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Estado de Minas ENTRE LINHAS

O recado que vem dos chilenos tem reflexo nas elei��es brasileiras

Lula precisa apresentar sua alternativa para o futuro e recha�ar a veleidade de que o Brasil dar� uma grande quinada � esquerda


06/09/2022 04:00 - atualizado 06/09/2022 07:51

Com 61,86% dos votos, chilenos disseram não à nova Constituição do país. O resultado surpreendeu o mundo político
Com 61,86% dos votos, chilenos disseram n�o � nova Constitui��o do pa�s. O resultado surpreendeu o mundo pol�tico (foto: Claudio Reyes/AFP)

Por esmagadora maioria – 61,86% –, os chilenos rejeitaram a proposta de uma nova Constitui��o, que buscava estabelecer maiores direitos sociais e ampliar a democracia chilena. Apenas 38,14% do eleitorado votou a favor do texto, com 99,97% da apura��o oficial conclu�da. O resultado surpreendeu o mundo pol�tico e a pr�pria m�dia chilena. Com o voto obrigat�rio, 13 milh�es de eleitores participaram do plebiscito, cujo objetivo era referendar a nova Constitui��o, em substitui��o � Carta de 1980, do regime de Augusto Pinochet, reformada durante o governo de Ricardo Lagos, em 2005.

O  “Rechazo” da nova Constitui��o foi geral, vitorioso inclusive na Grande Santiago, onde a esquerda e a centro-esquerda sempre foram maioria. “Esse Chile n�o � apenas Santiago; n�o foi uma elei��o municipal, para se falar em bairros ricos e pobres. H� um sentimento de unidade nacional que se imp�s democraticamente. A esquerda mais identit�ria (de todos os tipos de identitarismo) fracassou em sua perspectiva hegem�nica. Isso n�o se chama "progressismo", j� que parte dos progressistas n�o apoiou a op��o apruebo”, destaca o historiador Alberto Aggio, professor titular de hist�ria da Universidade Estadual Paulista (Unesp), de Franca-SP, especialista na pol�tica chilena.

Segundo ele, a disjuntiva refunda��o versus pinochetismo fracassou, porque era uma leitura errada do sentimento da sociedade em seu conjunto. “N�o houve, da parte da ‘nova esquerda’, apenas um erro de c�lculo, de dire��o e de voluntarismo; Boric corre um s�rio risco se n�o entender o que aconteceu. Sua �nica op��o ‘progressista’ era e ainda � um governo ‘mais amplo’, com apoio da ex-Concertaci�n; permanece o sentimento de elaborar e aprovar uma ‘nova Constitui��o’, � um sentimento majorit�rio no pa�s.”

Sua observa��o � muito importante diante do cen�rio eleitoral brasileiro, no qual o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) � favorito, com uma narrativa voltada para o passado, ou seja, as realiza��es de seus dois mandatos, e uma agenda opaca em rela��o ao futuro, como quem deseja assumir o poder com carta branca para promover reformas pol�ticas e institucionais. Ningu�m sabe quais s�o essas reformas, a n�o ser que sejam deduzidas da autocr�tica que o PT fez ap�s o impeachment de Dilma Rousseff, o que n�o seria um bom sinal.

At� agora, a estrat�gia eleitoral de Lula est� fundada no apoio eleitoral das parcelas mais pobres da popula��o e de uma frente de esquerda, que rejeitou alian�as ao centro nos maiores col�gios eleitorais do pa�s, todas vi�veis quando Lula parecia imbat�vel. O erro da esquerda chilena foi esquecer as li��es da crise do governo Allende e do golpe de Pinochet. A Conven��o Constituinte aut�noma, parit�ria, externa aos partidos e com uma maioria de independentes que elaborou a nova Constitui��o, traduziu o “estallido social” de outubro de 2019 para o texto da nova Carta, na linha de ultrapassagem da democracia representativa, dita burguesa. Foi o erro.

A nova Constitui��o consagrava a paridade entre homens e mulheres em todos os cargos p�blicos; um “Estado plurinacional e intercultural”, reconhecendo 11 povos e na��es (Mapuche, Aymara, Rapa Nui, Lickanantay, Qu�chua, Colla, Diaguita, Chango, Kawashkar, Yaghan, Selk'nam); direito � natalidade e ao aborto aut�nomos; Estado de bem-estar social, com educa��o, moradia, sa�de, previd�ncia, trabalho; a extin��o do Senado e a �gua como bem inapropri�vel (a crise h�drica chilena � seri�ssima). Consagrava a utopia pol�tica, mas o passo foi maioria do que as pernas.

A vit�ria de Gabriel Boric, jovem pol�tico de esquerda radical, parecia dar uma dire��o pol�tica mais permanente ao processo iniciado em 2019, mas o novo presidente, antevendo as dificuldades, assumiu um perfil mais conciliador, apesar da forte oposi��o � esquerda. A nova Constitui��o traduzia o desejo da esquerda chilena de refundar o pa�s, mas essa n�o � a vontade da maioria dos chilenos. Est� posto um novo problema, porque tamb�m n�o se pode voltar � velha Carta de Pinochet.

A situa��o do Chile serve de advert�ncia para a frente de esquerda que se formou em torno do ex-presidente Lula. O presidente Jair Bolsonaro (PL) faz campanha com uma agenda emergencial, alavanca sua candidatura com o pacote de bondades insustent�vel fiscalmente. Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) tentam oferecer alternativas de futuro, sem os mesmos lastros de poder e/ou eleitoral dos que lideram a disputa. A mesma coisa fazem Felipe D’�vila (Novo) e Soraya Thronicke (Uni�o Brasil). Lula precisa apresentar sua alternativa para o futuro e recha�ar a veleidade de que o Brasil dar� uma grande quinada � esquerda. O que as pesquisas est�o mostrando � outra coisa.

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