afirmavam em c�nticos. Por isso eu digo: torcedor de verdade, que gosta do clube, � aquele an�nimo, que paga seu ingresso, n�o faz parte de nenhuma organiza��o criminosa, que n�o briga e n�o mata. Esse sim tem um valor inestim�vel.

O t�cnico Vanderlei Luxemburgo deu uma declara��o forte ap�s o jogo com o Atl�tico: “Ficamos em “pris�o domiciliar” no hotel em que est�vamos concentrados aqui em BH. Isso � terr�vel. Os jogadores n�o podiam descer ao Hall, por medo de serem agredidos. Onde vamos parar? As autoridades precisam agir, rapidamente, antes que uma trag�dia maior aconte�a.” O zagueiro Gil foi agredido por membros de uma fac��o organizada do Corinthians. Recentemente, Luan, atacante corintiano, foi tirado de um motel aos tapas e sob amea�a de morte, com um dos membros da gangue armado. Os sete bandidos que amea�aram Luan, j� foram identificados, mas n�o presos. Na Vila Belmiro, o jogo entre Santos e Corinthians foi interrompido porque “torcedores” jogaram bombas dentro de campo. Em S�o Janu�rio, a torcida do Vasco amea�ou invadir o gramado e tamb�m jogou bombas e sinalizadores. Olhem quantos atos criminosos. Jogadores sendo agredidos, amea�ados, s� porque perderam um jogo de futebol. Que mundo � esse!

H� anos eu digo que o pai que leva um filho a um est�dio de futebol � um irrespons�vel. Qualquer um de n�s poderia estar no lugar da Gabriela, no momento em que estilha�os da garrafa a atingiram. Um cara matou uma menina, de forma covarde, sem que ela nem saiba o motivo pelo qual foi atingida. Morreu sem saber de nada, pois n�o estava envolvida na confus�o. Apenas estava no lugar errado, na hora errada. Nosso futebol agoniza e chegou ao fundo do po�o. Tecnicamente somos um vexame. A arbitragem � ca�tica. Clubes endividados at� o pesco�o. Dirigentes amadores, se achando donos dos clubes e a viol�ncia em n�veis jamais imaginados. E ainda tem idiota que diz que o futebol brasileiro � o melhor do mundo, s� porque � o �nico pentacampe�o. Esquecem de dizer que somos dezenas de vezes “campe�es” em brigas e mortes. Um dado estarrecedor e vergonhoso. Ser� que conseguimos colocar 2 milh�es de pessoas na Avenida Paulista numa parada LGBTQI+ e n�o conseguimos nem um d�cimo disso para protestar contra a viol�ncia? Chega! Basta! Queremos escrever sobre o gol de bicicleta, sobre a defesa do goleiro, sobre a tabela, o drible, mas, infelizmente, n�o podemos fechar os olhos para a viol�ncia sem fim nesse pa�s da mentira, corrup��o e faz de conta. Se � “p�o e circo” que as pessoas querem, os governantes sabem muito bem oferecer isso. Os pol�ticos, com raras exce��es, s�o especialistas nisso. Chegamos ao fundo do po�o, ser� que ainda podemos acreditar numa autoridade capaz de salvar o futebol e as pessoas da viol�ncia e das mortes? Com a palavra, o Estado?

Amea�as a jogadores e familiares

T�m sido recorrentes, tamb�m, amea�as a jogadores e seus familiares. A esposa de um jogador do Corinthians disse que ela, o marido e os filhos est�o doidos para irem embora, pois n�o aguentam mais amea�as. O jogador Willian, que teve a carreira quase toda dedicada ao exterior, voltou para o Corinthians, mas rescindiu seu contrato, pois sua fam�lia foi amea�ada. Voltou para a Inglaterra. Os “bandidos” agem como se a viol�ncia e as amea�as fossem resolver uma crise t�cnica ou mesmo devolver a alguns jogadores, o futebol que eles n�o t�m mais. Se o atleta n�o corresponde, n�o � por corpo mole ou por m� vontade. S�o todos profissionais, que dedicam sua vida ao clube. Eles dependem das vit�rias para serem bem-sucedidos. Em qualquer profiss�o voc� pode errar e acertar. � da vida. Lembro-me do come�o do goleiro Everson, no Atl�tico. Foi amea�ado, junto com a fam�lia, e sofreu preconceito racial pelas redes sociais. Ele deu a volta por cima, mas quantos n�o conseguem isso? Vou fechar esse texto, relembrado uma frase do Skank: � apenas uma partida de futebol”. Ou, como disse o ex-t�cnico italiano Arrigo Sachi: “o futebol � a coisa mais importante entre as menos importantes da vida”.

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