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Estado de Minas ENTRE LINHAS

Bolsonaro perdeu a guerra da vacina, ao contrariar o bom senso

Para 59% da popula��o, o presidente sabotou a imuniza��o dos brasileiros contra a COVID-19 e isso ter� custo alto para a campanha do chefe do Executivo


18/01/2022 04:00 - atualizado 18/01/2022 07:11

Bolsonaro confronta bom senso demonstrado pelos brasileiros
O presidente n�o se vacinou contra a COVID-19 e n�o pretende vacinar a filha de 11 anos, negacionismo que a popula��o condena, segundo as pesquisa eleitorais (foto: Alan Santos/PR)
No come�o do s�culo passado, por uma s�rie de raz�es, houve uma grande revolta popular no Rio de Janeiro contra a vacina��o da popula��o. O epis�dio, por�m, � um marco contra a ignor�ncia e o negacionismo da ci�ncia.

�quela �poca, a antiga capital era uma cidade insalubre, em p�ssimas condi��es de sa�de p�blica, na qual proliferavam doen�as contagiosas: tuberculose, peste bub�nica, febre amarela, var�ola, mal�ria, tifo, c�lera, etc... O presidente Rodrigues Alves resolveu realizar uma s�rie de reformas urbanas para melhorar as condi��es de vida da ent�o capital, a cargo do engenheiro Pereira Passos, que alargou ruas e removeu corti�os, desalojando a popula��o mais miser�vel. 

Diretor-geral de Sa�de P�blica desde 1903, o m�dico Oswaldo Cruz assumiu o cargo com a miss�o de implementar o saneamento p�blico e erradicar a febre amarela, a peste bub�nica e a var�ola, principalmente.

Com essa inten��o, em 1904, o governo prop�s a obrigatoriedade da vacina��o, lei aprovada em 31 de outubro, apesar dos protestos, inclusive um abaixo-assinado com 18 mil assinaturas, muito para aquela �poca. A lei exigia comprovantes de vacina��o para realizar matr�cula nas escolas, assim como para obten��o de empregos, viagens, hospedagens e casamentos. Previa multas para quem n�o se vacinasse.

O povo se revoltou, estimulado pelos pol�ticos de oposi��o. A confus�o come�ou no largo do S�o Francisco e se espalhou de Copacabana ao Engenho Novo, com quebra-quebras, tiros, barricadas. O saldo foram 945 pessoas presas na Ilha de Cobras, 30 mortos, 110 feridos e 461 deporta��es para o estado do Acre. Historiadores avaliam que a pol�tica higienista e a forma autorit�ria como foi imposta a vacina��o causaram a revolta, al�m do fato de que a vacina��o de mulheres era vista como uma amea�a � honra machista.

Quase 120 anos depois, a vacina��o em massa no Brasil � uma pol�tica de sa�de p�blica muito bem-sucedida. � resultado de muitas campanhas de vacina��o, entre as quais se destacam: (1) a campanha contra a meningite, na d�cada de 1970, quando uma epidemia matou milhares de crian�as e o ent�o regime militar tentou escond�-la; e (2) a campanha contra a poliomielite, que praticamente erradicou a paralisia infantil.

Por�m, na d�cada de 1980, foi objeto de uma grande pol�mica entre o general Jo�o Batista Figueiredo e o criador da vacina, Albert Sabin, por causa da subnotifica��o dos casos de poliomielite. Ontem, o DataFolha divulgou pesquisa de opini�o amplamente favor�vel � vacina��o contra COVID-19, inclusive das crian�as. � uma vit�ria do Sistema �nico de Sa�de (SUS) e do nosso modelo federativo, que neutralizou desastrada pol�tica do Minist�rio da Sa�de, gra�as � atua��o de governadores e prefeitos. Est�o com vacina��o completa 75% da popula��o.

Donas de casa


Os n�meros tamb�m s�o acachapantes contra o negacionismo do presidente Jair Bolsonaro, que at� hoje n�o se vacinou e n�o pretende vacinar a filha de 11 anos: 81% dos entrevistados s�o a favor da exig�ncia do “passaporte de vacina” para que seja liberada a entrada em locais fechados como bares, restaurantes e �rg�os p�blicos, entre outros. Apenas 18% s�o contra a exig�ncia do comprovante e 1% n�o soube responder. Os mais favor�veis ao passaporte s�o mulheres (87%), pessoas com mais de 60 anos (87%), com ensino fundamental completo (86%) e aqueles que ganham at� dois sal�rios m�nimos por m�s (85%). Os maiores grupos negacionistas est�o entre os homens (24%), pessoas de 25 a 34 anos (22%) e aqueles que t�m renda mensal de mais de 10 sal�rios m�nimos (28%). No Sudeste, 84% s�o favor�veis � medida; no Sul, 75%. As donas de casa (90%) s�o as mais favor�veis � vacina��o; entre as empres�rias, 60%.

Como a oposi��o a Rodrigues Alves e Oswaldo Cruz, Bolsonaro perdeu a guerra da vacina. Para 59% da popula��o, sabotou a imuniza��o. Esse resultado, obviamente, ter� s�rias consequ�ncias eleitorais, mesmo com a resili�ncia dos setores que apoiam tudo o que Bolsonaro prop�e, inclusive quando afronta o “bom senso”. Nesse aspecto, a vacina��o deve ser objeto de uma reflex�o pol�tica mais ampla, que nos remete ao comportamento da maioria da popula��o. De certo modo, na elei��o de 2018, Bolsonaro explorou com muito �xito o “senso comum” da maioria dos eleitores em rela��o � crise �tica que atingia em cheio o nosso sistema pol�tico, sobretudo os partidos.

H� uma grande diferen�a, por�m, entre “senso comum” e “bom senso”. O primeiro � uma postura passiva e acomodada, que segue crit�rios, comportamentos e modos de agir tradicionais na sociedade. Bolsonaro soube us�-lo com maestria, principalmente nos temas relacionados � mudan�a de costumes e � defesa da fam�lia unicelular patriarcal. O “bom senso”, ao contr�rio, leva ao reposicionamento cr�tico, porque resulta de certa sabedoria popular e de uma compreens�o da realidade tal como ela �, como o das donas de casas ouvidas na pesquisa. N�o resulta de conclus�es de car�ter ideol�gico, por exemplo. Quando confrontou o bom senso da sociedade, Bolsonaro perdeu a guerra.
 

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