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Estado de Minas entre linhas

O custo-benef�cio do funeral de Elizabeth II para o candidato Bolsonaro

Questionado pela imprensa o presidente da Rep�blica reagiu irritado: "Voc� acha que eu vim aqui fazer pol�tica? Pelo amor de Deus, n�o vou te responder


20/09/2022 04:00

O presidente Jair Bolsonaro foi a Londres para o funeral da rainha, a quem prestou condolescências
O presidente Jair Bolsonaro foi a Londres para o funeral da rainha, a quem prestou condolesc�ncias (foto: Jonathan Hordle/Pool/AFP)

“As pesquisas v�o dizer se valeu a pena a participa��o do presidente Jair Bolsonaro (PL) e a primeira-dama Michele no funeral da rainha Elizabeth II, que ganhou conota��o de a��o eleitoral oportunista. A rigor, seria um gesto de grande cortesia, ainda mais porque � um rito de passagem no qual o rei Charles III, simultaneamente, foi consagrado como seu sucessor. Mas haveria a desculpa da campanha eleitoral para n�o ir, que seria perfeitamente aceit�vel. O presidente brasileiro n�o � uma estrela ascendente da pol�tica internacional, principalmente no Ocidente, nem foi um convidado de honra da fam�lia.

A morte da Rainha Elizabeth II era uma not�cia previs�vel, mas foi inesperada. Ela parecia eterna, principalmente depois de milhares de memes nas redes sociais exaltando sua longevidade. Entretanto, a morte sempre � um fato com grande poder de irradia��o e repercuss�o, apesar da sua previsibilidade, porque s� se morre uma vez. O falecimento concentra e real�a todos os acontecimentos de uma vida. Real�ado ainda mais pela longa dura��o dos funerais, acompanhado em tempo real pela m�dia internacional durante 10 dias. Elizabeth II reinou por 70 anos, encabe�ando uma monarquia que soube administrar a decad�ncia do Imp�rio brit�nico e, aliada aos Estados Unidos, manteve sua influ�ncia internacional ap�s a descoloniza��o.

A vida da Rainha Elizabeth serve de paradigma para todas as cortes europeias, com as quais mantinha fortes la�os familiares, e atravessou todas as crises internacionais do P�s II Guerra Mundial. N�o havia a menor d�vida de que seu funeral seria um grande evento midi�tico, quando nada porque resgatou um ritual f�nebre sofisticado, que n�o se via desde a morte de seu pai, o rei George VI, em 1952, reiterando o fasc�nio exercido pela aristocracia junto ao povo brit�nico.

Entretanto, Bolsonaro pisou na bola, ao se manifestar a apoiadores da sacada da embaixada do Brasil em Londres. Seria apenas mais um chefe de Estado a prestigiar o funeral, cujo cerimonial deu muito mais import�ncia � fam�lia real brit�nica e � realeza europeia do que aos pol�ticos representantes dos regimes republicanos, fantasmas que rondam o rei Charles III e seus descendentes. A repercuss�o negativa do encontro de Bolsonaro com seus apoiadores junto � m�dia internacional reverberou no Brasil, efeito � exatamente ao contr�rio do que o presidente da Rep�blica esperava, ao viajar para o Reino Unido.

Questionado pela imprensa, como de h�bito, Bolsonaro reagiu irritado: “Voc� acha que eu vim aqui fazer pol�tica? Pelo amor de Deus, n�o vou te responder. N�o tem uma pergunta decente? Compara o Brasil com o resto do mundo”, disse. Mas misturou a morte da Rainha Elizabeth II com a pol�tica e as elei��es no Brasil: “Todo mundo vai ter um julgamento final. O julgamento vai ser pelas suas a��es e omiss�es. Todo aquele que trabalhou contra o pr�ximo ou que se omitiu, na hora em que poderia ajudar, segundo as escrituras, para quem acredita, vai ter o seu veredito. E l� n�o tem gente – como alguns do Supremo, j� v�o falar que eu estou criticando o Supremo – para ‘descondenar’ uma pessoa e torn�-la eleg�vel”, disse.

Esp�rito da coisa

Antes, ao conversar com apoiadores, Bolsonaro tamb�m havia atacado o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT), seu principal advers�rio, que lidera as pesquisas de inten��es de voto: “Como est� a Europa perto do Brasil? Existe amea�a de fome aqui? Prateleira vazia, aumento de pre�o... Por que a insist�ncia em querer botar um ladr�o de volta na Presid�ncia? Algu�m acha que � uma maravilha ser presidente? Botar um ladr�o, com aquela quadrilha toda, na Presid�ncia”.

Numa cr�nica intitulada Semi�tica dos Ritos F�nebres, publicada no livro Banalogias (Objetiva), o fil�sofo carioca Francisco Bosco tece considera��es muito interessantes sobre a morte e os vel�rios. Segundo ele, qualquer cad�ver encerra em si toda a din�mica do sublime:  n�o � “ser” nem “ente”, nem “sujeito” nem “objeto”. Bosco explica: “O cad�ver j� n�o � vida, mas tampouco � a morte em sua condi��o de certeza encoberta ou fatalidade abstrata. O cad�ver � a morte viva. Ora, a morte viva, diante de n�s vivos, � precisamente a experi�ncia do sublime”.

O vel�rio seria uma experi�ncia do sublime; a fila dos p�sames, uma esp�cie de rito de compensa��o coletiva pela perda. “Oferece-se em primeiro lugar a pr�pria dor, como para fazer surgir uma fraternidade, a comunidade dos irmanados pela perda. Chorar a perda do morto � tamb�m homenage�-lo: elogio que se dirige aos imediatamente pr�ximos do morto como uma compensa��o”, explica Bosco. Parece que o presidente Bolsonaro n�o entendeu o esp�rito da coisa no funeral da Rainha Elizabeth II.

Politicamente, o pior n�o � isso. Bolsonaro tem uma rela��o esquisita com a morte. J� deu in�meras provas disso. Durante a pandemia de COVID-19, que ontem registrou um total de 685 mil mortos, n�o demonstrou a menor empatia com os familiares das v�timas, nem mesmo durante a crise nos hospitais de Manaus, quando dezenas de pessoas morreram por falta de oxig�nio e foram enterradas em cova rasa. Da� a d�vida sobre o custo-benef�cio eleitoral de sua ida aos funerais da Rainha Elizabeth II.


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