
Usada � farta no Brasil para caracterizar uma atitude fadada ao fracasso, n�o existe uma explica��o para a exist�ncia da express�o "Foi assim que Napole�o perdeu a guerra", sobre a qual n�o h� refer�ncias em alem�o, franc�s, russo ou ingl�s. Alguns atribuem a express�o aos portugueses, uma esp�cie de vingan�a sarc�stica devido � invas�o de Portugal pelo ex�rcito franc�s e a consequente fuga de d. Jo�o VI e sua corte para o Brasil, em 1808. As especula��es v�o da desastrosa retirada de Napole�o da R�ssia, em 1812, depois da ocupa��o de Moscou, pois a cidade fora evacuada e, depois, incendiada (o ex�rcito russo evitou o confronto aberto e perseguiu as tropas francesas em pleno inverno, at� Paris) a uma suposta crise de hemorr�idas que o impedira de montar durante a Batalha de Waterloo, em 1815, quando foi definitivamente derrotado pelos ingleses.
O chiste lusitano � sob medida para a crise do PSL, cujo �ltimo lance foi a ren�ncia do l�der da bancada na C�mara, deputado Delegado Waldir (GO), e sua substitui��o pelo deputado Eduardo Bolsonaro (SP), filho do presidente da Rep�blica. Jair Bolsonaro se encontra no Jap�o, primeira etapa de sua viagem � �sia, mas de l� monitora a opera��o que levou seu filho � lideran�a do PSL.
Apesar de ter a maior bancada governista da C�mara, com 53 deputados, o PSL nunca foi o partido hegem�nico na Casa, embora seja muito estridente na tribuna e nos apartes, al�m de agitar as redes sociais. Agora, com essa divis�o, corre o risco de ser tornar irrelevante, a n�o ser que haja um acordo interno que apazigue a disputa. Falta � bancada do PSL cultura parlamentar para o entendimento e a composi��o, num ambiente com ritos de conviv�ncia consolidados.
O modus operandi do partido � belicoso e midi�tico. Na primeira crise interna, o que se v� � a divulga��o de grava��es feitas sem autoriza��o, amea�as de den�ncias sobre os podres partid�rios e muito bate-boca pelas redes sociais, �s vezes em linguagem completamente estranha � vida parlamentar, como a guerra de emojis entre a ex-l�der do governo no Congresso Joice Hasselmann (PSL-SP) e o vereador carioca Carlos Bolsonaro (PSL), filho do presidente da Rep�blica, que nem da bancada �.
Decanta��o
A reviravolta de ontem, quando Eduardo Bolsonaro conseguiu finalmente o n�mero de indica��es para se tornar o l�der, n�o encerra a crise, apenas restabelece a lei da gravidade, pois seria um aborto da natureza o presidente da Rep�blica ser derrotado na sua pr�pria bancada, como aconteceu na sexta-feira. Entretanto, � um jogo de perde-perde: se 29 deputados apoiam o novo l�der e 24 s�o contra ele, em certas circunst�ncias, isso reduz o peso da bancada a cinco deputados, principalmente em quest�es interpares. Vamos supor, por exemplo, que a elei��o para a presid�ncia da C�mara fosse hoje.
A confus�o na bancada do PSL faz parte de um processo de decanta��o, ap�s o tsunami eleitoral que renovou a C�mara. Come�a a separar os parlamentares eleitos para brilhar e que se destacam entre as principais lideran�as daqueles que v�o permanecer no baixo clero. Alguns ser�o deputados de um s� mandato. A aposta do cl� Bolsonaro � que os advers�rios internos n�o sobreviver�o sem o apoio do presidente da Rep�blica, porque chegaram ao Congresso na aba do seu chap�u. Al�m disso, ficar�o a p�o e �gua, conforme a narrativa usada para pressionar os rebeldes a apoiarem o novo l�der. Tem l�gica, mas muita �gua ainda vai rolar sob a ponte.
O primeiro ato de Eduardo Bolsonaro foi destituir os 12 vice-l�deres da legenda, cargo importante no funcionamento da C�mara, porque seus ocupantes substituem o l�der nas comiss�es e no plen�rio, al�m de ter direito � partilha dos cargos da lideran�a. O l�der � poderoso quanto ao funcionamento da Casa, pois indica os integrantes das comiss�es e relatores, comanda as negocia��es e intermedeia a ocupa��o de espa�os e libera��o de recursos nos minist�rios.
Para o presidente Bolsonaro, controlar a lideran�a � uma forma de confrontar o poder da c�pula do partido, principalmente do presidente do PSL, deputado Luciano Bivar (PE), com quem entrou em rota de colis�o por causa dos recursos dos fundos partid�rio e eleitoral, que somam mais de R$ 200 milh�es. O papel de l�der, principalmente nos grandes partidos, exige capacidade de di�logo e negocia��o. Esse n�o � forte de Eduardo Bolsonaro, cujo perfil � mais agressivo. Pode ser que estrat�gia de Bolsonaro pai seja mesma essa, porque a agenda econ�mica do governo vai bem sem o PSL. O grande negociador das reformas � o presidente da C�mara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O papel do filho seria fazer um contraponto e demarcar territ�rio.