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Estado de Minas Entre linhas

Lula e Bolsonaro estreitam a possibilidade de uma terceira via

Grande dificuldades do centro para buscar acordo entre candidatos, como Sergio Moro (Podemos), � a trajet�ria das ideias liberais no Brasil


05/01/2022 04:00 - atualizado 05/01/2022 07:36

Sérgio Moro tenta se apresentar como terceira via nas eleições de outubro para presidente
S�rgio Moro tenta se apresentar como terceira via nas elei��es de outubro para presidente (foto: Marcelo Camargo/Ag�ncia Brasil - 14/2/20)

A nove meses das elei��es presidenciais, o favoritismo do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) e a resili�ncia da base eleitoral do presidente Jair Bolsonaro, favorecido pelo exerc�cio do poder, dominam o cen�rio pr�-eleitoral. O campo da chamada “terceira via” existe no eleitorado, mas at� agora n�o encontrou um candidato capaz de fulaniz�-lo, como � da nossa tradi��o. Essa fragmenta��o reproduz o cen�rio do segundo turno de 2018, a n�o ser suja algum fato novo.
 
A unifica��o das for�as de centro dependeria de um acordo entre seus candidatos – Ciro Gomes (PDT), Sergio Moro (Podemos), Jo�o Doria (PSDB), Simone Tebet (MDB) e Alessandro Vieira (cidadania –, ou de um deles atrair os eleitores dos demais. Sem isso, nada garante que Lula ou Bolsonaro possam ser deslocados do segundo turno. A polariza��o direita x esquerda � mais desejada por Bolsonaro; Lula se movimenta para atrair lideran�as de centro e bloquear a chamada “terceira via”.
 
H� v�rias explica��es para as dificuldades das for�as de centro. Aproveito o Bicenten�rio da Independ�ncia para destacar uma delas: a trajet�ria das ideias liberais no Brasil. Quando D. Pedro I introduziu o direito � propriedade privada na Constitui��o outorgada de 1824, esse instituto da ordem burguesa serviria de blindagem para o regime escravocrata, at� a Aboli��o, em 1888. Enquanto o liberalismo na Europa ocorria num contexto de trabalho livre e de igualdade perante a lei, aqui no Brasil, a ordem escravocrata predominante restringia seus benef�cios, os “direitos iguais”, aos homens livres.
 
No Imp�rio, todas as revoltas populares e revolu��es de car�ter republicano foram duramente reprimidas, sobretudo as que pregavam a aboli��o. A disputa entre conservadores (saquaremas) e liberais da �poca (luzias) se dava no eixo da centraliza��o x descentraliza��o, ou seja, da autonomia das prov�ncias. Em 1853, o “Gabinete de Concilia��o” uniu conservadores e liberais numa “ponte de ouro”, nas palavras do conselheiro Nabuco de Ara�jo, na qual os “saquaremas” faziam oposi��o aos “luzias” nas prov�ncias e vice-versa, mas todos apoiavam a monarquia.
 
A “pol�tica de concilia��o” garantiu a estabilidade pol�tica e retardou a aboli��o. O Marques de Paran�, o mineiro Hon�rio Hermeto Carneiro Le�o, que liderou o gabinete, recebeu esse t�tulo sem conhecer o estado. Era um defensor ferrenho da pena de morte e da escravid�o, construiu sua fortuna ilicitamente, em Al�m Para�ba (MG), onde possu�a 200 escravos e 190 mil p�s de caf�.
 
Com a derrocada do Imp�rio, a hegemonia do pensamento republicano passou a ser positivista, protagonizada pelos militares, e viria a se confrontar com o novo liberalismo republicano dos cafeicultores paulistas, que protagonizaram a substitui��o da m�o de obra escrava pelos trabalhadores assalariados europeus e promoveriam a industrializa��o. Esse choque pautaria as disputas pol�ticas da Primeira Rep�blica, at� a Revolu��o de 1930, que mudou o eixo da pol�tica brasileira. O liberalismo brasileiro conectou a elite pol�tica com a Europa e os Estados Unidos, mas ignorou as iniquidades sociais.

Concilia��o e patrimonialismo

Ap�s a derrota da Revolu��o Constitucionalista de 1932, a disputa entre setores reacion�rios e conservadores com a elite paulista, que dava as cartas na economia, era decidida na pol�tica, com a interven��o do Estado em todos os setores da vida nacional. Nos momentos em que o povo entrou em cena, como na elei��o de Get�lio Vargas em 1950 e no governo Jo�o Goulart, com uma agenda nacionalista, a rea��o das velhas oligarquias e da elite liberal, inclusive paulista, com suas conex�es internacionais, foi golpista.
 
Assim como a Independ�ncia n�o foi uma revolu��o de car�ter popular e liberal, mas a continuidade da ordem das elites da �poca, nas d�cadas de 1830 e 1840, em 1889, 1930, 1945, 1961 e 1964 deu-se o mesmo. A “pol�tica de concilia��o” sempre renasce das cinzas para pacificar o pa�s, por�m, ao mesmo tempo, para conter as aspira��es profundas de mudan�a, de modo a sustentar a ordem dominante e seus privil�gios. � uma das chaves da “moderniza��o conservadora”; a outra, � a “via prussiana” do autoritarismo.
 
Ap�s 20 anos de regime militar, devemos aos liberais um papel decisivo na transi��o � democracia, sob a lideran�a hegem�nica de Ulysses Guimar�es e Tancredo Neves. Em trinta e cinco anos de democracia, o eixo do poder se deslocou de setores liberais (Sarney, Collor de Mello e Itamar Franco) para a esquerda social-democrata (Fernando Henrique Cardoso) e nacional-desenvolvimentista (Lula e Dilma Rousseff).
 
Com exce��o de Collor e Dilma, todos operaram a velha “pol�tica de concilia��o”. A recidiva do patrimonialismo, por�m, p�s tudo a perder. Por ironia, o governo liberal de Michel Temer foi a antessala da volta dos militares ao poder, por meio da elei��o de Jair Bolsonaro, em alian�a com os setores conservadores e atrasados. O ultraliberalismo an�rquico que emergiu das ruas em 2013 foi capturado pelo atual presidente da Rep�blica na campanha de 2018. O espa�o para a alian�a entre liberais e social-democratas se estreitou.

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