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Estado de Minas ENTRE LINHAS

Encontro de Bolsonaro com Putin vira centro das aten��es mundiais

Identificado com o conservadorismo do colega russo, presidente brasileiro manteve decis�o de seguir para o 'olho' do furac�o da crise internacional


13/02/2022 04:00 - atualizado 13/02/2022 08:11

Encontro de Bolsonaro com Putin em 2019
Agenda em Moscou inclui dois encontros de Bolsonaro com o presidente russo, Vladimir Putin (foto: Pavel Golovkin/AFP)

Como acontece com algumas palavras do nosso vocabul�rio, a palavra obrigado em russo tem v�rios significados. “Spassibo” se pronuncia com a t�nica na segunda s�laba e o “a” no lugar do “o”: spa-ss�-ba. Sua origem � a express�o “spassi bog”, do eslavo antigo, que significa “Deus o salve”. Entre os internautas russos, foi abreviada para “spassib”; na comunidade LGBT+, “passib”. � uma palavra muito usada para agradecer, mas tamb�m pode ter outros significados, como em “skaji spasibo”, usado para dizer que uma pessoa � mal-agradecida.

Os russos podem ser rudes na forma de falar obrigado:  “Spasibo v karman ne polojich”, isto �, “voc� n�o pode colocar obrigado no bolso”. Ou extremamente agradecidos: “Spassibo ogromnoe” � literalmente um “enorme obrigado”. Essa express�o � usada quando algu�m realmente fez um favor ou ajudou muito. Prestemos muita aten��o, pois, na forma como o presidente Vladimir Putin agradecer� a visita do presidente Jair Bolsonaro, que viaja amanh� para a R�ssia.

Bolsonaro est� indo para o olho do furac�o da conjuntura pol�tica mundial. O conflito da Ucr�nia exumou a “guerra fria” e corre o risco de virar guerra quente, se Putin realmente decidir invadir a Ucr�nia, o que pode ocorrer a qualquer momento, segundo o alarmismo dos servi�os de intelig�ncia norte-americano e brit�nico. Seus dois encontros com Putin — uma reuni�o bilateral e um almo�o entre os dois chefes de Estado — foram marcados antes da escalada do conflito, com foco nas rela��es comerciais, principalmente a exporta��o de carne e a compra de fertilizantes. O contexto, por�m, mudou completamente devido � dimens�o geopol�tica envolvida na rela��o Brasil-R�ssia

Houve momentos na hist�ria do Brasil em que essas rela��es estiveram no centro da nossa pol�tica nacional. O primeiro foi em 1935, quando Lu�s Carlos Prestes, l�der da Alian�a Libertadora Nacional (ALN), tentou tomar o poder; o segundo, em 1964, quando o l�der comunista articulava a reelei��o de Jo�o Goulart. A aproxima��o do presidente brasileiro com o ent�o premi� da Uni�o Sovi�tica Nikita Kruschov, corroborada pela visita do astronauta Yuri Gag�rin e a exposi��o sovi�tica no Rio de Janeiro, serviria como um dos pretextos para o golpe militar.

A Federa��o Russa n�o tem um regime comunista, por�m, em termos geopol�ticos, seus interesses estrat�gicos s�o os mesmos da velha R�ssia czarista e da antiga Uni�o Sovi�tica. Ap�s a derrubada do Muro de Berlim, frustraram-se as aspira��es russas de ingressar na Uni�o Europeia, enquanto a Organiza��o do Tratado do Atl�ntico Norte (Otan), liderada pelos Estados Unidos e a Inglaterra, avan�ou em dire��o �s antigas rep�blicas do Leste Europeu.

A contrapartida foi a guinada nacionalista de Putin e sua deriva autorit�ria, a partir de uma alian�a com os militares e a Igreja Ortodoxa, o controle do Judici�rio, do setor energ�tico e dos meios de comunica��o. Quando assumiu o poder, Putin n�o tinha uma estrat�gia clara, encontrou um pa�s em profunda crise econ�mica, desagrega��o e em meio ao caos social. Ergueu a bandeira da ordem e com ela governa h� quase 22 anos. O outro lado dessa moeda � que a R�ssia se tornou uma democracia liberal.

H� muito mais converg�ncias pol�ticas e ideol�gicas entre Bolsonaro e Putin do que as apar�ncias, mas os interesses geopol�ticos do Brasil e da R�ssia s�o muito diferentes. Geopol�tica � um dos pilares de qualquer pol�tica de Estado. A crise da Ucr�nia empurra a R�ssia para uma alian�a militar com a China, porque a ex-rep�blica sovi�tica pode se transformar numa nova Taiwan.

Passo em falso


Na hist�ria da R�ssia, a Ucr�nia sempre foi um corredor de acesso para os invasores europeus. Foi assim com Carlos XII da Su�cia, Napole�o Bonaparte (Fran�a) e Adolfo Hitler (Alemanha). Da Fran�a a Moscou, n�o existe nenhuma barreira natural que facilite a defesa russa, como a Sib�ria e os Montes Urais, a n�o ser a profundidade do seu territ�rio e o inverno. Com a entrada da Ucr�nia na Otan, essa vantagem seria anulada, porque a distancia entre Kiev e a capital russa s�os apenas 860 quil�metros, percurso que pode ser feito em menos de 11 horas.

A expans�o da Otan para a Ucr�nia, em contrapartida, � um esfor�o dos Estados Unidos e da Inglaterra para conter o decl�nio da hegemonia de uma alian�a, amea�ada pela transforma��o da China na grande pot�ncia econ�mica que � hoje. Com o deslocamento do eixo do com�rcio mundial do Atl�ntico para o Pac�fico, as necessidades log�sticas da R�ssia s�o outro fator de sua aproxima��o com a China, ainda mais quando o arranjo econ�mico que a une aos pa�ses da Europa central est� sendo colocado sob esse forte estresse da crise da Ucr�nia.

O que Bolsonaro far� na R�ssia? Em termos geopol�ticos, o Brasil � um pa�s do Ocidente, historicamente ligado � Europa e aos Estados Unidos, muito embora hoje nosso principal parceiro comercial seja a China. Por raz�es ideol�gicas, Bolsonaro tem mais identidade com l�deres autorit�rios, como o ex-presidente Donald Trump, um amigo de Putin, e Viktor Orban, primeiro-ministro da Hungria.  Mas ser� um grande passo em falso aproxima-se de Putin quanto � quest�o ucraniana, ou seja, para al�m dos nossos m�tuos interesses comerciais, no momento em que o eixo da conjuntura � uma amea�a de guerra. Nossa tradi��o diplom�tica � a defesa da paz e da solu��o negociada dos conflitos. Esse � o caminho a seguir.
 

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