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Estado de Minas ENTRE LINHAS

Trag�dia em Parais�polis exp�e drama da vida banal

A repress�o policial �s manifesta��es culturais da periferia n�o � eficaz, apenas amplia a base social do crime organizado


postado em 03/12/2019 04:00 / atualizado em 03/12/2019 07:36

Cruz em beco da favela marca protesto contra morte de nove jovens em ação da polícia em baile funk(foto: Miguel Schincariol/AFP)
Cruz em beco da favela marca protesto contra morte de nove jovens em a��o da pol�cia em baile funk (foto: Miguel Schincariol/AFP)

Not�vel ge�grafo, o falecido professor Milton Santos era um observador arguto da vida banal nas periferias do mundo, ou seja, o dia a dia dos cidad�os afetados pela globaliza��o, com suas desigualdades e grande exclus�o. Dedicou a vida a analisar sua �poca, com um olhar cr�tico sobre o atual modelo de rela��es internacionais, constitu�do entre 1980 e 1990, e que est� sendo posto em xeque tanto no centro como nas periferias do mundo.
 
Sua geografia desenvolveu novos conceitos sobre espa�o, lugar, paisagem e regi�o, nos quais o fator humano tem um papel central. Sempre p�s uma lupa no uso pol�tico dos territ�rios para compreender o desenvolvimento. Teria hoje 93 anos se fosse vivo e, com certeza, do alto da pilha dos seus 40 livros publicados e com o prest�gio de doutor honoris causa em mais de 20 universidades do mundo, seria mais uma voz a subir o tom diante da trag�dia deste fim de semana em Parais�polis, a maior favela de S�o Paulo.
 
Dizia que a captura das pol�ticas p�blicas pelos grandes interesses privados acaba por deixar ao relento o cotidiano da popula��o de baixa renda, que se v� obrigada a buscar alternativas de sobreviv�ncia numa esp�cie de beco sem sa�da social, porque esses interesses estavam mais voltados para o lucro do que para os objetivos das pol�ticas urbanas e sociais. Segundo ele, a vida banal � desprezada pelo poder p�blico e, no espa�o urbano onde essa aus�ncia � maior, surgem as solu��es improvisadas, as transgress�es e a economia informal (o g�s, a gambiarra, o gatonet, a prote��o a agiotagem etc.), que muitas vezes acaba capturada pelo crime organizado, que achaca, chantageia e mata, seja ele o tr�fico de drogas ou as mil�cias.
 
O que deseja um cidad�o das periferias? Projetar seu pr�prio futuro, vislumbrar perspectivas dignas da exist�ncia, expressar sua maneira de entender o mundo, seja por meio de cren�as, manifesta��es culturais ou pr�ticas s�cio-pol�ticas. Ter qualidade de vida, viver num ambiente agrad�vel e sustent�vel, provido de �gua, esgoto, energia e meios de comunica��o na medida adequada, com assist�ncia m�dica, acesso � educa��o e � cultura, meios de transporte e um sistema de abastecimento adequado.
 
Agrega-se a isso o acesso ao entretenimento e ao lazer, que tamb�m s�o as aspira��es da maioria dos jovens brasileiros, por�m, para parcela consider�vel deles, principalmente nas periferias, s�o inating�veis. De certa forma, isso se reflete na cultura de periferia, no hip-hop, no funk, nos bailes de charme, no slam e no passinho. Como as pol�ticas p�blicas n�o chegam �s periferias na escala necess�ria, � natural que essas manifesta��es culturais fomentem a economia informal que dela se retroalimenta, do ambulante que vende �gua mineral, cerveja e destilados aos traficantes que distribuem a maconha, a coca�na e o crack para animar a festa, como tamb�m ocorre na maioria das “raves” de classe m�dia, sem que a pol�cia toque o terror.

Economia criativa

Sem ironia, cada territ�rio tem a sua pr�pria “economia criativa". Festas de funk como o Baile da 17, em Parais�polis, no qual nove jovens morreram pisoteados na madrugada deste domingo, ap�s uma a��o da Pol�cia Militar, ocorrem em todas as comunidades de periferia das grandes cidades, principalmente S�o Paulo e Rio de Janeiro. Somente neste ano, foram realizadas 7,5 mil “Opera��es Pancad�o” em S�o Paulo, nas quais foram efetuadas 874 pris�es, 76 apreens�es de adolescentes, apreens�o de 1,8 tonelada de drogas e de 77 armas, de acordo com a corpora��o.
 
Era s� uma quest�o de tempo uma trag�dia como essa acontecer. Ningu�m tem d�vida de que a viol�ncia � um dos principais problemas da nossa vida urbana, mas o endurecimento da pol�tica de seguran�a p�blica e o est�mulo � venda de armas como alternativa de autodefesa para a popula��o n�o s�o uma resposta � altura do problema. Al�m disso, a desconstru��o das pol�ticas p�blicas voltadas para as periferias, principalmente na cultura e na educa��o, contribui para agravar o problema. A repress�o policial �s manifesta��es culturais da periferia n�o � eficaz, apenas amplia a base social do crime organizado. Se fosse, depois de tantas opera��es, n�o existiria mais pancad�o em S�o Paulo. � preciso oferecer aos jovens das periferias alternativas melhores para manifesta��es culturais, entretenimento e lazer. Bombas de g�s lacrimog�nio, spray de pimenta, balas de borracha e muita porrada, como vimos em Parais�polis, s� podem resultar em trag�dias.

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