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Estado de Minas ENTRE LINHAS

De quando as ofensas levam � ru�na pol�tica

N�o conhe�o pol�tico que n�o tenha a obra-prima de Maquiavel. Bolsonaro e seu estado-maior, formado por generais de quatro estrelas, n�o devem ser exce��es


29/05/2022 04:00 - atualizado 29/05/2022 08:08

Bolsonaro
(foto: Filipe ARAUJO_AFP)

Em desvantagem nas pesquisas, declara��es de Bolsonaro refor�am as suspeitas de que prepara um golpe de Estado para se manter no poder, caso perca as elei��es. � um momento perigoso.
 
No embalo das pesquisas e dando sequ�ncia � coluna de sexta-feira (“Quando a fortuna governa a pol�tica, e a virtude, n�o”), voltamos ao cl�ssico dos cl�ssicos da pol�tica, “O pr�ncipe”, de Nicolau Maquiavel, para falar do governo Bolsonaro e das pr�ximas elei��es. O astuto florentino foi associado ao vale-tudo na pol�tica por uma frase que lhe � atribu�da, mas nunca dissera: “Os fins justificam os meios”. Essa interpreta��o err�nea (ou de m�-f�) � fruto do seu realismo, ao desvincular o Estado do Direito Divino.
 
� lugar-comum o conselho atribu�do a Maquiavel de que o mal deve ser feito de uma s� vez. “Por isso � de notar-se que, ao ocupar um Estado, deve o conquistador exercer todas aquelas ofensas que se lhe tornem necess�rias, fazendo-as todas a um tempo s� para n�o precisar renov�-las a cada dia e poder, assim, dar seguran�a aos homens e conquist�-los com benef�cios, Quem age diversamente, ou por timidez ou por mau conselho, tem sempre necessidade de conservar a faca na m�o, n�o podendo nunca confiar em seus s�ditos, pois que estes nele tamb�m n�o podem ter confian�a diante das novas e cont�nuas inj�rias.”
 
Arremata sabiamente: “Portanto, as ofensas devem ser feitas todas de uma s� vez, a fim de que, pouco degustadas, ofendam menos, ao passo que os benef�cios devem ser feitos aos poucos, para que sejam melhor apreciados. Acima de tudo, um pr�ncipe deve viver com seus s�ditos de modo que nenhum acidente, bom ou mau, o fa�a variar: porque, surgindo pelos tempos adversos a necessidade, n�o estar�s em tempo de fazer o mal, e o bem que tu fizeres n�o te ser� �til eis que, julgado for�ado, n�o trar� gratid�o”.
 
“O pr�ncipe” era o livro de cabeceira de Napole�o Bonaparte, cujos coment�rios sobre a obra est�o acess�veis em algumas boas edi��es. N�o conhe�o pol�tico que n�o tenha a obra-prima de Maquiavel. Bolsonaro e seu estado-maior, formado por generais de quatro estrelas, n�o devem ser exce��es. Entretanto, pode-se concluir que Bolsonaro est� fazendo tudo errado. Governou o tempo todo contra a maioria da opini�o p�blica e ofensas ao Supremo Tribunal Federal (STF), al�m da imprensa e dos advers�rios; agora, �s v�speras das elei��es, tenta oferecer benef�cios de uma s� vez, o que n�o est� conseguindo, diante da conjuntura adversa. Nem mesmo para seus aliados mais org�nicos, como os caminhoneiros e os policiais, cujas demandas est�o acima das possibilidades reais do governo.
 
Maquiavel dizia que “contra a inimizade do povo um pr�ncipe jamais pode estar garantido, por serem muitos; dos grandes, por�m, pode se assegurar porque s�o poucos”. As pesquisas eleitorais, por�m, est�o tendo um efeito corrosivo junto aos aliados pol�ticos de Bolsonaro, porque sua vantagem estrat�gica no Brasil meridional, onde est� a sua mais s�lida base de sustenta��o, est� sendo reduzida progressivamente pelo ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva; em contrapartida, a vantagem de Lula se ampliou tremendamente no Nordeste, o eixo geogr�fico da alian�a de Bolsonaro com os caciques do Centr�o, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), e o presidente da C�mara, Arthur Lira (PP-AL), mestres da baldea��o pol�tica.

Governo civil

Essa desvantagem de Bolsonaro no Nordeste (17% contra 56% de inten��es de votos a favor de Lula) se reproduz em outros segmentos importantes do eleitorado, segundo o DataFolha de quinta-feira passada: mulheres, 23% a 49%; jovens (16 a 24 anos), 21% a 58%; baixa renda (at� 2 sm), 20% a 56%; pretos, 23% a 57%; desempregados, 16% a 57%; benefici�rios do Aux�lio Brasil (ex-Bolsa-Fam�lia): 20% a 59%. A situa��o somente se inverte entre evang�licos, onde a vantagem de Bolsonaro se reduziu a quase um empate t�cnico: 39% contra 36% de Lula; mas se mant�m bem dilatada entre os empres�rios, 56% a 23%, e os eleitores de renda acima de 10 sm, 42% a 31% contra Lula.
 
� medida que sua expectativa de poder se reduz, o sistema de alian�as de Bolsonaro amea�a ruir: “O pior que pode um pr�ncipe esperar do povo hostil � ser por ele abandonado; mas dos poderosos inimigos n�o s� deve temer ser abandonado, como tamb�m deve recear que os mesmos se lhe voltem contra, pois que, havendo neles mais vis�o e maior ast�cia, contam sempre com tempo para salvar-se e procuram adquirir prest�gio junto �quele que esperam venha a vencer”, ensina Maquiavel.
 
Bolsonaro n�o consegue domar a infla��o. Como o cen�rio eleitoral permanece adverso, mant�m sua rota de colis�o com as urnas eletr�nicas. Recrudesceu os ataques aos ministros Edson Fachin, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e Alexandre de Moraes, que o substituir� durante as elei��es. Tamb�m faz ataques diretos ao Supremo Tribunal Federal (STF) e amea�a n�o cumprir suas decis�es, o que � uma quebra do juramento de posse na Presid�ncia. Com isso, suas declara��es refor�am as suspeitas de que prepara um golpe de Estado para se manter no poder caso perca as elei��es. � um momento perigoso.
 
Ao falar dos governos civis, Maquiavel tratou do assunto: “Ami�de esses principados periclitam quando est�o para passar da ordem civil para um governo absoluto (…), porque os cidad�os e os s�ditos, acostumados a receber as ordens dos magistrados, n�o est�o, naquelas conjunturas, para obedecer �s suas determina��es, havendo sempre, ainda, nos tempos duvidosos, car�ncia de pessoas nas quais ele possa confiar”.
Fica a dica. Estarei de volta no primeiro domingo de julho.

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