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Estado de Minas ENTRE LINHAS

Democracia em vertigem � um bom document�rio, mas n�o foi golpe

Petra Costa, diretora do document�rio brasileiro indicado ao Oscar, � cr�tica a Lula, que chegou � Presid�ncia depois de ajustar seu discurso aos interesses das elites, e mostra o envolvimento do PT com corrup��o


postado em 14/01/2020 04:00 / atualizado em 14/01/2020 07:47

Dilma Rousseff foi apeada do poder porque jogou o país em recessão profunda e se relacionou mal com o Congresso(foto: EDÉSIO FERREIRA/EM/D.A. PRESS)
Dilma Rousseff foi apeada do poder porque jogou o pa�s em recess�o profunda e se relacionou mal com o Congresso (foto: ED�SIO FERREIRA/EM/D.A. PRESS)

Indicado para o Oscar de melhor document�rio, Democracia em vertigem, de Petra Costa, � um bom filme, tanto que est� selecionado. Isso n�o significa que o conte�do do filme seja neutro em rela��o aos fatos narrados, nem que discordar ou concordar politicamente com a narrativa da diretora seja o ponto de refer�ncia para sua avalia��o como produto cinematogr�fico pela Academia de Artes e Ci�ncias Cinematogr�ficas de Hollywood. O filme tem uma excelente fotografia, cenas in�ditas do impeachment de Dilma Rousseff e proporciona um olhar retrospectivo sobre a pol�tica brasileira, que anda muito conturbada.

O filme mostra o dia a dia da presidente Dilma Rousseff, que foi apeada do poder por causa dos seus erros e n�o em raz�o de uma suposta conspira��o imperialista. N�o tivesse lan�ado o pa�s numa recess�o profunda e se relacionado t�o mal com o Congresso, o impeachment n�o teria ocorrido. O filme n�o esconde seu olhar particular sobre a pol�tica brasileira: a protagonista cresceu numa fam�lia de esquerda, que sofreu as consequ�ncias de sua op��o pol�tica e ideol�gica durante a ditadura militar. Quando se torna adulta, a jovem acompanha a o processo pol�tico da transi��o � democracia ao governo Lula, um ex-l�der oper�rio que chega ao poder.

Petra Costa � cr�tica em rela��o a Lula, que somente teria chegado � Presid�ncia depois de ajustar seu discurso aos interesses das elites econ�micas do pa�s. Mostra o envolvimento do PT com a corrup��o, a pretexto de se manter no poder e garantir maioria no Congresso. Com a chegada da crise econ�mica internacional ao Brasil, por�m, o pacto perverso do PT para conciliar o apoio popular com os interesses das elites acaba se rompendo. Lula se sustentava num trip�: banqueiros e rentistas; a elite pol�tica protegida pelos grandes empres�rios fornecedores do Estado; e projetos sociais de natureza populista.

A partir desse diagn�stico, o filme construiu a narrativa da derrubada de Dilma Rousseff. Petra Costa injeta no document�rio a paix�o pol�tica que tece a trama hist�rica. De certa forma, entre discursos inflamados, humaniza o processo pol�tico ao se colocar como testemunha ocular da Hist�ria: “Eu e a democracia brasileira temos quase a mesma idade. Eu achava que, nos nossos trinta e poucos anos, estar�amos pisando em terra firme”. O filme � muito contestado porque toma partido de Dilma Roussef e trata seu impeachment como um golpe de estado, o que n�o � verdade. Os setores que foram �s ruas pedir o afastamento da petista criticam o filme desde o lan�amento, com o argumento de que se trata de uma obra de fic��o.

Cen�rio favor�vel


Isso � chorar o leite derramado. Nos governos petistas, houve um intenso trabalho de proje��o da imagem de Lula no plano internacional, seguido da constru��o de uma narrativa pr�pria sobre a destitui��o de Dilma, comparando-a ao golpe de 1964, que implantou o regime militar, e n�o ao afastamento do ex-presidente Collor de Melo, do qual PT foi protagonista, o que inclui Lula e a pr�pria Dilma, o que seria historicamente mais correto. Essa narrativa � hegem�nica na opini�o p�blica internacional, embora n�o o seja em n�vel diplom�tico. Qualquer pessoa razoavelmente informada sabe que o governo de Michel Temer respeitou o Congresso, a liberdade de imprensa, o direito de opini�o e as minorias. Foi um governo democr�tico.

Ocorre que o cen�rio de escolha dos filmes do Oscar, no caso espec�fico de Democracia em vertigem, tem por par�metros a situa��o pol�tica dos Estados Unidos e a imagem do governo Bolsonaro no exterior, que n�o � em nada positiva, principalmente na �tica dos direitos humanos, das minorias, do meio ambiente e da paz. O contexto influencia as escolhas da Academia. Democracia em vertigem foi selecionado ao lado dos document�rios American Factory, The cave, For Sama e Honeyland. O fato de ser uma produ��o da Netflix, lan�ado em 2019, tamb�m pesou na balan�a, porque foi distribu�do para mais de 150 pa�ses e teve campanha publicit�ria nos Estados Unidos.

Com 96% de aprova��o entre os cr�ticos mais influentes, o filme � aclamado desde a estreia no Festival de Sundance, em janeiro de 2019. Chamou a aten��o da cr�tica e da imprensa especializada pelo circuito de festivais nos quais foi exibido. Isso significa que o trof�u est� garantido? Longe disso, h� fortes concorrentes, entre os quais American Factory, produzido pelo casal Barack e Michele Obama. Al�m disso, outro filme brasileiro concorre ao Oscar em duas outras categorias, melhor ator e melhor roteiro adaptado: Dois Papas, de Fernando Meirelles, tamb�m produzido pela Netflix.

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