(none) || (none)

Continue lendo os seus conte�dos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e seguran�a do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/m�s. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas ENTRE LINHAS

Dois filmes, duas hist�rias que se cruzam na resist�ncia ao regime militar

Marighella queria que a derrubada da ditadura resultasse na revolu��o socialista; para Giocondo, a redemocratiza��o exigia resist�ncia de ampla frente pol�tica


14/11/2021 04:00 - atualizado 14/11/2021 08:14

O longa Marighela, dirigido por Wagner Moura
O longa Marighela, dirigido por Wagner Moura, foi apresentado no festival de Berlim com a neta do guerrilheiro, Maria Mariguella, do seu lado direito (foto: Tobias Schwarz/AFP - 15/2/19)


Vale a pena ver o filme Marighela, dirigido por Wagner Moura, com Seu Jorge esbanjando talento na telona, no papel de Carlos Marighella, em 1969, no auge da atua��o da Alian�a Nacional Libertadora, o grupo guerrilheiro que liderava e foi dizimado pelo delegado S�rgio Fleury. Em contraponto, sugiro tamb�m o document�rio Giocondo Dias, Ilustre Clandestino, de Vladimir de Carvalho, dispon�vel no Canal Brasil, que re�ne depoimentos sobre o l�der comunista que substituiu Luiz Carlos Prestes na Secretaria geral do PCB. Ambos mostram um passado de radicaliza��o pol�tica que n�o deve se repetir.

Moura dirigiu um blockbuster pol�tico, que utiliza os recursos da fic��o e dos filmes de a��o para fazer um recorte hist�rico da vida de Carlos Marighella, inspirada na excelente biografia do Mario Magalh�es, sobre o l�der comunista carism�tico que arrastou para a luta armada jovens militantes do antigo PCB e um grupo de padres franciscanos. Carvalho fez um garimpo de imagens, a partir dos depoimentos de militantes que participaram do resgate de Giocondo Dias, o l�der comunista clandestino que havia ficado isolado, ap�s o desmonte da estrutura do velho Partid�o, em 1975, quando 12 integrantes do Comit� Central e milhares de militantes foram presos.

Marighella e Giocondo fizeram parte do chamado “grupo baiano”, que lideraria a reorganiza��o do PCB no final do Estado Novo, em 1943, tecendo uma alian�a pragm�tica com Get�lio Vargas para o Brasil entrar na II Guerra Mundial contra o Eixo: Arm�nio Guedes, Mois�s Vinhas, Aristeu Nogueira, Milton Ca�res de Brito, Arruda C�mara, Le�ncio Basbaum, Alberto Passos Guimar�es, Jacob Gorender, Maur�cio Grabois, Jos� Praxedes, Osvaldo Peralva, Boris Tabakoff, Jorge Amado, Jo�o Falc�o, Fernando Santana, M�rio Alves e Ana Montenegro, nem todos baianos.

O cabo Giocondo Dias era um mito comunista, somente ofuscado por Luiz Carlos Prestes. Havia liderado a tomada do poder em Natal (RN), no levante comunista de 1935, no qual Prestes fora preso. Na ocasi�o, levou 3 tiros de um dos comandados, ao proteger com o pr�prio corpo o governador do Rio Grande Norte, Rafael Fernandes Gurj�o, a quem Giocondo havia dado voz de pris�o. Escondido para se recuperar dos ferimentos, sobreviveria a 13 facadas, em luta corporal com um capanga do propriet�rio da fazenda onde estava. Preso, cumpriu um ano de cadeia at� a anistia de 1937, a chamada “Macedada”, concedida para legitimar o golpe do Estado Novo. Essa experi�ncia influenciaria sua vis�o sobre a luta armada.

Estudante de Engenharia, Marighella largou a faculdade em 1934, para atuar no PCB no Rio de Janeiro, sendo preso a primeira vez em 1936. Tamb�m foi libertado na “Macedada”, por�m, acabou novamente preso em 1939, sendo libertado em 1945, com a redemocratiza��o. Voltou para a Bahia e se elegeu deputado federal, integrando a bancada comunista na Constituinte de 1946. Giocondo viria a ser eleito deputado estadual. Com a cassa��o de seus mandatos, foi encarregado da seguran�a do l�der comunista Luiz Carlos Prestes, na clandestinidade, enquanto Marighela se destacaria na lideran�a do PCB em S�o Paulo, durante os governos Dutra e Vargas.

Ap�s a morte de Joseph St�lin, em 1953, com a realiza��o do XX Congresso do Partido Comunista da Uni�o Sovi�tica (PCUS), em 1956, a c�pula do PCB entrou em crise. O Comit� Central somente se reuniria dois anos depois, para destituir a Executiva liderada por Arruda C�mara e Jo�o Amazonas, que mantivera em segredo as den�ncias dos crimes de St�lin feitas por Nikita Kruschov, o novo l�der sovi�tico. Giocondo, que fora um dos art�fices da alian�a do PCB com Juscelino Kubitscheck (PSD) nas elei��es de 1955, com Alberto Passos e Arm�nio Guedes, articula a Declara��o de Mar�o de 1958, na qual o PCB assume o compromisso com a defesa da democracia. E emerge da crise como segundo homem na hierarquia partid�ria, sob a lideran�a de Prestes. Giocondo e Marighella, por�m, divergem quanto � “pol�tica de concilia��o com imperialismo” de Juscelino.

No governo Jango, Marighella defende a reforma agr�ria “na lei ou na marra”, Giocondo condena o radicalismo das ligas camponesas. O primeiro apoia a “revolta dos marinheiros”, o segundo considera o movimento de cabo Anselmo uma provoca��o. Quando os militares destituem Jango, Marighela acredita que bastaria o brigadeiro Francisco Teixeira bombardear as tropas do general Mour�o Filho, que marchavam em dire��o ao Rio de Janeiro, para derrotar os golpistas, enquanto Prestes, o “Setor Mil” (militares da ativa), Giocondo e outros dirigentes concluem que Jango estava politicamente derrotado e a resist�ncia armada resultaria num in�til banho de sangue. Para Giocondo, a derrota da ditadura exigia longa resist�ncia, a partir da forma��o de frente democr�tica, como de fato ocorreu. Inspirado na Revolu��o Cubana, Marighella acreditava que poderia transformar a derrubada do regime militar na revolu��o socialista. Em tempo: �s v�speras do golpe de mar�o de 1964, Prestes articulava a reelei��o de Jango.






*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)