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Estado de Minas ENTRE LINHAS

Bolsonaro defende "direitos do irracional" contra a COVID, como diria Camus

Presidente brasileiro lembra o mito de S�sifo, imortalizado em livro pelo escritor existencialista franc�s


06/04/2021 04:00 - atualizado 06/04/2021 08:19

Bolsonaro segue com sua política negacionista, apesar do avanço da pandemia(foto: Alan Santos/PR)
Bolsonaro segue com sua pol�tica negacionista, apesar do avan�o da pandemia (foto: Alan Santos/PR)


O consagrado escritor franc�s Albert Camus foi um existencialista, para quem o homem vive em busca de sua ess�ncia, do seu sentido, e encontra um mundo desconexo, inintelig�vel, guiados por religi�es e ideologias pol�ticas. Num de seus ensaios filos�ficos, Camus classifica S�sifo, um dos grandes personagens da mitologia grega, como um her�i absurdo.

“Tanto por causa de suas paix�es como por seu tormento. Seu desprezo pelos deuses, seu �dio � morte e sua paix�o pela vida lhe valeram esse supl�cio indiz�vel no qual todo seu ser se empenha em n�o terminar coisa alguma. � o pre�o que se paga pelas paix�es dessa terra”, resumiu.

Os deuses condenaram S�sifo a rolar incessantemente uma rocha at� o cume de uma montanha, de onde a pedra se precipitava por seu pr�prio peso. “Imaginaram que n�o haveria puni��o mais terr�vel que o trabalho in�til e sem esperan�a”, afirma Camus, que publicou “O mito de S�sifo” em 1942.

Nessa obra, destaca o mundo imerso em irracionalidades. “Ou n�o somos livres e o respons�vel pelo mal � Deus todo-poderoso, ou somos livres e respons�veis, mas Deus n�o � todo-poderoso”, questionava.

�quela �poca, em plena Segunda Guerra Mundial, o mundo parecia mesmo absurdo: a guerra, a ocupa��o da Fran�a, o triunfo aparente da viol�ncia e da injusti�a, tudo se opunha ao humanismo e � ideia de civiliza��o.

O trabalho de S�sifo, ao empurrar incessantemente uma pedra at� o alto da montanha, at� ela tornar a cair, � uma analogia perfeita com o esfor�o empreendido por profissionais da sa�de, prefeitos e governadores, para combater a pandemia do novo coronav�rus: a COVID-19. Entretanto, n�o � um trabalho in�til e sem esperan�a, como no caso do mito grego. � uma batalha que acabar� sendo ganha, apesar de tudo.

Como disse Camus, “sempre houve homens para defender os direitos do irracional”. O problema � quando se trata de um governante, como o presidente Jair Bolsonaro, que combate as medidas de isolamento social e mobiliza seus aliados para sabotar os esfor�os dram�ticos que est�o sendo realizados para evitar que a pandemia mantenha sua escalada, que pode chegar a mais de 500 mil mortos em julho, segundo estimativas dos principais centros de estudos epidemiol�gicos do mundo.

Liminares

A pol�mica do momento � a liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Kassio Marques, o mais novo da Corte, indicado por Bolsonaro, que autoriza o funcionamento de templos religiosos durante a pandemia, mesmo contrariando as medidas de restri��o de circula��o de pessoas e aglomera��es adotadas por prefeitos e governadores de cidades e estados nas quais a pandemia saiu do controle.

Apesar de o Sistema �nico de Sa�de (SUS) estar entrando em colapso, por falta de leitos, respiradores e insumos, o ministro acolheu pedido da Associa��o Nacional de Juristas Evang�licos, apresentada em junho do ano passado.

Houve rea��o entre seus colegas do Supremo. Al�m das cr�ticas p�blicas do decano Marco Aur�lio Mello, ontem, o ministro do STF Gilmar Mendes, ao negar uma a��o do PSD, manteve o decreto do governador de S�o Paulo, Jo�o Doria (PSDB) que restringiu as atividades religiosas de igrejas no estado.

Contrariou a decis�o de Kassio Marques, que havia liberado celebra��es presenciais em todo o pa�s. � tarde, o procurador-geral da Rep�blica, Augusto Aras, aliado de Bolsonaro e cotado para a vaga do ministro Marco Aur�lio Mello, que est� prestes a se aposentar, protocolou no Supremo um pedido para retirar de Gilmar Mendes e transferir para Kassio Marques a a��o do PSD contra a proibi��o de cultos e missas coletivas em S�o Paulo, porque � relator de uma a��o mais antiga: a do PSD � de mar�o deste ano.

O presidente do STF, ministro Luiz Fux, decidiu p�r o assunto em vota��o amanh�, na reuni�o plen�ria da Corte. A decis�o de Kassio Marques, a pretexto de garantir a liberdade religiosa, est� em contradi��o com a jurisprud�ncia do Supremo, que atribuiu aos estados e munic�pios autoridade para fixar medidas restritivas para o enfrentamento da pandemia, inclusive, o fechamento de templos e igrejas.


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