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Estado de Minas Entre linhas

Os Brasis que v�o �s urnas no segundo turno presidencial, em 30 de outubro

H� muitas leituras para a divis�o entre os Brasis meridional e o setentrional, principalmente Nordeste


07/10/2022 04:00

Bolsonaro e Lula fazem disputa eleitoral acirrada
Bolsonaro e Lula fazem disputa eleitoral acirrada (foto: CARL DE SOUZA/AFP)

O ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), que disputar�o o segundo turno em 30 de outubro, alcan�aram 48,43% e 43,20% dos votos no primeiro turno, respectivamente. Lula venceu em 14 estados; Bolsonaro, em 12, al�m do Distrito Federal. Esse resultado revela uma profunda divis�o do pa�s, que tamb�m ocorreu em elei��es anteriores. Lula ficou com a maioria dos votos em todos os estados do Nordeste, enquanto Bolsonaro teve maior ades�o em todos os estados do Sul e do Centro-Oeste. As regi�es Sudeste e Norte ficaram divididas. No Sudeste, Lula venceu em Minas Gerais, mas perdeu nos outros tr�s estados. No Norte, quatro estados ficaram com o ex-presidente; e tr�s com o atual, entre os quais o Par�.

H� muitas leituras para essa divis�o entre os Brasis meridional e o setentrional, principalmente Nordeste. Uma delas � a de que o Brasil moderno apoia Bolsonaro, enquanto o atraso est� firme com Lula e n�o abre. Esse tipo de interpreta��o j� se traduziu numa guerra suja de memes nas redes sociais, na qual o preconceito contra os nordestinos revela uma xenofobia estranha e perigosa para a coes�o social e a unidade nacional.

Xenofobia � a hostilidade e o �dio contra pessoas por elas serem estrangeiras ou por serem enxergadas como estrangeiras, como �s vezes acontece com os nordestinos no Sul do pa�s. Esse sentimento j� foi muito comum no Rio de Janeiro, contra os “para�bas”, e em S�o Paulo, em rela��o aos “baianos”, como eram chamados de forma generalizada, durante o processo de urbaniza��o e industrializa��o do pa�s, que atraiu para essas metr�poles grande n�mero de migrantes, que fugiam da mis�ria, da fome e da seca do Nordeste. Em Bras�lia, a express�o “candango”, que era pejorativa em rela��o aos que trabalharam na constru��o da nova capital, virou sin�nimo de brasiliense.

Autor de “Casa grande & senzala”, o soci�logo Gilberto Freyre foi muito contestado por estabelecer como padr�o para a forma��o do patriarcado brasileiro a composi��o �tnica do Nordeste brasileiro, principalmente de Pernambuco. Em resposta, na confer�ncia “Continente e ilha”, apresentou sua tese de que nos desenvolver�amos social e culturalmente em ilhas, e essas ilhas em arquip�lagos, ou numa enorme ilha-continente. Segundo Freyre, na Am�rica portuguesa haveria uma base cultural lusitana e crist� que nos daria unidade, e, por consequ�ncia, seria a chave da brasilidade.

“Desculturiza��o”


Freyre destacou que o “processo sociol�gico de povoamento”, a partir de Porto Alegre, se desdobrou em dois sentidos: no de ilha e no de continente. Ressaltou ainda as contribui��es italianas e alem�s � cultura nacional, que chamou de “valores neobrasileiros”, mas que s� ganham espa�o � medida que s�o assimilados pela cultura nacional. Quanto a isso, chamou a aten��o para o “pangermanismo”, que representaria uma amea�a real, que viria a ser combatido duramente por Get�lio Vargas ap�s o Brasil entrar na guerra contra o Eixo.

Os sentimentos de continente e de ilha seriam antagonismos constitutivos do Brasil; estariam em equil�brio, uma vez que o contr�rio disso nos sujeitaria “[…] a uma verdadeira guerra civil, na sua psicologia social e dentro de sua cultura”. � mais ou menos o que est� ocorrendo neste momento de radicaliza��o pol�tica. Por outro lado, essa xenofobia reflete um processo regressivo de “desculturiza��o”, que outro genial int�rprete do Brasil, Darcy Ribeiro, atribuiu � crueldade, � rigidez e ao autoritarismo com que se deu a associa��o entre negros, �ndios e brancos no processo de coloniza��o e que se reproduz em raz�o do nosso d�ficit educacional e atraso cultural, inclusive das elites econ�micas.

Segundo Darcy Ribeiro, foi dentro dos cen�rios regionais que a busca de si mesmo se fez necess�ria para se iniciar o nosso processo civilizat�rio. A “humanidade” renasceria da extin��o de povos, com suas l�nguas e culturas pr�prias e singulares, a partir do surgimento de macroetnias maiores e mais abrangentes. Darcy registra a exist�ncia dos Brasis “crioulo”, “caboclo”, “sertanejo”, “caipira” e “sulino”, facilmente identificados, por exemplo, na nossa cultura popular, mas que tamb�m tem express�o na forma como se faz pol�tica nas diferentes regi�es do pa�s.

De certa forma, Lula e Bolsonaro se identificam com maior ou menor facilidade com cada um desses Brasis. Ou seja, a divis�o pol�tica e ideol�gica do pa�s tem dimens�o antropol�gica que precisa ser levada em conta para que possa ser superada, condi��o para a constru��o de qualquer projeto de futuro em bases democr�ticas e que busca a supera��o de nossas desigualdades e iniquidades sociais.
 

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