
Preso pela Pol�cia Federal, Walter Delgatti Neto, o principal acusado de hackear os telefones do ministro da Justi�a, Sergio Moro e outras autoridades, assumiu em depoimento ser a fonte das mensagens publicadas pelo site Intercept, do jornalista americano radicado no Brasil Glenn Greenwald, e tamb�m pelo jornal Folha de S�o Paulo e pela revista Veja. Delgatti disse que encaminhou o material a Greenwald de modo an�nimo, volunt�rio e sem recompensa financeira. O jornalista confirmou a informa��o “nova e verdadeira”.
A Folha revelou que os contatos do hacker com o americano “foram virtuais, somente pelo aplicativo de conversas Telegram, e ocorreram depois que os ataques aos celulares das autoridades j� tinham sido efetuados”. Mais de mil pessoas tiveram seus celulares invadidos pelos hackers, entre as quais os presidentes da C�mara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), do Superior Tribunal de Justi�a, ministro Jo�o Ot�vio de Noronha, al�m da procuradora-geral da Rep�blica, Raquel Dodge. O ministro S�rgio Moro pretende identificar e comunicar a ocorr�ncia �s centenas de v�timas de invas�es de celulares.
At� celulares do presidente da Rep�blica foram alvo dos hackers presos pela Pol�cia Federal, mas Jair Bolsonaro minimizou o fato, com o argumento de que n�o conversa assuntos sigilosos de Estado pelo celular e n�o tem nada a temer. Furou o bal�o que estava sendo inflado no Pal�cio do Planalto, de que haveria uma conspira��o para desestabilizar o governo e afastar Bolsonaro do poder. J� havia at� quem defendesse o enquadramento dos hackers na Lei de Seguran�a Nacional por ato terrorista, o que seria um grave precedente do ponto de vista institucional. Para esses setores, os quatro hackers presos em S�o Paulo n�o invadiram os celulares de autoridades e at� jornalistas por conta pr�pria, estavam a servi�o de um grupo pol�tico e grandes empresas.
N�o se pode descartar essa possibilidade, porque realmente h� muitos interessados em desmoralizar e/ou contingenciar a Opera��o Lava-Jato e o ministro S�rgio Moro. Mas � precipitado chegar a essa conclus�o sem provas cabais dessas liga��es, inclusive financeiras. Se existirem, � �bvio que a Pol�cia Federal e o juiz federal que comanda as investiga��es far�o a den�ncia formal e os envolvidos ter�o que arcar com as consequ�ncias legais. At� agora, as investiga��es mostram que o grupo atuava de forma organizada e criminosa, e inclusive j� tinha antecedentes criminais, mas essas rela��es n�o foram comprovadas.
Existe um mercado negro de informa��es roubadas pela internet. Hackers s�o contratados para bisbilhotar a vida alheia e vazar informa��es comprometedoras por todo tipo de gente, de marido tra�do a candidatos em dificuldades eleitorais, de velhos estelionat�rios a chantagistas de celebridades. A experi�ncia da Pol�cia Federal nesse campo de investiga��o � grande, disp�e uma equipe altamente especializada, recursos tecnol�gicos e uma gama de crimes cibern�ticos j� elucidados. N�o foi � toa que rapidamente chegou aos quatro envolvidos. Mas trata-se de uma investiga��o criminal e n�o de uma investiga��o pol�tica, esse deve ser o divisor de �guas.
O caso, por�m, tem evidente dimens�o pol�tica, que envolve a revela��o dos m�todos de atua��o da for�a-tarefa da Lava-Jato e a liberdade de imprensa. A mesma investiga��o que prendeu os hackers confirma a veracidade dos conte�dos vazados, de um lado; e mostra uma rela��o perigosa entre os investigados e o jornalista Greenwald, de outro. Uma coisa � revelar informa��es comprometedoras de autoridades preservando o sigilo da fonte, um direito constitucional dos jornalistas; outra, financiar o roubo de informa��es privadas, o que � crime. Essa � a fronteira que n�o pode ser atravessada.
Houve uma evidente ofensiva de setores da oposi��o e do mundo jur�dico contra o uso de m�todos heterodoxos de investiga��o pela for�a tarefa da Opera��o Lava-Jato, assunto que hoje est� na esfera de decis�es do Supremo Tribunal Federal (STF), como � caso do acesso a informa��es do Coaf sem pr�via autoriza��o judicial. O PT e outros partidos de oposi��o tamb�m apostaram no desgaste da Lava-Jato, vislumbrando a anula��o das condena��es do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, com argumento de que as conversas do ent�o juiz federal S�rgio Moro com os procuradores da Lava-Jato desnudaram um processo de persegui��o pol�tica. Agora, por�m, o vento virou com a pris�o dos hackers. Se houve liga��es financeiras entre eles e o PT, teremos outro caso dos aloprados. At� agora, por�m, isso n�o se comprovou.