
O presidente Jair Bolsonaro cancelou mesmo sua ida ao F�rum Econ�mico Mundial, em Davos (21 a 24 deste m�s), por raz�es econ�micas, de seguran�a e pol�ticas, segundo o porta-voz da Presid�ncia, general R�go Barros. Realizado h� 50 anos, o f�rum re�ne chefes de estados, grandes executivos e personalidades, num encontro que procura sempre perscrutar o futuro. Neste ano, as pautas de discuss�o s�o “Economias mais justas”, “Como salvar o planeta?”, “Futuros saud�veis” e “Tecnologias para o bem”. Esses temas t�m algo a ver com a realidade brasileira? Claro que t�m, por�m, “O somat�rio desses aspectos, quando levados � aprecia��o do presidente, lhe permitiu avaliar que n�o seria o caso, neste momento, de participar desse f�rum”, explicou o general, naquele tom marcial que sempre adota em momentos de certo constrangimento.
A experi�ncia de Bolsonaro na reuni�o de Davos do ano passado n�o foi das melhores. Rec�m-eleito, frustrou expectativas generalizadas, seja porque fez uma interven��o lac�nica demais, seja porque sua participa��o no evento, em termos de proje��o do novo governo, foi ofuscada pelo desembara�o do ministro da Economia, Paulo Guedes, que centralizou as aten��es com rela��o �s reformas econ�micas que os investidores de um modo geral esperavam do Brasil. De l� para c�, a sucess�o de declara��es pol�micas, desentendimentos com outros chefes de estado e atitudes do governo, de certa forma, aconselham Bolsonaro a ficar fora do encontro.
Embora possa ser at� conveniente para Bolsonaro, para evitar mais problemas, o isolamento n�o � bom para o Brasil e de certa forma expressa o resultado da nova pol�tica externa sob comando do chanceler Ernesto Araujo. O porta-voz n�o entrou em detalhes, mas uma an�lise da posi��o do Brasil em rela��o a cada tema proposto para os debates em Davos revela claramente as nossas contradi��es quanto ao rumo que as principais lideran�as mundiais desejam, com exce��o de Donald Trump e seus aliados de primeira hora.
Por exemplo, “Economias mais justas”. Todos os diagn�sticos de organismos internacionais e an�lises econ�micas apontam que a globaliza��o, com base em pol�ticas neoliberais, aumentou a concentra��o de renda e as desigualdades. Muitos dos conflitos em curso no mundo ocorrem por essa raz�o, at� em economias que n�o amargam as consequ�ncias do populismo irrespons�vel, como as da Fran�a e do Chile. Mesmo um empres�rio ultra bem-sucedido como Steve Jobs est� preocupado com isso.
O smartphone protagonizou uma revolu��o na economia mundial, como uma matriz global de trocas volunt�rias e cooperativas, que gera prosperidade para todos os seres humanos, por�m, n�o ser� com as pessoas dirigindo o pr�prio carro ou pedalando a bicicleta que os problemas da concentra��o de renda e da desigualdade ser�o resolvidos. Ocorre que a pol�tica econ�mica do governo Bolsonaro n�o est� nem a� para as quest�es sociais. Segue o modelo neoliberal que est� sendo revisto.
Agenda
“Como salvar o planeta?” Esse tamb�m n�o � um tema muito confort�vel para Bolsonaro, na contram�o do Acordo de Paris, embora o Brasil n�o tenha dele se retirado, como fizeram os Estados Unidos. N�o chamem o presidente da Fran�a, Emmanuel Macron, e a jovem ativista ambiental sueca Greta Thunberg para o mesmo jantar. Ambos andaram se digladiando pelas redes sociais, num embate desfavor�vel para Bolsonaro em termos de opini�o p�blica mundial. Mais uma raz�o para n�o ir a Davos.
“Futuros saud�veis”, eis um assunto no qual o Brasil pode se destacar conceitualmente, porque o Sistema �nico de Sa�de (SUS), criado pela Constitui��o de 1988, � um paradigma mundial em termos de assist�ncia universal � sa�de, com resultados impressionantes, em pouco mais de 30 anos. Entretanto, o Brasil vive uma crise de financiamento no setor, porque n�o conseguiu equacionar satisfatoriamente a rela��o entre o sistema p�blico, o setor privado e a �rea dos seguros de sa�de. A pol�tica de Guedes � francamente a favor do fortalecimento da presen�a do sistema financeiro no setor de sa�de. Tamb�m n�o s�o satisfat�rios os indicadores de saneamento, mas o governo tem a seu favor o novo marco regulat�rio para privatiza��o de todo o sistema.
“Tecnologia do bem” � outro tema a ser bordado no encontro. Perd�o pela ironia, no momento, o assunto � muito mais um problema para os demais l�deres mundiais do que para Bolsonaro, principalmente por causa das tens�es entre os Estados Unidos e o Ir�. Smartphones em zonas de guerra s�o um alvo f�cil para os drones norte-americanos teleguiados por sat�lites, por pilotos militares confortavelmente instalados em cont�ineres refrigerados na Calif�rnia. Para Trump, bastou apertar o bot�o do joystick para eliminar o general iraniano Qassem Soleimani.