Com uma receita operacional que gira em torno de R$ 80 bilh�es – envolvendo a distribui��o de combust�veis em mais de 7,5 mil postos – e um lucro l�quido acima de R$ 3,2 bilh�es entre 2013 e 2014, a BR Distribuidora � um alvo cobi�ado por partidos pol�ticos. Assumir sua presid�ncia ou mesmo uma de suas quatro diretorias representa um passo importante para conquistar poder e influ�ncia em todas as regi�es do Brasil. Os quatro diretores e o presidente t�m em suas canetas o poder para indicar cerca de 1 mil nomes para trabalhar na empresa sem a necessidade de concurso p�blico. A den�ncia do procurador-geral da Rep�blica, Rodrigo Janot, que veio � tona na semana passada e est� sob an�lise do ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), passa a limpo como funcionou o esquema de nomea��es com interesses pol�ticos e financeiros que tomou conta da empresa.
Desde o segundo mandato do governo Luiz In�cio Lula da Silva (PT), o senador Fernando Collor passou a integrar a base aliada do governo federal. Em 2010, ap�s ser derrotado na disputa pelo governo de Alagoas em primeiro turno, o ex-presidente declarou apoio ao ex-governador Ronaldo Lessa (PDT) no segundo turno – que disputava com Teot�nio Vilela Filho (PSDB) – e � presidente Dilma Rousseff (PT). “N�o se esque�am, o voto � Dilma para presidente e Lessa para governador, para recuperarmos a esperan�a de futuro”, disse Collor durante a campanha eleitoral. A aproxima��o do alagoano com o Planalto gerou insatisfa��o dentro do PT, mas as cr�ticas foram controladas.
Menos de um ano antes, em 2009, Collor e seu partido, PTB, apoiariam pela primeira vez nomes para a BR Distribuidora. Foram indicados Luiz Cl�udio Caseira Sanches, para a Diretoria de Rede de Postos e Servi�os, e Jos� Zonis, para a Diretoria de Opera��es e Log�stica. A nomea��o de pessoas ligadas ao ex-presidente Collor foi motivo de ataques durante a disputa eleitoral de 2010, com o candidato Jos� Serra (PSDB) criticando a postura do PT de entregar cargos para um pol�tico destitu�do do Planalto “por atos de corrup��o”.
Os dois primeiros nomes indicados por Collor para a distribuidora foram alvo da Opera��o Politeia, desdobramento da Lava-jato, em julho do ano passado, e afastados do quadro de funcion�rios da empresa. Os envolvidos foram citados em dela��es do empreiteiro dono da UTC, Ricardo Pessoa, e do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa como integrantes de um esquema de pagamentos de propinas acima de R$ 20 milh�es. Antes, em 2013, Zonis e Sanches j� tinham sido destitu�dos das diretorias, mas foram substitu�dos por outros nomes indicados tamb�m por Collor e pelo PTB: Luis Alves de Lima Filho, na Rede de Postos e Servi�os, e Vilson Reichemback Silva, para Opera��es e Log�stica.
Os novos indicados tamb�m foram alvo de investiga��es da Pol�cia Federal (PF) e deixaram os cargos de diretores da BR Distribuidora em 2015. Al�m de Reichemback e Alves de Lima, o diretor de Mercado Consumidor, Andurte de Barros Duarte, aparece na lista de envolvidos delatados pelos operadores do esquema como benefici�rios das propinas. Andurte teria sido uma indica��o da bancada do PT na C�mara, sendo apoiado pelo deputado C�ndido Vacarezza (PT).
O �ltimo nome ligado ao ex-presidente Collor a deixar a BR Distribuidora foi Jos� Lima de Andrade Neto, que ocupou o principal cargo da empresa por seis anos – desde agosto de 2009 at� setembro de 2015. Na �poca, ele foi indicado com o apoio do ent�o ministro de Minas e Energia, Edison Lob�o (PMDB). Ao renunciar � presid�ncia da distribuidora, em setembro, Andrade Neto apresentou como justificativa motivos de sa�de. Segundo levantamento do jornal O Estado de S. Paulo, Andrade Neto se encontrou com Collor em seu gabinete no Senado por cinco vezes desde que assumiu a presid�ncia da BR.
‘ORGANIZA��O CRIMINOSA’ Segundo a den�ncia da Procuradoria-Geral da Rep�blica (PGR), entre 2010 e 2014, foi criada “uma organiza��o criminosa preordenada principalmente ao desvio de recursos p�blicos em proveito particular”. O documento integra uma pe�a protocolada no STF contra o deputado federal Vander Loubet (PT-MS), acusado de lavagem de dinheiro e corrup��o no esquema investigado pela Lava-Jato. Apesar de Lula n�o ser alvo da investiga��o, Janot aponta que o ex-presidente deu poder a Collor na BR Distribuidora.
Procurada pela reportagem para comentar as den�ncias do procurador-geral, a assessoria do senador Fernando Collor n�o retornou. Segundo a assessoria do PTB, que tamb�m n�o quis se manifestar sobre as den�ncias, a equipe do senador est� de f�rias. A lideran�a do PT na C�mara dos Deputados tamb�m n�o se posicionou sobre as acusa��es de Rodrigo Janot e afirmou que n�o vai se manifestar sobre o assunto por enquanto. O Instituto Lula divulgou nota afirmando que as den�ncias envolvendo o ex-presidente j� foram esclarecidas em depoimento � PF, em dezembro.