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Estado de Minas ENTRE LINHAS

Chegamos ao Bicenten�rio com o pa�s desorientado e dividido

Os radicais de direita que comemoram nas ruas o Bicenten�rio da independ�ncia t�m como refer�ncia um passado imagin�rio, no qual glamorizam o regime militar


07/09/2022 04:00 - atualizado 07/09/2022 09:00

O presidente Jair Bolsonaro, que disputa a reeleição, se apropriou da data para alavancar sua campanha
O presidente Jair Bolsonaro, que disputa a reelei��o, se apropriou da data para alavancar sua campanha (foto: Dida Sampaio/Estad�o Conte�do - 7/9/19)

O bicenten�rio da Independ�ncia do Brasil est� sendo “comemorado” hoje, �s v�speras das elei��es gerais de 2 de outubro (daqui a 25 dias), como se fosse uma pajelan�a eleitoral. Entretanto, deveria ser uma grande festa de afirma��o da identidade nacional, da nossa coes�o social e de um projeto de futuro. O presidente Jair Bolsonaro, que disputa a reelei��o, se apropriou da data para alavancar sua campanha. As mobiliza��es “nacionalistas” programadas para Bras�lia, Rio de janeiro e S�o Paulo, principalmente, tendo como coadjuvantes as For�as Armadas, que sempre foram protagonistas, s�o atos de provoca��o contra o Estado democr�tico de direito e suas institui��es, principalmente o Supremo Tribunal Federal (STF). Seus organizadores acreditam que o 7 de Setembro ser� o “fato novo” capaz de promover uma virada no cen�rio das elei��es. Veremos.

� uma situa��o in�dita. Nem mesmo em 1972, quando o sesquicenten�rio da Independ�ncia foi comemorado com pompa e circunst�ncia pelo regime militar, a nossa mem�ria hist�rica foi resgatada de forma t�o tosca. �quela �poca, criou-se uma comiss�o governamental em parceria com Instituto Hist�rico e Geogr�fico com a tarefa de resgatar as lutas pela Independ�ncia, com objetivo de fortalecer os v�nculos entre o projeto de institucionaliza��o do regime autorit�rio ent�o vigente e o sentimento nacionalista do povo. Mem�ria e identidade caminhavam juntas, mesmo que com o vi�s autorit�rio da �poca.

O pa�s vivia o “chamado milagre econ�mico”, com base no trip� econ�mico empresas estatais, iniciativa privada nacional e investimentos estrangeiros, com instala��o de empresas multinacionais e empr�stimos bilion�rios. Os militares tinham um projeto nacional desenvolvimentista, aut�rquico, a cista de muito endividamento externo. Operou-se a chamada “moderniza��o conservadora”, sob l�gica de “fazer o bolo crescer para depois dividir”. Houve arrocho salarial para a grande massa trabalhadora, mas formou-se uma nova e abastada classe m�dia, que apoiava o regime. A concentra��o de capital e a desigualdade social se cristalizaram como par dial�tico da nossa economia, mas houve maior integra��o nacional e o Brasil passou a contar com uma base industrial robusta. Tanto os militares como a oposi��o, que estava sendo massacrada, tinham um projeto de futuro nacional desenvolvimentista.  O que divisor de �guas era a falta de democracia.

Os radicais de direita que comemoram nas ruas o bicenten�rio da independ�ncia t�m como refer�ncia um passado imagin�rio, no qual glamorizam o regime militar e ignoram os seus equ�vocos, que o levaram � bancarrota, ap�s 20 anos de ditadura. O manique�smo � uma caracter�stica da mentalidade reacion�ria, aqui ou em qualquer lugar do mundo. O resultado � que as comemora��es oficiais do bicenten�rio foram abduzidas pela campanha de Bolsonaro, sem que as institui��es governamentais tenham feito qualquer reflex�o sobre o futuro do pa�s, nem mesmo aquelas que tradicionalmente se preocuparam com isso, como o Itamaraty e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econ�mico e Social (BNDES).

Elites e populismo


A prop�sito, uma das reflex�es mais instigantes sobre o bicenten�rio foi a palestra do embaixador Rubens Ric�pero na Academia Brasileira de Letras (ABL), na sexta-feira passada, na qual ele indagava o que o Brasil poderia fazer ao longo dos pr�ximos 100 anos. � muita ironia, os principais protagonistas da vida nacional est�o pensando nos pr�ximos 25 dias. Ric�pero ainda acredita que o Brasil pode se tornar uma pot�ncia ambiental, de direitos humanos, de promo��o da igualdade racial e social, solid�ria a fracos e miser�veis. A agenda das manifesta��es programadas para hoje vai na dire��o diametralmente contr�ria.

Disc�pulo “incondicional” de Capistrano de Abreu, o primeiro a valorizar a import�ncia do “povo capado e recapado, sangrado e ressangrado” na forma��o hist�rica do Brasil, Jos� Hon�rio Rodrigues, falecido em abril de 1987, aos 73 anos de idade, era um historiador liberal democrata de forma��o anglo-sax�. Na colet�nea Concilia��o e reforma no Brasil: interpreta��o hist�rico pol�tica (Civiliza��o Brasileira, 1965), Hon�rio Rodrigues destacou que a concentra��o do poder pol�tico por um grupo conservador impediu o progresso do pa�s durante s�culos.

Para ele, as lutas pela independ�ncia poderiam fundar as bases nacionais em terreno popular e liberal, mas foram derrotadas. A Independ�ncia n�o significou uma ruptura, mas a continuidade da ordem privilegiada das elites escravocratas da �poca. Em 1822, nas d�cadas de 1830 e 1840, em 1889, 1930, 1945, 1961 e 1964 deu-se o mesmo. “Os poderes dominantes tiveram sempre for�a para conter as aspira��es profundas de mudan�a e reverter os movimentos de modo a sustentar seu sistema, e seus privil�gios”, diagnosticou num dos ensaios da colet�nea, intitulado Teses e ant�teses da Hist�ria do Brasil.

Jos� Hon�rio considerava o populismo “uma esp�cie de primitivismo pol�tico (…), um instrumento de agita��o irrespons�vel, de meio desordenado de degrada��o da pol�tica e dos pol�ticos”. Dizia que foi um entrave ao crescimento ordenado e eficiente nas d�cadas de 1950 e 1960: “A campanha de luta e agita��o (…) desgastou o progressismo que se vinha formando e criou barreiras intranspon�veis (…) O radicalismo vindo de cima, que mais agitava do que propunha construir (…) uma pedra no caminho da reforma e do progresso nacional. N�o uniu, dividiu”. Parece que a hist�ria se repete.

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