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Estado de Minas Entre Linhas

Bolsonaro n�o manifestou sincero pesar pela mortandade da COVID-19

No Dia de Finados, todos os mortos ser�o lembrados, mas as v�timas da pandemia s�o como corpos insepultos ou enterrados em cova rasa, cujo luto � diferenciado


01/11/2020 04:00 - atualizado 01/11/2020 06:27

Negacionismo de Bolsonaro e Hamilton Mourão pode custar muito caro ao governo(foto: ED ALVES/CB/D.A.PRESS - 7/1/19)
Negacionismo de Bolsonaro e Hamilton Mour�o pode custar muito caro ao governo (foto: ED ALVES/CB/D.A.PRESS - 7/1/19)
Uma das singularidades da pandemia do novo coronav�rus no Brasil — que chega aos 160 mil mortos e 5,5 milh�es de infectados — � a sua naturaliza��o pelo presidente Jair Bolsonaro, que sempre combateu as medidas de isolamento social adotadas por prefeitos e governadores e tratou-a como uma “gripezinha”.

A aposta do presidente da Rep�blica era de que ambos arcariam com as consequ�ncias negativas do impacto econ�mico da crise sanit�ria e ele, desafiando o v�rus mort�fero, se beneficiaria do auxilio emergencial aprovado pelo Congresso — cinco parcelas de R$ 600, de abril a agosto, e quatro de R$ 300, de setembro at� dezembro e que o governo distribuiu a mais de 60 milh�es de pessoa. O governo gastou at� setembro R$ 411 bilh�es com a pandemia, dos quais R$ 213 bilh�es com o aux�lio.

Acontece que essas despesas foram feitas como quem faz uma grande compra de consumo imediato com cart�o de cr�dito, ou seja, a conta um dia vai chegar. E est� chegando com a d�vida p�blica j� equivalente a 90% do PIB e uma taxa de desemprego de 13,8%, que deve aumentar, porque a procura por emprego, com a redu��o do aux�lio emergencial, aumentar�.

Os reflexos pol�ticos do agravamento da crise social s�o imediatos. Da mesma forma como a popularidade de Bolsonaro subiu com o aux�lio emergencial, agora amea�a declinar nos grandes centros, com impacto eleitoral nos candidatos que o presidente da Rep�blica apoia em S�o Paulo, onde Celso Russomano (Republicanos) est� derretendo, e no Rio de Janeiro, cujo prefeitoMarcelo Crivela (Republicanos), candidato � reelei��o, � amplamente rejeitado pelos eleitores. Bolsonaro j� come�a a se distanciar de ambos.

Nosso presidente da Rep�blica � um personagem complexo da pol�tica brasileira — embora adote solu��es simples e erradas para problemas complicados —, foge aos paradigmas do politicamente correto e desenvolve v�nculos com parcelas da popula��o que somente a antropologia explica. Mas n�o tem como fugir de uma realidade social impactada pelos efeitos psicol�gicos da pandemia na vida das pessoas, em particular o luto dos amigos e familiares das v�timas de COVID-19, que n�o tem nenhum paralelo com o de outras causas mortis, inclusive porque o rito de passagem de seus funerais foi profundamente afetado pela aus�ncia de vel�rios e os caix�es fechados.

Nega��o e resili�ncia


Ap�s naturalizar a pandemia, em algum momento, Bolsonaro haver� de pedir desculpas por esse comportamento, qui�� na campanha leitoral de 2022, mas at� agora n�o manifestou um sincero pesar pela escalada da pandemia. Seus lamentos foram sempre pre�mbulos de alguma firma��o que estabelecia como prioridade manter as atividades econ�micas a qualquer pre�o.

Acontece que essa prioridade � apenas ret�rica, na verdade, um cada um por si, porque o governo abandonou as reformas, n�o tem prioridades, se digladia internamente e est� prisioneiro das corpora��es e grupos econ�micos que o apoiam.

S�o in�meros exemplos, os mais recente s�o os cancelamentos do projeto da BR do Mar — nova lei da navega��o de cabotagem —, por exig�ncia dos caminhoneiros, e o decreto para privatiza��o de 4 mil postos de atendimento b�sico do SUS, uma proposta inopinada e marota, que transforma a rede p�blica num grande neg�cio privado de tecnologia para empresas do setor de sa�de.

Entretanto, Bolsonaro est� subestimando o luto das pessoas que perderam seus entes queridos. N�o s�o apenas os impactos econ�mico, social e cultural, em termos de for�a de trabalho, conhecimento e lideran�a social, que devem ser considerados; existe um lado afetivo e psicol�gico na crise sanit�ria, que se manifesta de forma duradoura, por etapas, de forma dif�cil de ser mensurada. Amanh�, Dia de Finados, todos os mortos ser�o lembrados, mas as v�timas da pandemia s�o como corpos insepultos ou enterrados em cova rasa, cujo luto � diferenciado.

O luto ocorre porque a perda f�sica do ente querido n�o elimina o afeto. � uma aus�ncia de dif�cil aceita��o no tempo em que ocorre, porque o amor sobrevive. Isso gera uma nega��o, que se manifesta de forma silenciosa, muitas vezes, como fuga da realidade; num segundo momento, vem a revolta, muitas vezes inconsciente e inexplic�vel. Leva tempo para que as pessoas superem a depress�o subsequente.

Leva tempo para que as pessoas superem a depress�o subsequentemente e aceitem a perda, para que a vida plena se restabele�a. Mas n�o existe esquecimento. Aceitar n�o � deixar de sentir. O luto se torna essencial, um marco na vida pessoal. A resili�ncia diante da morte tamb�m gera simpatia ou engajamento em movimentos que sejam ant�tese de sua causa. � o caso dos familiares de v�timas de balas perdidas ou viol�ncia policial. Na pandemia, a naturaliza��o das mortes pode ser apenas a primeira fase de um luto coletivo. Muito mais amplo.




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