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Estado de Minas ENTRE LINHAS

As metamorfoses do governo Bolsonaro, que n�o tem projeto pol�tico claro

A pandemia se encarregou de derrotar a hegemonia militar no governo, sobretudo com o general Eduardo Pazuello � frente do Minist�rio da Sa�de


17/07/2022 04:00 - atualizado 17/07/2022 09:21

Bolsonaro tem discurso nacionalista, agenda conservadora, aliança religiosa fundamentalista, apoio de setores militares e de segurança e só ainda não controla os meios de comunicação e o Judiciário
Bolsonaro tem discurso nacionalista, agenda conservadora, alian�a religiosa fundamentalista, apoio de setores militares e de seguran�a e s� ainda n�o controla os meios de comunica��o e o Judici�rio (foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A.PRESS)

Uma das dificuldades de caracteriza��o do governo do presidente Jair Bolsonaro decorre do fato de que n�o existe um projeto pol�tico claro que oriente suas a��es; tudo acontece na base do improviso, diante da necessidade de manter o poder. Por essa raz�o, desde o primeiro momento, mas principalmente depois da derrota de seu aliado principal, Donald Trump, sempre considerei a hip�tese de que haveria uma aproxima��o estrat�gica de Bolsonaro com o presidente da R�ssia, Vladimir Putin. S� n�o imaginava que isso viria a ocorrer em raz�o da guerra da Ucr�nia. Sobre isso falaremos mais adiante.

Inicialmente, cabe destacar, t�o logo tomou posse, o governo Bolsonaro assumiu caracter�sticas bonapartistas, em contradi��o com uma ordem democr�tica presidida pela Constitui��o de 1988. Por que essa caracteriza��o? Ora, em raz�o de Bolsonaro se colocar acima da sociedade e se apoiar essencialmente nas For�as Armadas, constituindo um governo com grande n�mero de militares, maior at� do que o dos presidentes Castelo Branco, Costa e Silva, M�dici, Geisel e Figueiredo, todos generais-presidentes. Grosso modo, o bonapartismo consiste no fato de que um indiv�duo se coloca acima de todas as partes do Estado e da sociedade, ou seja, fulaniza o v�rtice de poder.

N�o durou muito esse modelo esquizofr�nico. A pandemia se encarregou de derrotar a hegemonia militar no governo, sobretudo porque o general Eduardo Pazuello, � frente do Minist�rio da Sa�de, encarregado de implementar as teses negacionistas de Bolsonaro, levou ao colapso o sistema de sa�de p�blica, quando perdeu o controle sobre a COVID-19, que j� matou mais de 675 mil pessoas. Concomitantemente, o impacto da pandemia na economia, em raz�o da necessidade de distanciamento social e redu��o da atividade econ�mica, tamb�m levou ao fracasso o poderoso ministro da Economia, Paulo Guedes, cujo projeto neoliberal foi para o espa�o, com o pa�s mergulhado no desemprego, na infla��o e na fome.

Deu-se, ent�o, a metamorfose da transforma��o de um governo bonapartista num governo reacion�rio de vi�s populista, como o que temos hoje. O conceito � mais adequado porque Bolsonaro entregou o comando pol�tico do governo e o Or�amento da Uni�o ao Centr�o, ao nomear para a Casa Civil o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), e aceitou que o presidente da C�mara, Arthur Lira (PP-AL), desse as cartas na distribui��o de recursos federais aos parlamentares da base governista e, tamb�m, de uma boa parcela da oposi��o. O chamado or�amento secreto � um iceberg, que ainda pode virar um grande caso de pol�cia. Na farra das emendas ao Or�amento, um conjunto de medidas regressivas vem sendo aprovado pelo Congresso; a mais recente � a PEC das elei��es, que viola a legisla��o eleitoral e rompe completamente com os paradigmas do equil�brio fiscal.

Estamos agora na imin�ncia de uma nova metamorfose, que tem como pano de fundo as elei��es pre- sidenciais. Agora, sim, Bolsonaro tenta consolidar, pela via eleitoral, um projeto de regime pol�tico “iliberal”, como ocorre em muitos pa�ses da Europa e do Oriente, com tutela militar. Esse conceito surgiu num artigo de Fareed Zakaria de 1997 para a revista Foreign Affairs, em resposta ao questionamento do diplomata americano Richard Holbrooke, �s v�speras das elei��es de 1996 na B�snia: “O que dizer quando uma elei��o ocorre de modo livre e justo, mas o povo termina por escolher racistas, fascistas, separatistas e outros agentes publicamente contr�rios � paz e � integra��o?”

Zakaria transp�s a quest�o da ex-rep�blica da Iugosl�via para v�rios outros locais do mundo, onde governos eleitos ou referendados legitimamente costumam ignorar os limites constitucionais e privar a popula��o de direitos fundamentais. Ao incluir a R�ssia entre esses pa�ses, o conceito ganhou asas: Boris Yeltsin, na �poca presidente, at� ent�o era visto no Ocidente como o reformador respons�vel pela abertura da R�ssia, inserindo-a decididamente no mapa do neoliberalismo.

Amigo de Putin


“Todos os homens do Kremlin – Os bastidores do poder na R�ssia de Vladimir Putin”, de Mikhail Zygar (Vest�gio), � um livro-reportagem com detalhes reveladores sobre como o l�der russo “se tornou rei por acaso”, levado ao poder por oligarcas e pol�ticos regionais, que o acolheram ao mesmo tempo em que manipulavam seus medos e ambi��es. Com o tempo, demonstrou uma habilidade incomum para se manter no poder e assumir o controle do grupo com m�o de ferro. Sua imagem de l�der jovem e modernizador, por�m, n�o convenceu o Ocidente. Seu projeto inicial de integra��o da Federa��o Russa � Uni�o Europeia foi rejeitado pela ent�o primeira-ministra alem� Angela Merkel.

Essa rejei��o, que considerou uma humilha��o, e a ambi��o de se perpetuar no poder levaram Putin � guinada nacionalista e autorit�ria que vem marcando sua trajet�ria. A consolida��o de seu poder se deu em raz�o do apoio popular � ideia de restabelecer o status de pot�ncia mundial da R�ssia e � agenda conservadora dos costumes, da alian�a com os militares e com a Igreja Ortodoxa, e do controle dos meios de comunica��o, dos �rg�os de seguran�a, do Minist�rio P�blico e do Judici�rio.

A empatia entre Putin e Jair Bolsonaro ficou evidente na visita do presidente brasileiro � R�ssia. H� um terreno f�rtil para essa alian�a pol�tica pessoal. Bolsonaro n�o tinha um projeto pol�tico claro quando foi eleito. Tem o mesmo discurso nacionalista, a agenda conservadora, uma alian�a religiosa fundamentalista, o apoio de setores militares e do sistema de seguran�a, s� ainda n�o controla os meios de comunica��o e o Judici�rio.

O isolamento de Bolsonaro no Ocidente, antipatizado pela opini�o p�blica e em lit�gio com os principais l�deres mundiais, inclusive o presidente norte-americano Joe Biden, fez de Putin um parceiro natural na cena mundial, mesmo depois da guerra da Ucr�nia. A conversa privada entre Bolsonaro e Putin em Moscou n�o ficou restrita � venda de carne e � compra de fertilizantes, estrat�gica para os dois pa�ses. Houve conversas no �mbito da coopera��o tecnol�gica e militar, na qual a R�ssia, sim, pode vir a fazer diferen�a. E, para a oposi��o, existe o fantasma da interfer�ncia de hackers russos nas elei��es.

O posicionamento de Bolsonaro em rela��o � guerra na Ucr�nia � um sinal de que h�, de fato, um pacto entre ambos. Em Moscou, Bolsonaro havia agradecido a Putin pela hist�rica oposi��o da R�ssia � internacionaliza��o da Amaz�nia. Esse � um tema sens�vel para as For�as Armadas, principalmente o Ex�rcito. Existe outra fronteira de coopera��o entre os dois pa�ses no �mbito militar: a venda de equipamentos e transfer�ncia de tecnologia em �reas estrat�gicas da nossa ind�stria de Defesa, principalmente o projeto de submarino nuclear da Marinha.

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