
O Intercept, em 2019, publicou conversas atribu�das ao ministro Moro, ent�o juiz federal, e a procuradores da Opera��o Lava-Jato. Green revelou que Moro orientou a��es e cobrou novas opera��es dos procuradores; para o jornalista do Intercept, demonstrou parcialidade em sua atua��o como juiz. Agora, o Minist�rio P�blico afirma que Glenn “auxiliou, orientou e incentivou” o grupo de hackers suspeito de ter invadido os celulares de autoridades durante o per�odo em que os delitos foram cometidos, apesar de o relat�rio da Pol�cia Federal, em dezembro passado, concluir que “n�o � poss�vel identificar a participa��o moral e material” do jornalista nos crimes.
O delegado da Pol�cia Federal Lu�s Fl�vio Zampronha, respons�vel pelo inqu�rito, fez seu relat�rio com base nos di�logos interceptados. Glenn � citado e participa de algumas conversas, mas n�o houve base para indici�-lo: “n�o � poss�vel identificar a participa��o moral e material do jornalista Glenn Greenwald nos crimes”. O delegado explicou tamb�m que a jurisprud�ncia do Superior Tribunal de Justi�a, para a configura��o do tipo penal, exige que o objeto material do crime deve possuir valor econ�mico intr�nseco, o que n�o foi o caso.
Entretanto, o Minist�rio P�blico jogou pesado contra Glenn, com base no di�logo entre o jornalista e o hacker Luiz Henrique Moli��o, ap�s a divulga��o da informa��o de que o celular do ministro da Justi�a, Sergio Moro, havia sido invadido. Moli��o ligou para Glenn para saber o que deveria fazer com os arquivos das conversas interceptadas. Segundo a den�ncia, Glenn “sabia que o grupo n�o havia encerrado a atividade criminosa e permanecia realizando condutas de invas�es de dispositivos inform�ticos e o monitoramento ilegal de comunica��es e buscou criar uma narrativa de 'prote��o � fonte' que incentivou a continuidade delitiva”. O jornalista teria sugerido ao acusado apagar mensagens que pudesse envolv�-lo no caso: “Pra voc�s, n�s j� salvamos todos, n�s j� recebemos todos. Eu acho que n�o tem nenhum prop�sito, nenhum motivo para voc�s manter nada, entendeu?”
Blindagem
Como se sabe, a divulga��o dos di�logos dos integrantes da for�a-tarefa da Opera��o Lava-Jato criou grande pol�mica sobre a parcialidade de Moro e os m�todos heterodoxos de atua��o da for�a-tarefa da Lava-Jato, cujos integrantes reagiram ao que caracterizaram como uma tentativa de proteger os envolvidos em crimes de colarinho branco. A pol�mica chegou aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que se digladiam em torno de quest�es como o princ�pio da presun��o da inoc�ncia e o tr�nsito em julgado. Por isso mesmo, a den�ncia contra Glenn blinda a for�a-tarefa contra os questionamentos da oposi��o e da imprensa sobre os m�todos utilizados por seus integrantes.
A Lava-Jato inspirou a s�rie da Netflix O mecanismo, de Jos� Padilha, cujo roteiro foi baseado no livro do jornalista Vladimir Neto sobre os bastidores da opera��o e escandalizou os meios pol�ticos e a pr�pria magistratura. De certa forma, lembra tamb�m a atua��o do grupo de investigadores criado nos Estados Unidos para combater a M�fia italiana. O investigador dur�o Eliot Ness (Kevin Costner) usa de todos os meios para prender Al Capone (Robert De Niro), poderoso chef�o do complexo sistema de contrabando de �lcool na �poca da Lei Seca. Dirigido por Brian De Palma, Os Intoc�veis mostra a corrup��o no pr�prio departamento de pol�cia e no sistema judici�rio dos Estados Unidos.
A den�ncia contra Glenn tamb�m suscita um debate sobre a liberdade de imprensa, pois estabelece um novo paradigma para as reportagens investigativas, que quase sempre se baseiam em vazamentos de informa��es, muitas vezes por parte de delegados e de procuradores. Entretanto, n�o � uma quest�o de f�cil abordagem judicial, em raz�o das mudan�as em curso no mundo da comunica��o, com o surgimento de novas m�dias, como o The Intercept, no mundo da internet, povoado de fake news. Entretanto, a liberdade de imprensa continua sendo um dos pilares do Estado democr�tico de direito.