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Estado de Minas ENTRE LINHAS

A pol�tica no Brasil est� agora no campo de uma moderna complexidade

A complexidade do novo cen�rio pol�tico � como o enigma da esfinge de Tebas: "Decifra-me ou te devoro".


20/11/2020 04:00 - atualizado 20/11/2020 07:36

Bolsonaro tentou influenciar as eleições municipais, mas obteve pouco êxito(foto: EVARISTO SÁ/AFP - 19/10/20)
Bolsonaro tentou influenciar as elei��es municipais, mas obteve pouco �xito (foto: EVARISTO S�/AFP - 19/10/20)

Quem foi aluno de cursinho do falecido professor Manoel Maur�cio de Albuquerque, um expurgado do Instituto Rio Branco pelo regime militar, antes de qualquer aula sobre hist�ria do Brasil, aprendia a diferen�a entre uma totalidade simples e uma totalidade complexa.

Ele desenhava um c�rculo com quatro tra�os verticais e pedia que um dos alunos o descrevesse em voz alta. Depois, desenhava o mesmo c�rculo e dispunha os demais elementos na posi��o da boca, do nariz e dos olhos.

O primeiro representava a totalidade simples; o segundo, a complexa. Mais Paulo Freire, imposs�vel.
 
Na sociologia moderna, a discuss�o � mais complicada. Newton consolidou o paradigma cartesiano de totalidade complexa partir da lei da gravita��o universal.

Da� resultam conceitos que buscam separar a mente e o corpo, a verdade objetiva externa do observador, a estrutura dividida em parcelamentos e a no��o de tempo flecha, entre outros.

Trata-se da ideia de que a natureza tem uma ordem dada e, para decifr�-la, � preciso esquartej�-la em pequenos peda�os, mensur�veis.
 
O moderno paradigma da complexidade � mais complicado, surge da mec�nica qu�ntica e da teoria da relatividade, muda o entendimento da rela��o entre tempo e espa�o, considera insepar�vel o sujeito do objeto e usa modelos matem�ticos n�o lineares.

N�o existe uma estrutura dada, mas uma tens�o entre equil�brio e desequil�brio, auto-organiza��o e caos, com for�as de atra��o e dissipa��o.

O princ�pio da separa��o n�o morreu, mas � insuficiente. � preciso separar, distinguir, mas tamb�m � necess�rio reunir e juntar. O princ�pio da ordem renasce na ordem-desordem-organiza��o.

Morre o princ�pio da simplifica��o e da redu��o, jamais chegaremos ao conhecimento de um todo a partir do conhecimento dos elementos de base.
 
No exemplo do Maneco, a chave da transforma��o era a m�o de quem reorganizou os pauzinhos, o trabalho. Agora, � mais complicado.

A crise que enfrentamos resulta da moderniza��o da sociedade e de suas estruturas de produ��o, com novos problemas, como a ressignifica��o do trabalho na sociedade do conhecimento, a separa��o entre o conhecimento e a consci�ncia pela intelig�ncia artificial, o novo papel das escolas, as novas rela��es entre a produ��o do conhecimento cient�fico e tecnol�gico com o Estado, as universidades, empresas, mercado e a sociedade em geral.

A tens�o resultante de tudo isso des�gua na pol�tica, cujas estruturas de representa��o se originaram na velha ordem das coisas e t�m dificuldades para encontras as solu��es.

Boa parte dos problemas que enfrentamos no Brasil resulta desse processo — s�o de ordem objetiva — e de nossas seculares desigualdades e injusti�as sociais, mas s�o agravados pela tentativa de simplifica��o desses problemas e da busca de solu��es toscas, que negam a ci�ncia e se baseiam no senso comum.

A pandemia, por exemplo, resulta de um dos grandes fen�menos da cria��o: o encontro de um v�rus com uma bact�ria, que provoca uma muta��o gen�tica. Desprezar a ci�ncia para enfrent�-lo ;e uma derrota por antecipa��o.

Elei��es

A pol�tica no Brasil est� no campo da moderna complexidade. Nesse sentido, as elei��es municipais s�o um momento decisivo desse processo de ordem-desordem das rela��es pol�ticas, equil�brio e desequil�brio, caos e auto-organiza��o.

As pesquisas divulgadas ontem pelo DataFolha ilustram isso sobre v�rios aspectos;  chocam o senso comum do que seria um processo linear.

Em S�o Paulo, a reelei��o do prefeito Bruno Covas (PSDB) � muito prov�vel, por�m, a emerg�ncia da lideran�a de Guilherme Boulos (PSOL) sinaliza o fim do hegemonismo petista no campo da esquerda e uma esp�cie de volta �s origens jacobinas, muito mais do que uma ruptura pol�tico-administrativa.
 
J� no Rio de Janeiro, o prefeito Marcello Crivella (Republicanos) conseguiu a proeza de isolar as lideran�as evang�licas,  que aparelharam a administra��o e  fracassaram como modelo para a ideia retrograda de governos teol�gicos.

Tudo indica que Eduardo Paes (DEM) j� est� praticamente eleito, com apoio de toda a esquerda, inclusive do principal l�der pol�tico do PSol, Marcelo Freixo, o que sinaliza uma tend�ncia de frente �nica contra um inimigo comum cuja matriz est� na elei��o de Negr�o de Lima (PSD), na antiga Guanabara, em 1965, a t�tica que ensinou a oposi��o o caminho para derrotar o regime militar. � uma tend�ncia a se observar em 2022.
 
Nada, por�m, � mais surpreendente do que a disputa no Recife, entre Mar�lia Arraes (PT) e Jo�o Campos. (PSB), um embate no campo da esquerda tradicional, entre a neta e o bisneto do ex-governador Miguel Arraes, na qual emerge uma inusitada alian�a entre petistas e toda a direita pernambucana, para quebrar a longa hegemonia do velho cl� pernambucano, apoiando uma lideran�a dissidente da pr�pria fam�lia.

Se levasse essas e outras disputas, e os resultados do primeiro turno, o presidente Jair Bolsonaro veria diante de si um grande deserto. A complexidade do novo cen�rio pol�tico � como o enigma da esfinge de Tebas: “Decifra-me ou te devoro”. N�o se resolve somente reposicionando os pauzinhos.


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