
O roteiro n�o poderia ser mais parecido. Atacante experiente, centroavante leg�timo, dos que a gente n�o v� muito mais por a�. Que sabe como poucos se posicionar na �rea advers�ria. Que ganhou reconhecimento pelo faro de artilheiro, com trajet�ria de sucesso no Brasil e no exterior. Principal esperan�a de gols dos torcedores de sua equipe. Pausa dram�tica. Mas que amarga inferno astral. Uma seca daquelas, em que a bola evita a qualquer custo o fundo da rede. Dos lances mais complexos aos mais simples, em que o jogador est� de frente para a meta rival, sem goleiro e precisando apenas de um toquinho na bola para que ela entre. Caprichosamente, contudo, ela sai por cima do travess�o, ou pelo lado, ganhando a linha de fundo. N�o entra mesmo. Nem por decreto.
O par�grafo acima descreve o camisa 9 cruzeirense Fred, de 35 anos, que est� em sua segunda passagem pela Toca da Raposa e acumula 115 partidas e 76 gols pelo clube. Com 40 jogos e 18 gols pela Sele��o Brasileira no curr�culo. Folha de bons servi�os prestados nos times que defendeu. Mas que h� 12 partidas n�o sabe o que � balan�ar a rede.
O come�o desta coluna tamb�m se aplica ao camisa 9 atleticano, Ricardo Oliveira, de 39, que est� em sua segunda temporada na Cidade do Galo e contabiliza 87 partidas e 35 gols pelo clube. Com 16 jogos e cinco gols pela Sele��o Brasileira no curr�culo. Folha de bons servi�os prestados nos times que defendeu. Mas que h� 13 partidas n�o sabe o que � balan�ar a rede.
O drama comum aos dois jogadores dos arquirrivais mineiros mostra bem a volatilidade do futebol. Como n�o basta ter renome para que o script saia como planejado. N�o adianta um passado glorioso. Muito menos a fama de goleador. O que vale � a bola na casinha.
Tanto Fred quanto Ricardo Oliveira vivem o maior pesadelo de um atacante: estar em campo e n�o conseguir ser decisivo. Ainda: n�o ser efetivo na fun��o para a qual � contratado. Desempenhar um papel que eles j� provaram saber fazer muito bem. N�o h� como negar que os dois camisas 9 conhecem o caminho do gol, sabem como se desvencilhar da persegui��o dos zagueiros, achar uma pequena brecha na �rea alheia, por vezes em fra��es de segundos, e t�m a t�cnica para a finaliza��o. Chutes e cabe�adas costumamser mortais. Ou costumavam. Porque tamb�m n�o h� como negar que ambos est�o numa fase em que nada disso est� sendo visto. Os chutes est�o saindo enviesados. Os cabeceios, sem precis�o.
Apesar da semelhan�a entre os enredos, a queda de rendimento deles precisa ser analisada de maneira diferenciada. H� algumas particularidades a tornar o cen�rio distinto, embora as hist�rias convirjam para o mesmo fim: a falta de gols.
No caso de Fred, a luta � um pouco mais ingl�ria, pois ao mesmo tempo em que atravessa um momento de baixa, talvez um dos piores de sua carreira, ele v� Pedro Rocha, com todo o vigor de seus 24 anos, aparecer em lances capitais, fazer gols importantes para o Cruzeiro. E a� vem o segundo pior pesadelo de um atacante que, al�m de tudo, � idolo: ser preterido pelos torcedores. Ver sua presen�a n�o ser mais considerada essencial. Seu nome n�o ser mais gritado nas arquibancadas.
J� Ricardo Oliveira tem o aparente conforto de n�o contar com um concorrente interno voando baixo, pedindo passagem na linha de frente atleticana. At� por causa das poucas op��es (sobretudo de qualidade) no grupo comandado por Rodrigo Santana – n�o foi por acaso que o clube tentou contratar Luciano, do Fluminense, que acabou acertando com o Gr�mio. Os outros atacantes alvinegros igualmente t�m vivido de atua��es inconstantes. Um gol aqui, outro ali, sem empolgar muito. O prata da casa Alerrandro at� ensaiou uma amea�a, chegou a tirar a titularidade de Ricardo Oliveira, contudo, ainda n�o mostrou poder de fogo em momentos cruciais. E � isso o que diferencia o jogador que comp�e grupo daquele que � decisivo para o time.
Em etapas decisivas de torneios continentais, cujo �xito significa prest�gio e, especialmente, refor�o no caixa, Cruzeiro e Atl�tico precisam de seus jogadores atuando no mais alto n�vel. N�o adianta colocar em campo apenas pela reputa��o. � a produtividade que deve determinar a escolha, ainda que Fred e Ricardo Oliveira sejam atletas que n�o entram apenas na conta t�cnica ou t�tica de uma equipe. Por mais que a presen�a deles no time extrapole tais quest�es, � fundamental que ela esteja atrelada tamb�m � efetividade. E, nesse quesito, os dois est�o devendo.