
No rumo em que vai, o governo Bolsonaro n�o tem chance de dar certo, isso n�o significa que o impeachment do presidente da Rep�blica venha a ocorrer. O problema � que as vari�veis de sucesso conspiram para que as coisas d�em errado. A primeira delas � o conceito de governo. Bolsonaro fez op��o por um governo de colis�o com os demais poderes e esferas de poder, anda �s turras com o Congresso e o Supremo, os governadores e os prefeitos. No lugar do presidencialismo de coaliz�o, optou por uma estrat�gia de centraliza��o de poder e confronto. Montou um time de militares para operar a administra��o, mas n�o deixa que os generais do Pal�cio do Planalto fa�am uma pol�tica de concilia��o a la Duque de Caxias. Seu estilo est� mais para Gast�o de Orl�ans, o Conde d’Eu.
Governan�a e governabilidade caminham de m�os dadas, Bolsonaro cria instabilidade pol�tica permanentemente, for�a os limites do regime democr�tico. A segunda vari�vel de sucesso seria um m�todo adequado de governan�a. Aparentemente, � um assunto com o qual n�o se preocupa. Confronta permanentemente a elite do servi�o p�blico, desestabiliza at� as atividades-fins, como aconteceu com a Sa�de, num momento decisivo para achatamento da curva da epidemia de coronav�rus.
Se tivesse colado no ent�o ministro da Sa�de, Luiz Henrique Mandetta, estaria usufruindo dos mesmos �ndices de popularidade que o auxiliar ostentava, mas errou feio. E continua errando, embora aparentemente tenha ca�do a ficha para o novo ministro da Sa�de, Nelson Teich, de que neste momento � loucura relaxar a pol�tica de isolamento social.
No mesmo caso se enquadra a ruptura com o ex-ministro Sergio Moro, que saiu do governo acusando o presidente da Rep�blica de interfer�ncias indevidas na Pol�cia Federal. O depoimento de Moro no inqu�rito que investiga o caso, divulgado ontem, frustrou a oposi��o, que esperava den�ncias mais contundentes do que aquelas que j� havia feito. O problema de Moro � que a maioria de suas afirma��es depende de confirma��o do estado-maior do governo.
Embora todo ocupante de cargo po�blico tenha compromisso com a verdade, nada garante que os generais Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo); Augusto Heleno (Gabinete de Seguran�a Institucional) e Walter Braga Netto (Casa Civil), ao interpretar os fatos, corroborem as acusa��es de Moro; resta saber o que dir�o os delegados da Pol�cia Federal (PF) Ricardo Saadi, Carlos Henrique de Oliveira Sousa, Alexandre Saraiva, Rodrigo Teixeira, Maur�cio Valeixo e Alexandre Ramagem.
Moro n�o conta com a solidariedade pol�tica do Minist�rio P�blico Federal (MPF) e do Supremo Tribunal Federal (STF), que v�o investigar o caso numa linha de pondera��o e equil�brio. N�o pretendem ser protagonistas, no momento atual, de uma crise institucional. No depoimento de Moro, al�m das acusa��es contra Bolsonaro, tamb�m h� contradi��es e lacunas que podem ser usadas contra o ex-juiz.
Apesar de contar com grande prest�gio na opini�o p�blica, Moro agora enfrenta uma guerra nas redes sociais, para a qual n�o estava preparado. Continua sendo um nome fort�ssimo para a disputa da Presid�ncia em 2022, mas ter� que atravessar o deserto sem camelo, se digladiando com os inimigos declarados e ocultos que amealhou ao longo de sua atua��o, inclusive nos tribunais. O caso Moro, por�m, tira de Bolsonaro a bandeira da �tica.
Novo cen�rio
A terceira vari�vel do sucesso � a constru��o de um ambiente favor�vel para o governo. Imposs�vel isso ocorrer a curto prazo. No plano mais objetivo, a pandemia de coronav�rus e a recess�o mundial modificaram completamente as circunst�ncias nas quais Bolsonaro governa. Um governante que chegou ao poder mais pela sorte do que pelas virtudes tem grandes dificuldades de lidar com mudan�as de envergadura. � o caso de Bolsonaro. Aves podem fazer coisas como mergulhar e falar, mas n�o podem dar leite. � assim que a economia funciona.
No cen�rio de desestrutura��o das atividades econ�micas por causa da epidemia, a pol�tica econ�mica ultra-liberal do ministro Paulo Guedes foi para o espa�o; n�o pode ser implementada sem um custo social muito alto no imediato p�s-epidemia. Essa � uma contradi��o com a qual Bolsonaro n�o contava. No mundo inteiro, se discute o que ser� o “novo normal” na vida social e econ�mica. N�o � poss�vel, simplesmente, voltar ao que se fazia antes, como imagina.
O ambiente pol�tico tamb�m mudou muito, embora o governo venha fazendo um esfor�o para aumentar seu cacife no Congresso. A aproxima��o de Bolsonaro com os partidos do chamado Centr�o blindar� o governo diante das tentativas de impeachment da oposi��o, mas isso n�o melhora seu desempenho administrativo, que deixa muito a desejar, nem garante a hegemonia no Congresso, al�m de afastar setores da opini�o p�blica que identificados com Moro.
Al�m disso, o estresse institucional criado por Bolsonaro atrapalha as negocia��es pol�ticas. Tanto o Congresso como o Supremo, ao contr�rio do que o presidente da Rep�blica se queixa, v�m atuando no sentido de colaborar com o governo no enfrentamento da crise provocada pela pandemia. Nesse aspecto, deveria at� agradecer, em vez de tanto reclamar.
