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Estado de Minas ENTRE LINHAS

O naufr�gio do presidente Bolsonaro ao resistir �s mudan�as hist�ricas

O presidente, os militares que o cercam e os grupos de extrema direita que organizou por meio das redes sociais s�o saudosistas do golpe de 1964


19/08/2021 04:00 - atualizado 19/08/2021 07:33

Bolsonaro insiste em existência de fraude eleitoral e ameaça comunista(foto: ISAC NÓBREGA/PR)
Bolsonaro insiste em exist�ncia de fraude eleitoral e amea�a comunista (foto: ISAC N�BREGA/PR)


O analista pol�tico e ensa�sta Mark Lila, professor de Hist�ria das Ideias na Universidade de Columbia, em Nova York, ganhou muita notoriedade ap�s a elei��o de Donald Trump ao publicar um artigo no The New York Times no qual pedia que a esquerda norte-americana abandonasse a “era do liberalismo identit�rio” e buscasse a unidade diante da especificidade das minorias. � autor de “O progressista de ontem e o do amanh�: desafios da democracia liberal no mundo p�s-pol�ticas identit�rias” (no original, “The once and future liberal: after identity politics”) e “A mente naufragada”, publicados pela Editora Schwarcz.

Voltou a gerar pol�micas em meados do ano passado, ao articular uma carta-manifesto assinada por 150 intelectuais, entre os quais Noam Chomsky, Gloria Steinem, Martin Amis e Margaret Atwood, no qual reivindicavam o direito de discordar sem que isso colocasse em risco o emprego de ningu�m, uma rea��o � patrulha ideol�gica dos setores progressistas dos Estados Unidos contra intelectuais conservadores. Esse posicionamento foi importante para a unidade dos democratas, fundamental para a vit�ria de Joe Biden nas elei��es presidenciais do ano passado, e o racha dos republicanos, ao isolar a extrema-direita na tentativa de golpe de Estado de Trump.

Lila � um estudioso dos dramas ideol�gicos do s�culo 20. No livro “A mente naufragada”, faz uma clara distin��o entre o reacionarismo e o pensamento conservador. Segundo ele, “os reacion�rios da nossa �poca descobriram que a nostalgia pode ser uma forte motiva��o pol�tica, talvez mais poderosa at� do que a esperan�a. As esperan�as podem ser desiludidas. A nostalgia � irrefut�vel”. Isso tem tudo a ver com o presidente Jair Bolsonaro, o grupo de militares saudosistas do regime militar que o cerca e os grupos de extrema direita que organizou por meio das redes sociais e, agora, est�o armados at� os dentes.

Enquanto velhos revolucion�rios da gera��o 1968 ainda alimentam expectativas de uma nova ordem social redentora, os reacion�rios s�o obcecados pelo medo das mudan�as em curso no mundo e se comportam de maneira nost�lgica, sonhando com a volta a um passado idealizado, que n�o � o que a Hist�ria registra. “A nostalgia baixou como uma nuvem sobre o pensamento europeu depois da Revolu��o Francesa e nunca mais se afastou totalmente”, lembra Lila, a prop�sito dos pensadores que h� um s�culo serviram de caldo de cultura para o nazismo e o fascismo.

Nostalgia da ditadura

Quando o ministro da Defesa, o general Braga Neto, por exemplo, comparece � C�mara para prestar esclarecimentos e nega que houve uma ditadura no Brasil, revela uma mente naufragada no passado, quando Tancredo Neves foi eleito no col�gio eleitoral e o regime militar caiu sem um tiro, em 1985. O regime militar foi, sim, uma ditadura, que durou 20 anos, suprimiu as liberdades, prendeu, sequestrou e matou oposicionistas. Essa era a narrativa dos generais que se revezaram na Presid�ncia e impuseram um artificial sistema bipartid�rio, para disfar�ar o regime autorit�rio, sob o argumento de que se tratava de uma “democracia relativa”.

A outra face dessa narrativa � a recorrente interpreta��o de Bolsonaro sobre o artigo 142 da Constitui��o, ao atribuir �s For�as Armadas o papel de “poder moderador” nas rela��es entre o presidente da Rep�blica, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF). Busca-se, como em 1937, no golpe do Estado Novo, e em 1964, na deposi��o de Jo�o Goulart, uma suposta amea�a comunista, no caso representada pelo favoritismo do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva nas pesquisas eleitorais sobre o pleito de 2022.
 
Constr�i-se uma tese de afronta � legalidade, para justificar uma “interven��o militar”, com base em suposta inseguran�a da urna eletr�nica, e as medidas tomadas pelo Supremo Tribunal Federal contra a rede montada para disseminar mentiras e apregoar um golpe de Estado. “Onde os outros veem o rio do tempo fluindo como sempre fluiu, o reacion�rio enxerga os destro�os do para�so passando � deriva”, explica Lila. � mais ou menos o que distingue o presidente Jair Bolsonaro dos setores conservadores que participam e ainda o apoiam o seu governo, mas n�o sua loucura golpista.


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