
E o que se segue � talvez um dos cap�tulos mais tristes dessa rela��o torcedor - �dolo: um universo paralelo, com salvaguardas aparentemente s� permitidas a eles.
Nesta semana, tr�s casos de jogadores/ex-jogadores brasileiros mostram qu�o importante � o discernimento sobre o que � certo e errado. O que � aceit�vel e o que � inaceit�vel. E como a imagem do cidad�o precisa ser dissociada da do jogador. Como a idolatria os reveste de uma aura especial, em que todos os erros s�o compreendidos ou at� perdoados.
Preso na Espanha, no aguardo de julgamento de acusa��o de estupro, Daniel Alves concedeu a primeira entrevista na penitenci�ria. Falou ao jornal "La Vanguardia" sobre os dias na cadeia.
Uma declara��o particularmente chama a aten��o: "Estou com a consci�ncia tranquila. Eu nunca machuquei ningu�m intencionalmente. E nem ela naquela noite. N�o sei se ela est� com a consci�ncia tranquila, se dorme bem � noite. Eu a perdoo, ainda n�o sei por que ela fez tudo isso, mas eu a perdoo".
Uma declara��o particularmente chama a aten��o: "Estou com a consci�ncia tranquila. Eu nunca machuquei ningu�m intencionalmente. E nem ela naquela noite. N�o sei se ela est� com a consci�ncia tranquila, se dorme bem � noite. Eu a perdoo, ainda n�o sei por que ela fez tudo isso, mas eu a perdoo".
Daniel Alves est� preso desde 20 de janeiro. � Justi�a espanhola, deu cinco vers�es diferentes sobre o ocorrido na noite de 31 de dezembro de 2022, em que foi acusado de estupro. Foi desde nunca ter tocado na mulher a admitir rela��o, mas com uma s�rie de contradi��es.
Mesmo com a informa��o de que exame de DNA comprovava a presen�a do s�men dele na mulher e de evid�ncias de viol�ncia, ainda hoje nega o sexo for�ado. E fala em perd�o.
Em outro caso, �udios in�ditos de Robinho, utilizados pela Justi�a italiana na condena��o a nove anos pris�o por estupro em uma boate em Mil�o, em 2013, e divulgados pelo "Uol", mostram o deboche do jogador com a acusa��o e a certeza da impunidade.
"Como n�o tinha c�mera, vai ficar emba�ado pra 'mina' provar que estupraram ela se ela n�o tiver gr�vida", disse Robinho a um amigo.
Teve at� amea�a de agress�o, nas conversas gravadas. "A mina sabe que tu n�o fez porra nenhuma com ela, ela � idiota? A gente vai dar um soco na cara dela. Tu vai dar um murro na cara, vai falar: 'Porra, que que eu fiz contigo?", afirmou Robinho em outro trecho do �udio.
Robinho foi julgado e condenado em �ltima inst�ncia. Entregou o passaporte e est� proibido de deixar o Brasil. Continua em liberdade porque o pa�s n�o extradita seus cidad�os. Robinho nega as acusa��es e tem milhares a defend�-lo e a descredibilizar a v�tima.
Fora da inst�ncia criminal, mas dentro dessa seara de idolatria, nesta semana viralizou nas redes um pedido de desculpas p�blico de Neymar por ter tra�do a namorada gr�vida no Dia dos Namorados.
Segundo ele, a namorada tra�da viveu uma "exposi��o desnecess�ria", tendo sua intimidade "atingida em um momento t�o especial que � a maternidade". Exposi��o desnecess�ria foi um termo bem representativo. Preste aten��o nele. O foco sai da trai��o e vai para a visibilidade.
O post na rede social em que Neymar "reconhecia o erro" teve centenas declara��es do tipo "o amor venceu" a elogios � carta aberta do jogador. Neymar foi exaltado pelo s�quito, que considerou a atitude nobre. De celebridades a an�nimos, se multiplicaram palavras de apoio ao camisa 10 do Paris Saint-Germain. "Deus � contigo, irm�o", escreveu um dos seguidores.
Nesse universo paralelo, funciona assim. At� quando erram, s�o aplaudidos. � como se eles tivessem atenuantes que os blindassem de qualquer mancha na imagem. Ainda que fa�am algo totalmente conden�vel, s�o defendidos, elogiados at�. A idolatria vira escudo.
Sem a conscientiza��o desse cen�rio, sem um olhar cr�tico sobre ele, situa��es como abusos, agress�es e viol�ncia ser�o cada vez mais normalizadas, romantizadas. E tristes relatos como esses continuar�o, sem que as novas gera��es entendam a real dimens�o do que carregam como espelho.