
A amplia��o da agenda das jornadas de junho de 2013, acentuada a partir da segunda quinzena do m�s, deu espa�o a indigna��es difusas de manifestantes distintos. Mesmo quando os temas eram comuns, como no caso da corrup��o, os direcionamentos que ganhavam as ruas em palavras de ordem e cartazes eram m�ltiplos, bem como as raz�es que os motivavam. Copa das Confedera��es e a Copa do Mundo, PEC 37 e ataques espec�ficos a pol�ticos e partidos s�o exemplos de como o assunto foi abordado � �poca e pautou tamb�m os desdobramentos que os atos daquele per�odo tiveram no Brasil.
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O arquivamento da Proposta de Emenda � Constitui��o (PEC) 37/11 era uma das reivindica��es mais comuns nos atos de junho. A medida, de autoria do ent�o deputado federal Lourival Mendes (PTdoB-MA), era apontada como uma forma de enfraquecer o combate � corrup��o ao atribuir �s pol�cias Civil e Federal a compet�ncia para investiga��o criminal. Ela retirava essa fun��o do Minist�rio P�blico. Diante dos atos, o projeto foi arquivado pela C�mara dos Deputados em 25 de junho por 430 votos a 9.
A avers�o � PEC 37 unificou geograficamente a pauta anticorrup��o, que era fragmentada regionalmente de acordo com a realidade de cada cidade onde havia manifesta��es. Embora a presidente Dilma Rousseff (PT) tenha sido alvo dos atos e nomes como o ent�o presidente do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), tamb�m tenham sido constantes em todo o pa�s, o urbanista e professor da Escola de Arquitetura da UFMG, Roberto Andr�s, recorda que os ataques a pol�ticos eram variados em 2013 e ainda n�o apresentavam o teor antipetista que ganharia as ruas nos anos seguintes.
“� importante lembrar que o PT n�o era o alvo principal das manifesta��es. A quest�o da corrup��o era muito mais ampla e tinha alvos regionais como S�rgio Cabral, no Rio de Janeiro; Geraldo Alckmin e Fernando Haddad, em S�o Paulo; Anastasia e M�rcio Lacerda, em Belo Horizonte. Um dos personagens muito citados ali era o Renan Calheiros, que vivia esc�ndalos na �poca. E outro, que muitos n�o se lembram, era o deputado Marco Feliciano, que tinha proposto um projeto de ‘cura gay’ que tamb�m foi muito lembrado nas ruas”, comenta o professor da UFMG, que � autor do livro “A Revolta dos Centavos” (Editora Zahar, 2023).
GRANDES EVENTOS
A Copa das Confedera��es, que era realizada na �poca, e a Copa do Mundo, no ano seguinte, ocuparam a pauta das manifesta��es de junho de 2013 tamb�m em converg�ncia com o discurso anticorrup��o. A professora do Departamento de Hist�ria da UFMG, K�tia Gerab Baggio, recorda que a repercuss�o dos investimentos feitos para sediar os grandes eventos aumentou a sensa��o de que as obras com tal finalidade representavam desperd�cios e superfaturamentos.
“Come�aram a aparecer manifesta��es contra a PEC que retirava poderes de investiga��o do MP, concentrando-o nas pol�cias. Essa mobiliza��o n�o tinha rela��o nenhuma com o passe livre. A imprensa deu bastante visibilidade a isso, o que est� relacionado � pauta anticorrup��o. Nisso tamb�m entrou a prepara��o para os grandes eventos, a Copa do Mundo e as Olimp�adas de 2016. Criou-se o senso comum que todos os empr�stimos e investimentos eram dinheiro gasto, dinheiro perdido”, recorda.
O combate � corrup��o, no entanto, n�o foi a �nica abordagem feita aos grandes eventos esportivos durante as jornadas de junho. Roberto Andr�s recorda que, dentro da esquerda, houve movimenta��es pela forma como o evento da Fifa subjugou as leis locais. O isolamento dos arredores dos est�dios em dias de jogos, por exemplo, moldou estrat�gias dos movimentos e resultou em duas das manifesta��es mais violentas da capital mineira.
“A Copa do Mundo produziu insatisfa��es em diversos campos pol�ticos. Muitos grupos da esquerda criaram os Copacs (Comit� Popular dos Atingidos pela Copa), que estavam justamente visando proteger as pessoas atingidas pelas obras urbanas, protestar contra a expuls�o dos ambulantes e a higieniza��o dos est�dios. H� tamb�m uma insatisfa��o geral e ampla. A Lei Geral da Copa se sobrepunha � lei brasileira, permitindo que a Fifa tivesse privil�gios, como controlar as �reas pr�ximas aos est�dios”, analisa.