(none) || (none)

Continue lendo os seus conte�dos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e seguran�a do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/m�s. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas ENTRE LINHAS

Devemos olhar o passado e o futuro, assim como deus Jano


postado em 15/09/2019 04:00 / atualizado em 14/09/2019 17:44

As duas cabeças que representam o deus Jano, simbolizam o passado e o futuro e o dualismo das coisas(foto: Reprodução/Internet)
As duas cabe�as que representam o deus Jano, simbolizam o passado e o futuro e o dualismo das coisas (foto: Reprodu��o/Internet)

O mito romano de Jano (do latim Janus ou Ianus) era representado com duas cabe�as, simbolizando os t�rminos e os come�os, o passado e o futuro, o dualismo relativo de todas as coisas. No seu templo, as portas principais ficavam abertas em tempos de guerra e eram fechadas durante a paz. Era o deus tutelar de todos os come�os, patrono de todos os finais. O principal monumento em sua gl�ria se encontra em Roma, no Museu do Vaticano: o busto Ianus Geminus. N�o � toa, Jano acabou escolhido para representar o primeiro m�s do ano do calend�rio romano (janeiro, do latim januarius), pelo imperador Numa Pomp�lio (715-672 a.C.).

Sua representa��o de caras opostas, uma olha para frente e a outra olha para tr�s, pode ser entendida como se examinasse as quest�es por todos os seus aspectos. O fil�sofo e soci�logo alem�o J�ngen Habermas, um dos expoentes da famosa Escola de Frankfurt e da tradi��o da teoria cr�tica e do pragmatismo, em novembro de 1984, numa palestra no Parlamento espanhol, invocou a imagem de Jano para falar sobre o car�ter inacabado da modernidade. Habermas dedicou sua vida ao estudo da democracia, especialmente por meio de suas teorias do agir comunicativo, da pol�tica deliberativa e da esfera p�blica.

�quela �poca, estudava a crise do Estado de bem-estar social e o esgotamento das energias ut�picas, tema que abordou no seu discurso, intitulado a Nova obscuridade, cujas notas est�o reunidas numa colet�nea de textos publicada com o mesmo nome no Brasil, pela Editora Unesp (2011). Passaram-se quase 35 anos, e desde ent�o suas previs�es se consolidaram em muitos aspectos. De fato, houve uma mudan�a de paradigma da sociedade do trabalho para a sociedade da comunica��o. Essa mudan�a explica muito do que est� acontecendo hoje no Brasil, principalmente na pol�tica.

As utopias

Nas utopias da ordem, entre as quais est�o o velho "socialismo real” comunista e o Estado de bem-estar social-democrata, as dimens�es de felicidade e da emancipa��o se conflu�am com aquelas da intensifica��o do poder e da produ��o de riqueza social. Segundo Habermas, os projetos de forma de vida racionais entravam em uma simbiose ilus�ria com a domina��o racional da natureza e com a mobiliza��o das energias sociais: “A raz�o instrumental desencadeada em for�as produtivas e a raz�o funcionalista desdobrando-se em capacidades de organiza��o e planejamento deveriam abrir caminho para a vida humana digna, igualit�ria e ao mesmo tempo libert�ria”. Essa foi a grande ilus�o da sociedade do trabalho.

A esquerda brasileira sempre pautou sua atua��o na centralidade do trabalho. De certa forma, a elei��o do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva e a chegada do PT ao poder, erroneamente, simbolizaram o coroamento dessa concep��o, mas ela j� estava ultrapassada pela sociedade da comunica��o e a economia do conhecimento. Al�m disso, o transformismo e a degenera��o no poder deixaram de lado essas utopias. A esquerda que n�o se corrompeu disp�e de ferramentas te�ricas para fazer esse diagn�stico, mas n�o consegue, porque � prisioneira de velhos dogmas em rela��o � antiga sociedade industrial e ao valor do trabalho na gera��o de riquezas.

N�o foi � toa que se viu surpreendida nas �ltimas elei��es pelo surgimento de novos atores pol�ticos, com ideias diametralmente opostas, alguns dos quais at� obscurantistas e reacion�rios, mas que souberam ocupar o v�cuo pol�tico criado pela ultrapassagem da sociedade do trabalho e suas formas de representa��o (sindicatos, partidos oper�rios etc.) e operar no �mbito na nova sociedade da comunica��o, numa disputa que se assemelha muito � guerra entre os taxistas e os motoristas do Uber (perd�o pela simpl�ria compara��o). A elei��o do presidente Jair Bolsonaro n�o deixa de ser, no plano da disputa pelo poder, um fen�meno associado a essas mudan�as.

'� preciso defender uma sociedade na qual a comunica��o cotidiana e o discurso da vontade possibilitem uma vida melhor e mais segura, num ambiente de plena liberdade'


A despedida dos conte�dos ut�picos da sociedade do trabalho, por�m, n�o fecha a dimens�o ut�pica da consci�ncia hist�rica e da confronta��o pol�tica, mas exige uma mudan�a de eixo: a centralidade est� na defesa da democracia. Nesse aspecto, � sempre bom lembrar a cr�tica de Hanna Arendt �s ideias centradas no trabalho, porque levaram e ainda levam a solu��es autorit�rias para a sociedade. Segundo ela, a condi��o humana est� relacionada a tr�s atividades fundamentais que caracterizam a vida: “labor” (o processo biol�gico do corpo humano), “trabalho” (a cria��o de objetos e transforma��o da natureza) e “a��o” (a �nica atividade que independe da medi��o da mat�ria e se correlaciona com a condi��o humana da pluralidade). O que determina a condi��o humana � o agir e pensar politicamente, da� a import�ncia vital do espa�o p�blico e das liberdades.

Eis uma chave para olhar o passado e o futuro, como Jano. � preciso defender uma sociedade na qual a comunica��o cotidiana e o discurso da vontade possibilitem uma vida melhor e mais segura, num ambiente de plena liberdade, no qual todos possam dar sua efetiva contribui��o. O "lugar de fala” n�o basta como conte�do ut�pico da sociedade da comunica��o. � por meio da a��o que os homens s�o capazes de demonstrar quem s�o.
 

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)