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Estado de Minas ENTRE LINHAS

A carta O Louco, do Tar�, tem tudo a ver com o presidente Jair Bolsonaro

No futuro pr�ximo, Bolsonaro ser� objeto de estudos de toda a ordem, inclusive de natureza psicol�gica. Seu papel transgressor � incompat�vel com o cargo


05/09/2021 04:00 - atualizado 04/09/2021 20:17

Bolsonaro mostra cloroquina para a ema: seus fanáticos seguidores estão levando muito a sério o Messias de seu nome
Bolsonaro mostra cloroquina para a ema: seus fan�ticos seguidores est�o levando muito a s�rio o Messias de seu nome (foto: EVARISTO S�/AFP - 23/7/20)


A carta O Louco � a �ltima do Tar� – a de n�mero 22 –, mas tamb�m � considerada a carta 0 (zero), ou seja, pode ser o in�cio e/ou o fim do baralho. O Louco n�o tem numera��o certa; como um coringa, entra na linha da jogada e a interrompe, deixando tudo em suspenso e abrindo um novo horizonte, completamente indefinido. Segundo os esot�ricos, essa persona n�o � nada ponderada, enfrenta os seus desafios sem planejar. No jogo de Tar�, O Louco tanto pode ser considerado uma carta ben�fica, porque revela a necessidade de se arriscar, mas tamb�m pode p�r tudo a perder, porque n�o pondera seus atos nem avalia as circunst�ncias. O Louco � s�cio da imprud�ncia, da falta de paci�ncia e das precipita��es. Tudo a ver com o presidente Jair Messias Bolsonaro.

A elei��o do atual presidente da Rep�blica foi uma cartada eleitoral do antipetismo exacerbado, de pol�ticos, militares, servidores p�blicos, empres�rios e da classe m�dia mais conservadora e empobrecida. As consequ�ncias agora est�o a�: cat�strofe sanit�ria, fracasso econ�mico, crise pol�tica, mais desigualdades sociais e um pogrom cultural. Mas tamb�m � um fen�meno antropol�gico, que precisa ser estudado para al�m das an�lises pol�ticas e econ�micas, porque sua exist�ncia tem a ver com a nossa cultura e as caracter�sticas mais profundas do nosso povo, com tradi��es de origens ib�ricas medievais.

Nosso sebastianismo, por exemplo: a busca de um salvador da p�tria, inspirada em Dom Sebasti�o I, que desapareceu na Batalha de Alc�cer-Quibir, em 1578. Sem herdeiros, a crise do trono levou Portugal � perda da independ�ncia para a Espanha, com a Uni�o Ib�rica, e ao nascimento da lenda de que numa manh� de nevoeiro D. Sebasti�o voltaria � p�tria para libert�-la. As cartas de Tar� surgiram mais ou menos nessa �poca, entre os s�culos 15 e 16, no norte da It�lia, e foram criadas para um jogo praticado por nobres e senhores das casas mais tradicionais da Europa continental. Hoje, s�o muito usadas por esot�ricos aqui no Brasil, para uso divinat�rios, cujos significados s�o derivados principalmente da Cabala, a vertente m�stica do juda�smo.

Nossa mem�ria coletiva ancestral pode ser ativada por s�mbolos, que funcionam como ilustra��es para os anseios da alma humana, segundo o psic�logo Carl Gustav Jung, no estudo dos Arqu�tipos. O Tar� � uma esp�cie de hist�ria em quadrinhos sobre os nossos dramas. O Louco do Tar� � uma representa��o do “Louco Sagrado”, cujo estere�tipo remonta � �poca do ap�stolo Paulo, em Cor�ntios, ao conclamar seus seguidores a “serem loucos por amor a Cristo”, como agora fazem o presidente Jair Bolsonaro e seus mais fan�ticos partid�rios.

Na Idade M�dia, a pat�tica figura do eremita tolo e indefeso, apesar de pouco inteligente, ganhou for�a popular porque era moralmente virtuoso ou puro. O ''Louco Sagrado'' era uma representa��o m�tica de uma vis�o alternativa de mundo, como o Dom Quixote de Miguel de Cervantes, no Renascimento; uma imagem que, depois, viria a ser muito recorrente nas com�dias de teatro, cinema e televis�o, como as figuras de Carlitos, do genial Charles Chaplin, e Os Tr�s Patetas.

Messias

Foi a prop�sito do “pat�tico” nos meios de comunica��o de massa que o fil�sofo alem�o Theodor Adorno, em M�nima moralia (Editora Azougue), escreveu que t�o errado quanto crer na exist�ncia do “Louco Sagrado”, � imaginar que podemos fazer qualquer julgamento baseados apenas na nossa Raz�o, ou seja, de forma fria e racional. Fazer julgamentos criteriosos, equilibrados, abandonando a emo��o � t�o improv�vel quanto fazer um julgamento justo sem o uso da intelig�ncia. Segundo Adorno, “quando for eliminado o �ltimo tra�o de emo��o de nosso pensamento, n�o restar� nada para pensarmos”.

Desde a d�cada de 1990, neurologistas tem mapeado o c�rebro e conseguido demonstrar com exatid�o os processos de raz�o, de emo��o e, consequentemente, o processo de decidir e julgar. Novos equipamentos que permitem conhecer com mais detalhes a din�mica cerebral, tornando poss�vel mensurar a complementaridade entre as sensa��es e os racioc�nios l�gicos, as duas faces daquilo que nos torna humanos. No futuro pr�ximo, o presidente Jair Bolsonaro ser� objeto de estudos de toda a ordem, inclusive de natureza psicol�gica. Seu papel transgressor � incompat�vel com a liturgia do cargo que exerce e os par�metros da Constitui��o de 1988, da� o isolamento pol�tico a que chegou, em rela��o � maioria da opini�o p�blica e ao stablishment nacional, que o apoiou em 2018.

Entretanto, o seu carisma e caneta cheia de tinta, em raz�o da Presid�ncia, demonstram poder capaz de gerar grandes incertezas sobre o futuro, como O Louco do Tar�. O presidente da Rep�blica encarna para certos segmentos da popula��o o Louco Sagrado indispens�vel aos movimentos messi�nicos. � como se tiv�ssemos uma esp�cie de Ant�nio Conselheiro, o l�der de Canudos, na Presid�ncia da Rep�blica. As manifesta��es do dia 7 de setembro, n�o se fala de outra coisa, servir�o de par�metros de ades�o a essa distopia que estamos vivendo. Seus fan�ticos seguidores est�o levando muito a s�rio o Messias de seu nome.



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