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Estado de Minas GERA��O AMEA�ADA

'Imagine estar �s v�speras de dar � luz e descobrir que as crian�as est�o nascendo com problemas'

Em Pernambuco, m�es aguardam respostas sobre o destino de seus beb�s nascidos no surto de microcefalia. J� s�o 1.236 casos suspeitos e 103 confirmados, situa��o que apavora as fam�lias e os especialistas


postado em 17/01/2016 10:00 / atualizado em 17/01/2016 21:14

Carolina Cotta
Enviada especial


Perímetro cefálico abaixo de 32 cm é indicativo de microcefalia(foto: João Carlos Lacerda/Divulgação FAV)
Per�metro cef�lico abaixo de 32 cm � indicativo de microcefalia (foto: Jo�o Carlos Lacerda/Divulga��o FAV)

Recife – M�es ansiosas, com seus beb�s quase sempre envoltos em mantas, com enormes la�os de fita e gorros no t�rrido calor, enchem os hospitais pernambucanos envolvidos no diagn�stico de microcefalia. Os olhares desconfiados surgem de todos os lados. Quem est� ali por outro motivo quer matar a curiosidade e confirmar se est� diante de um dos 1.236 casos que transformaram Pernambuco nos quatro �ltimos meses. Quem carrega um desses beb�s no colo tamb�m “corre o olho” no do lado. Perceber que n�o est�o sozinhas traz um certo conforto para essas m�es. Nada de pais. Quase sempre elas est�o acompanhadas das pr�prias m�es, av�s, tias e irm�s.

Na manh� da �ltima quinta-feira, a sala de espera do Departamento de Infectologia Pedi�trica do Hospital Universit�rio Oswaldo Cruz (Huoc), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), era uma reuni�o de mulheres desconfiadas. E tristes. � l�, e no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip) e no Hospital Bar�o de Lucena – os tr�s hospitais de refer�ncia onde podem ser confirmados os casos suspeitos da Regi�o Metropolitana do Recife –, que o surto de microcefalia mostra seu lado mais cruel. De repente, uma anomalia que atingia cerca de uma dezena de casos por ano em todo o estado parece uma condi��o comum.

“N�o sei o que vai ser da minha filha. Espero que ela seja uma crian�a normal, mas se ela tiver qualquer coisa vamos am�-la do mesmo jeito.” A incerteza de Juliana Pontes Souza, de 20 anos, acompanha a de outras m�es de beb�s diagnosticados ou com suspeita de microcefalia em Pernambuco. A fam�lia de Laura, que nasceu com o cr�nio medindo 21 cent�metros, pouco sabe sobre a microcefalia e sua evolu��o. Apesar da condi��o ser descrita na medicina h�  anos, esta � a primeira vez que a anomalia cong�nita tem tantos diagn�sticos, e pelo que tudo indica, por um v�rus novo e sobre o qual pouco se sabe.

O desconhecimento n�o justifica, entretanto, as derrapadas do Minist�rio da Sa�de. E do titular da pasta, que semana passada deu uma declara��o infeliz enquanto anunciava o investimento em pesquisas para uma vacina contra o zika v�rus. Marcelo Castro disse que n�o seria poss�vel vacinar 200 milh�es de brasileiros e que a estrat�gia se concentraria em pessoas em per�odo f�rtil. E completou dizendo que torceria para que essas pegassem zika antes, pois, assim, ficariam imunizadas pelo pr�prio mosquito. Mesmo reconhecendo como �gil o enfrentamento do minist�rio, especialistas criticam a r�pida associa��o do surto com o v�rus zika. Apesar das evid�ncias serem muito fortes, ainda n�o h� comprova��o cient�fica. Tudo ainda � uma suspeita. Uma suspeita forte.

Certo � que, no Pernambuco de hoje, temem-se duas coisas: tubar�o e Aedes aegypti. Mas quem n�o est� no mar curte a brisa com pernas e bra�os de fora. O surto de microcefalia atribu�do, pelo Minist�rio da Sa�de, ao v�rus zika, est� na boca do povo, mas ainda n�o foi capaz de mudar os h�bitos da popula��o. “O turista mal pergunta, mas quem � daqui n�o fala em outra coisa. Reclama das consequ�ncias da dengue, da chikungunya e agora do zika. As fam�lias est�o com medo de ter entre elas um caso de microcefalia, mas n�o mudaram muita coisa por causa disso”, diz o  taxista Leandro Gomes.

As praias de Boa Viagem e Porto de Galinhas est�o lotadas. Segundo a Empresa de Turismo de Pernambuco (Empetur), as not�cias sobre os casos de microcefalia n�o alteraram a expectativa de reservas para o ver�o; mas, claro, muitas gr�vidas deixaram de desembarcar na capital pernambucana, que notificou os primeiros casos de microcefalia, em outubro, e lidera em n�mero de casos suspeitos.

A recepcionista Rosana Vieira encontra forças para enfrentar a condição da filha Luana com serenidade(foto: Carolina Cotta/EM/D. A Press)
A recepcionista Rosana Vieira encontra for�as para enfrentar a condi��o da filha Luana com serenidade (foto: Carolina Cotta/EM/D. A Press)


REVOLTA E ACEITA��O
A recepcionista Rosana Vieira Alves da Silva, de 25 anos, � uma das m�es dessa gera��o especial. Com as filhas Vit�ria Evillen, de 7, Layane Sophia, de 2, e Luana, de 3 meses, aguardava a coleta de uma amostra de sangue da rec�m-nascida, diagnosticada com microcefalia, com uma express�o bem mais leve que a das outras m�es ao seu lado. Luana tamb�m � um caso diferente, porque, apesar de nascida no meio do surto, teve um exame positivo para toxoplasmose e a m�e n�o relata sintomas de zika na gesta��o. Mas saber a causa � o que menos importa agora. A experi�ncia como m�e lhe permite enfrentar a condi��o de Luana com mais serenidade.

“Quando me falaram que ela tinha a cabe�a no limite do que poderia ter, fiquei doida. S� soube que algo estava errado quando ela nasceu. Amo-a demais. Fico vendo essas m�es chorando e penso que a Luana, pra mim, � s� alegria”, comentou. A microcefalia de Luana � muito sutil, quase impercept�vel, mas as consequ�ncias come�aram a aparecer. “Meu marido achou que era algo simples e que iria se resolver. Mas ela come�ou a ter crises epil�ticas e ele se assustou.”

O jeito como Rosana curte sua filha � uma exce��o. A maioria das m�es n�o consegue conter as l�grimas � primeira pergunta. Carla Fernanda Reis da Silva, de 30 anos, com a pequenina Luane no colo, ainda aguarda o resultado da tomografia para ter o caso confirmado. Mas a cabecinha da filha � t�o pequena que n�o sobram esperan�as. A menina nasceu, dois meses atr�s, com per�metro cef�lico de 29,5cm. Carla n�o lembra de ter tido sintomas de zika na gravidez. Aos oito meses de gesta��o, ficou apavorada com o notici�rio sobre a microcefalia. Semanas depois, aquilo se tornou sua realidade.

“Imagine o que � estar �s v�speras de dar � luz e descobrir que as crian�as est�o nascendo com problemas. Quase fechando nove meses, fiz um ultrassom. A m�dica me alertou que ela tinha a cabe�a pequena. Fiquei p�ssima. Sem comer, sem dormir. S� chorava. Tenho tristeza, raiva. Esperei tanto por essa filha... mas ela � especial”, lamenta a m�e, ainda longe da aceita��o. Algumas desistem. Uma crian�a com microcefalia foi deixada em um abrigo no Recife. Outra foi rejeitada pela m�e, mas est� sendo criada pelas tias.

Kits para gr�vidas

O teste para identificar simultaneamente dengue, zika e chikungunya ser� disponibilizado prioritariamente para mulheres gr�vidas, afirmou ontem, no Rio, o ministro da Sa�de, Marcelo Castro. Um dia ap�s a confirma��o das tr�s primeiras mortes por chikungunya no pa�s, o ministro apresentou na Funda��o Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) o novo kit de diagn�stico desenvolvido pela institui��o. Atualmente � necess�rio realizar os tr�s exames separadamente. At� o fim do ano, o minist�rio vai encomendar 500 mil kits. Durante a divulga��o do kit, o vice-diretor de Desenvolvimento Tecnol�gico do Instituto Carlos Chagas, Marco Krieger, explicou que a leitura da an�lise sair� em duas ou tr�s horas.


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