
O franchising brasileiro entrou em 2025 demonstrando sua resili�ncia e sua for�a como um dos motores mais consistentes da economia nacional. No segundo trimestre, os n�meros divulgados pela Associa��o Brasileira de Franchising revelaram um crescimento nominal de 14,2% em rela��o ao mesmo per�odo do ano anterior, com faturamento de R$ 69,9 bilh�es e a marca de 200,6 mil opera��es em funcionamento em todo o pa�s.
Em um cen�rio macroecon�mico que ainda combina juros elevados, consumo seletivo e incertezas no ambiente global, esse desempenho mostra n�o apenas vigor estat�stico, mas principalmente maturidade de um setor que aprendeu a crescer com qualidade, efici�ncia e inova��o. Mais do que uma estat�stica, o resultado indica que as franquias assumiram um papel estrat�gico de sustenta��o da economia brasileira, ao mesmo tempo em que se tornam refer�ncia internacional em adapta��o, escala e disciplina de gest�o.
A conjuntura econ�mica n�o era a mais favor�vel. A taxa b�sica de juros manteve-se em 15% ao ano, uma barreira que restringe investimentos produtivos e encarece o cr�dito. A confian�a empresarial, em especial na ind�stria e na constru��o civil, mostrou sinais de deteriora��o, enquanto a atividade econ�mica cresceu apenas 0,5% no segundo trimestre, ritmo modesto para as expectativas de recupera��o. No entanto, a infla��o permaneceu sob controle, com o IPCA projetado para fechar o ano abaixo de 5%, e o c�mbio seguiu est�vel, oscilando em torno de R$ 5,60 a R$ 5,70. O fator determinante para sustentar o consumo foi o mercado de trabalho. A taxa de desemprego caiu a 5,8%, o menor n�vel desde o in�cio da s�rie hist�rica em 2012, o que garantiu aumento da massa salarial e trouxe confian�a ao consumidor. Esse conjunto de vari�veis explica, em parte, a capacidade das franquias de avan�arem mesmo sob restri��es de cr�dito. A resili�ncia do emprego e a estabilidade de pre�os forneceram o colch�o necess�rio para que o consumo das fam�lias continuasse girando, e as franquias, com sua capilaridade e credibilidade, capturaram boa parte desse movimento.
Dentro do setor, alguns fatores estruturais se destacaram. O primeiro � a diversifica��o dos formatos de opera��o. Modelos como quiosques, franquias digitais, unidades m�veis e microfranquias ampliaram a presen�a das marcas em cidades m�dias, bairros perif�ricos e at� munic�pios de pequeno porte. Essa versatilidade permite que redes testem mercados com investimentos mais acess�veis e ajustem sua penetra��o conforme a demanda local. O segundo fator � o avan�o tecnol�gico. Ado��o de solu��es de autoatendimento, integra��o digital com consumidores, uso de dados para previs�o de demanda e a introdu��o de tecnologias imersivas em entretenimento e varejo transformaram a experi�ncia do consumidor e aumentaram a produtividade das opera��es. O terceiro fator � o amadurecimento dos franqueados. O crescimento do n�mero de multifranqueados e grupos multimarca indica que os operadores n�o apenas acreditam no modelo, mas conseguem alavancar sua experi�ncia em novas unidades, gerando escala e efici�ncia adicionais para as redes.
No aspecto setorial, o desempenho foi disseminado, mas com destaques claros. O segmento de alimenta��o no varejo, especialmente docerias, chocolaterias e conveni�ncias, registrou crescimento de 44% no trimestre, impulsionado pela sazonalidade da P�scoa, mas tamb�m pela tend�ncia de consumo de produtos de maior valor agregado. O setor de entretenimento e lazer cresceu 15,7%, consolidando a recupera��o p�s-pandemia e incorporando novas experi�ncias digitais e imersivas. Servi�os de limpeza e conserva��o avan�aram 15,4%, reflexo da redu��o na contrata��o de empregados dom�sticos e do aumento da demanda por lavanderias autom�ticas, facilities terceirizados e solu��es de autoatendimento. Sa�de, beleza e bem-estar mantiveram trajet�ria de expans�o s�lida, apoiados pela busca por qualidade de vida, est�tica e preven��o, al�m da diversifica��o de cl�nicas, academias e sal�es em diferentes formatos. A diversidade de setores que apresentaram alta comprova que o franchising n�o depende de um �nico motor de crescimento, mas se sustenta em v�rios pilares, o que aumenta sua resili�ncia em per�odos de oscila��o macroecon�mica.
Geograficamente, a expans�o segue o movimento de interioriza��o. Hoje, 69% dos munic�pios brasileiros j� contam com pelo menos uma opera��o franqueada, e a participa��o de cidades m�dias e pequenas no crescimento tem se ampliado. Capitais e grandes centros continuam relevantes, mas a satura��o em alguns segmentos levou redes a buscar mercados inexplorados no interior. Estados como Pernambuco, Cear� e Bahia despontam no Nordeste, enquanto Minas Gerais se consolida como o quarto maior mercado do pa�s, com faturamento de mais de R$ 23 bilh�es em 2023 e crescimento superior � m�dia nacional. O Sudeste ainda concentra cerca de 55% das opera��es e do faturamento, mas a din�mica regional mostra que o franchising est� se espalhando para al�m de seus polos tradicionais. Esse processo amplia a formaliza��o da economia, gera empregos locais e leva servi�os e produtos de qualidade a �reas antes pouco atendidas.
Outro aspecto relevante � a evolu��o do perfil de franqueados. Dados da ABF indicam que quase 90% das redes j� contam com multifranqueados, e mais de 20% dos franqueados possuem mais de uma unidade. O crescimento dos grupos multimarca mostra que o franchising brasileiro n�o � mais composto apenas por pequenos operadores independentes, mas tamb�m por empres�rios capazes de gerir portf�lios diversificados de marcas, criando verdadeiros conglomerados regionais. Esse fen�meno acelera a expans�o das redes, profissionaliza a gest�o e refor�a a confian�a no modelo. Do lado das franqueadoras, a presen�a de multifranqueados exige um suporte mais sofisticado, mas tamb�m garante parceiros com capital, experi�ncia e capacidade de escalar rapidamente.
As perspectivas para os pr�ximos trimestres s�o positivas. A expectativa de queda da Selic no final de 2025 deve liberar cr�dito e estimular novos investimentos em franquias, al�m de ampliar o consumo em setores de maior valor agregado. O ambiente internacional, com a possibilidade de cortes de juros nos Estados Unidos e a valoriza��o de moedas emergentes, tamb�m pode beneficiar o Brasil, atraindo investimentos e fortalecendo o c�mbio. A previs�o da ABF � de que o setor feche o ano com faturamento pr�ximo de R$ 300 bilh�es, consolidando o franchising brasileiro como um dos maiores do mundo. Mais do que n�meros, esse crescimento representa a consolida��o de um modelo que alia padroniza��o e inova��o, escala e proximidade local, disciplina de gest�o e capacidade de adapta��o cultural.
O franchising brasileiro � hoje um caso de estudo internacional. Poucos pa�ses conseguiram criar um ecossistema t�o amplo, diverso e capilar. A criatividade das marcas, a resili�ncia dos empreendedores e a confian�a do consumidor comp�em uma equa��o rara. A cada novo ciclo, o setor mostra que � capaz de enfrentar crises, absorver transforma��es e seguir crescendo. Esse protagonismo n�o apenas impulsiona a economia interna, mas projeta o Brasil como exportador de conceitos e pr�ticas de franquia. Redes nacionais de alimenta��o, sa�de, beleza e servi�os j� est�o presentes em mercados como Estados Unidos, Europa e Am�rica Latina, mostrando que a inova��o brasileira tem escala global.
Ao observar os dados do segundo trimestre de 2025, a conclus�o inevit�vel � que o franchising se tornou uma das mais relevantes engrenagens da economia brasileira. Ele gera empregos, formaliza neg�cios, estimula o consumo e distribui riqueza por todas as regi�es. Em um pa�s de dimens�es continentais e contrastes sociais marcantes, essa capilaridade � estrat�gica. Mais do que isso, o franchising brasileiro est� mostrando ao mundo que � poss�vel crescer em meio a adversidades, transformando disciplina e inova��o em resultados concretos. Esse � o verdadeiro sentido do que chamo de Franchising 4.0: um modelo que vai al�m da expans�o comercial, posicionando-se como ferramenta de desenvolvimento econ�mico e social de largo alcance.
