
O chamado “gabinete do �dio”, grupo de funcion�rios da Secretaria de Comunica��o da Presid�ncia da Rep�blica que opera o jogo bruto do presidente Jair Bolsonaro, seus filhos e principais apoiadores nas redes sociais, foi praticamente desmantelado no Facebook, que cancelou 35 contas, 14 p�ginas e 1 grupo; e no Instagram, no qual eliminou 38 contas. O grupo reunia aproximadamente 350 pessoas, que eram seguidas por 883 mil bolsonaristas no Facebook, e 917 mil no Instagram. O Facebook revelou que as contas canceladas estavam envolvidas com a cria��o de perfis falsos e “comportamento inaut�ntico”, ou seja, enganavam os demais usu�rios sobre quem eram e o que faziam nas redes sociais. Foram gastos US$ 1,5 mil em an�ncios por essas p�ginas, pagos em reais.
Segundo a empresa, foi poss�vel identificar as liga��es dessas pessoas com funcion�rios dos gabinetes do presidente Jair Bolsonaro, do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), do senador Fl�vio Bolsonaro (Republicanos -RJ) e tamb�m dos deputados estaduais Anderson Moraes e Alana Passos, do PSL no Rio de Janeiro. “A atividade incluiu a cria��o de pessoas fict�cias fingindo ser rep�rteres, publica��o de conte�do e gerenciamento de p�ginas fingindo ser ve�culos de not�cias", diz o Facebook. A empresa se antecipou �s conclus�es do inqu�rito presidido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que investiga amea�as � corte e aos ministros que a integram, e tamb�m da CPMI das Fake News, cujo relator, deputado Angelo Coronel (PSDD-BA), comemorou a decis�o.
O grupo usava uma combina��o de contas duplicadas e contas falsas para evitar a aplica��o de pol�ticas de combate ao conte�do de �dio e perfis falsos. N�o houve divulga��o das contas, mas entre elas est�o os perfis "Jogo Pol�tico" e "Bolsonaro News", no Facebook. Nos Estados Unidos e na Europa, est� havendo uma forte rea��o � utiliza��o das redes sociais para manipular as elei��es, como aconteceu nas elei��es de 2016, que elegeram Donald Trump. O Congresso norte-americano investigou a suposta interfer�ncia da R�ssia naquelas elei��es, em favor de Trump, e convocou o presidente do Facebook, Mark Zuckerberg, para explicar o caso da Cambridge Analytica, que teria utilizado informa��es sigilosas dos usu�rios das redes para manipular as elei��es e recebeu uma multa de US$ 5 bilh�es da Free Trade Comission (comiss�o reguladora dos Estados Unidos), por vazamento de dados.
Mais controle
Para evitar complica��es judiciais, o Facebook e o Twitter, desde ent�o, resolveram adotar novos procedimentos. No final do ano passado, o presidente e fundador do Twitter, Jack Dorsey, baniu an�ncios pol�ticos da rede social. O presidente e fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, por�m, manteve os an�ncios. Twitter e Facebook t�m nos an�ncios ou posts patrocinados mais de 80% de suas receitas.
Impulsionamentos fazem com que uma postagem chegue a mais pessoas. O anunciante consegue delimitar seu p�blico por idade, regi�o, interesses. Com isso, os pol�ticos alcan�am p�blicos espec�ficos e formam bolhas de seguidores. Bolsonaro estruturou sua campanha fazendo isso com efici�ncia, mas sempre jogando pesado contra os advers�rios. A rede de perfis falsos e rob�s desmantelada ontem servia para isso. O modelo era o mesmo da campanha de Trump: fake news.
Em 2016, o portal Breitbart espalhou not�cias falsas sobre a candidata democrata Hillary Clinton. O homem forte do Breitbart era Steve Bannon, que foi chefe de campanha de Trump. Aqui no Brasil, nas elei��es de 2018, ele tamb�m foi o estrategista de Bolsonaro nas redes sociais. Entretanto, o principal canal utilizado foi o WhatsApp. Os disparos em massa patrocinados por empres�rios fizeram a diferen�a. Pesquisadores da Universidade de S�o Paulo e da Universidade Federal de Minas Gerais, em parceria com a Ag�ncia Lupa, analisaram mais de 300 grupos de WhatsApp sobre pol�tica e constataram que 56% das imagens compartilhadas eram falsas ou enganosas.
Ontem, o Facebook revelou que os conte�dos publicados nas contas canceladas no Brasil eram sobre not�cias e eventos locais, incluindo pol�tica e elei��es, memes pol�ticos, cr�ticas � oposi��o, organiza��es de m�dia e jornalistas, e sobre a pandemia de coronav�rus. O Facebook tamb�m removeu contas nos Estados Unidos e na Ucr�nia, que miravam audi�ncias internas. No Canad� e no Equador foram canceladas contas que operavam em outros pa�ses: El Salvador, Argentina, Uruguai, Venezuela, Equador e Chile.