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Estado de Minas ENTRE LINHAS

Bolsonaro na emboscada ambiental

"O governo deu um cavalo de pau na pol�tica ambiental. O primeiro sinal de que n�o podemos abrir m�o da seguran�a em rela��o ao meio ambiente foi a trag�dia de Brumadinho"


postado em 28/08/2019 04:00

 O uso dos combustíveis fósseis foram a propulsão do progresso, mas geram o aquecimento global(foto: Petrobras/Divulgação)
O uso dos combust�veis f�sseis foram a propuls�o do progresso, mas geram o aquecimento global (foto: Petrobras/Divulga��o)
O presidente Jair Bolsonaro aparenta n�o sentir medo de nada. Sua forma��o de paraquedista, cuja miss�o � combater atr�s das linhas inimigas e improvisar diante das adversidades, parece comandar suas a��es como presidente da Rep�blica. S� n�o sente medo aquele que acredita que nada lhe pode acontecer. “As pessoas n�o acreditam nisso quando est�o, ou pensam estar, no meio de grande prosperidade, e s�o por isso insolentes, desdenhosas e temer�rias”, j� dizia Aristoteles, h� 350 anos antes de Cristo.
 
Inspirado no fil�sofo grego, o falecido f�sico norte-americano Carl Sagan, j� na d�cada de 1980, concluiu que o aquecimento global era uma grande emboscada. Os chamados combust�veis f�sseis – o carv�o, o �leo e o g�s – foram a for�a propulsora do progresso. “A nossa civiliza��o funciona pela queima dos res�duos de criaturas humildes que habitaram a Terra centenas de milh�es de anos antes que os primeiros humanos aparecessem na cena”, dizia, para arrematar: “como num terr�vel culto canibal, subsistimos dos corpos mortos de nossos ancestrais e parentes distantes”. Entretanto, h� um pre�o a pagar.
 
A depend�ncia dessas fontes de energia � uma das principais causas de conflitos e disputas no mundo, sejam as duas guerras mundiais, sejam os atuais conflitos do Oriente M�dio. Por outro lado, a vida depende de um equil�brio delicado de gases invis�veis que comp�em a atmosfera da Terra. A queima de carv�o, petr�leo e g�s natural mistura carbono com oxig�nio, sintetizando o di�xido de carbono (CO2) libera uma energia que estava trancada h� 200 milh�es de anos nas entranhas do globo. Essa queima e a destrui��o de florestas, numa escala cada vez maior, devido a uma s�rie de rea��es qu�micas, aumentam o aquecimento da Terra. Por isso, a quest�o ambiental � um problema global, que exige solu��es locais.
 
Pensar globalmente e agir localmente � um dos fundamentos das pol�ticas p�blicas ambientalistas. Faz todo sentido, porque a atmosfera n�o tem fronteiras, mas as a��es dependem dos estados nacionais. No caso de um pa�s de dimens�es continentais como o Brasil, depende tamb�m dos estados e munic�pios. Cientistas do mundo inteiro acompanham o aquecimento da terra e seus indicadores, entre os quais as emiss�es de carbono e desmatamento, enquanto outros pesquisadores desenvolvem novas tecnologias para reduzir ou substituir a emiss�o de carbono, produzindo energia limpa ou equipamentos que dispensam o carbono para funcionar. O Brasil era um pa�s de vanguarda na luta contra o aquecimento global, apesar de todos os nossos problemas e dificuldades.

Perde-perde
Est�vamos no caminho certo, mas toda pol�tica p�blica pode ser aperfei�oada. Entretanto, o presidente Jair Bolsonaro deu um cavalo de pau na pol�tica ambiental. O primeiro sinal dram�tico das consequ�ncias dessa inflex�o foi a trag�dia de Brumadinho, que j� havia ocorrido em Mariana, ambas em Minas Gerais. Os graves preju�zos ecol�gicos e perdas humanas mostraram a import�ncia das licen�as ambientais e da fiscaliza��o e controle das atividades mineradoras. Agora, os inc�ndios na Amaz�nia – que ocorrem numa escala muito acima do que seria o fen�meno sazonal proveniente da seca –, mostram as consequ�ncias do cavalo de pau na fronteira agr�cola e em regi�es de garimpo na Amaz�nia Legal. Pode o presidente da Rep�blica falar o que bem quiser, os fatos s�o teimosos.
 
Ontem, na reuni�o com governadores da Amaz�nia, foi flagrante a diferen�a de enfoque entre o presidente da Rep�blica, que reiterou seu discurso ideol�gico contra os �ndios, os quilombolas e os ambientalistas, e a preocupa��o dos governadores da regi�o com a objetividade que o problema exige: combater os inc�ndios. Bolsonaro queixa-se do fato de que os pa�ses mais desenvolvidos condicionam a libera��o de recursos a contrapartidas que contrariam seus projetos de explora��o dos recursos minerais da Amaz�nia, como a demarca��o de terras ind�genas e quilombolas e a cria��o de parques nacionais.
 
Bolsonaro tem raz�o em alertar para interesses ocultos no conflito, principalmente quanto �s exporta��es de nossos produtos agr�colas, mas erra ao n�o compreender que as na��es mant�m rela��es de competi��o e coopera��o, simultaneamente. Quando um pa�ses abre m�o da coopera��o, acirra a competi��o.
 
A estrat�gia do presidente Donald Trump em rela��o � China � um bom exemplo de que esse desequil�brio a favor da competi��o pode virar um jogo de perde-perde, ao contr�rio da coopera��o, presidida pela l�gica do ganha-ganha. Carl Sagan dizia que o aquecimento global � uma emboscada para a civiliza��o, o que se confirmou nos �ltimos 30 anos, a ponto de o governo da Indon�sia ter decidido nesta semana mudar a capital para Born�u por causa da progressiva eleva��o do n�vel do mar. No caso do Brasil, a guinada antiambientalista de Bolsonaro, como no prov�rbio b�blico, “arma uma cilada contra o pr�prio sangue”, porque os preju�zos ser�o muito grandes para o nosso agroneg�cio.

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