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Estado de Minas ENTRE LINHAS

"Iliberalismo" n�o erradica a pobreza, que depende de pol�tica p�blicas

A exclus�o social gerou conflitos que foram resolvidos ora com pol�ticas p�blicas ou com a for�a bruta


11/10/2022 04:00 - atualizado 11/10/2022 08:13

Donald Trump, ex-presidente americano
Pol�ticos como Donad Trump t�m pouco apre�o do Estado de direito (foto: Mario Tama/Getty Images/AFP)


Na coluna de domingo, intitulada “Vamos falar de exclus�o estrutural”, falamos da exclus�o de maioria da popula��o dos benef�cios de uma sociedade moderna e democr�tica e da velha segrega��o social que herdamos da ordem escravocrata, que n�o se restringe ao racismo estrutural, mas atinge a popula��o mais pobre de um modo geral. Esse � um diagn�stico quase pac�fico, mas as diverg�ncias a partir de perspectivas pol�ticas diferentes para enfrentar o problema, como s�o as alternativas social-democrata e “iliberal”, que a rigor polarizam o debate eleitoral que estamos vivendo neste momento.

O debate ocorre de uma forma que exclui alternativas intermedi�rias, como as social-liberal ou neoliberal, que corresponderiam �s propostas dos candidatos derrotados no primeiro turno. Em busca de apoio na classe m�dia e no empresariado, o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva � o que mais se aproxima da alternativa social-liberal, marcadamente sinalizada pelo apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e dos economistas do Plano Real Pedro Malan, P�rsio Arida e Arm�nio Fraga. J� o presidente Jair Bolsonaro, em recente entrevista, buscou apoio nos meios empresariais e na classe m�dia defendendo a proposta de Estado m�nimo, o modelo neoliberal.

A divis�o social no Brasil que n�o segue mais o padr�o cl�ssico da sociedade industrial, porque vivemos numa ordem p�s-moderna, na qual as classes sociais j� n�o se estruturam como antigamente; por exemplo, a velha classe oper�ria da grande ind�stria mecanizada � uma esp�cie em extin��o. N�o se resolve mais o problema da renda e da inclus�o econ�mica apenas com empregos formais, que continuam sendo muito necess�rios, mas ampliando as possibilidades do mundo do trabalho, com outras atividades produtivas e a chamada economia criativa, que fomentam o empreendedorismo e o do trabalho por conta pr�pria na presta��o de servi�os e oferta de produtos artesanais.

O que torna perigosa essa divis�o, que faz parte das contradi��es de qualquer sociedade? � a forma radicalizada como est� sendo tratada. Historicamente, a exclus�o social gerou conflitos que foram resolvidos ora com pol�ticas p�blicas, na ordem democr�tica, ora com a for�a bruta, nos governos autorit�rios.

Sem d�vida, o esfor�o individual e o empreendedorismo s�o sa�das para a exclus�o em qualquer regime em que exista livre produ��o mercantil e liberdade econ�mica, protagonizado por governos social-democrata, social-liberal, neoliberal ou iliberal. O problema � que isso n�o resolve o problema da mis�ria dos que n�o conseguem ultrapassar os limites impostos pela competi��o individual e a concorr�ncia capitalista. � a� que as pol�ticas p�blicas de transfer�ncia de renda e inclus�o social s�o necess�rias.

�tica protestante

Em 1997, Fareed Zakaria, apresentador da emissora CNN e especialista em pol�tica dom�stica e externa, escreveu no peri�dico Foreign Affairs que alguns pa�ses tinham cada vez menos apre�o pelo "

“Estado de direito, respeito a minorias, liberdade de imprensa", o que chamou de “iliberalismo”. Essa tend�ncia passou a ser um eixo da pol�tica mundial com o fortalecimento da direita europeia, a elei��o de Donald Trump nos Estados Unidos e sua alian�a com l�deres mundiais como Vladimir Putin, na R�ssia, e Recep Tayyip Erdogan, na Turquia, que transformaram as respectivas democracias em ditaduras eleitorais. Na Pol�nia e na Hungria, l�deres populistas fazem a mesma coisa. No Brasil, o presidente Jair Bolsonaro se tornou um dos polos desse eixo, sobretudo depois da derrota de Trump para o presidente democrata Joe Biden.

Num v�deo recente, que virou meme nas redes sociais, o empres�rio Luciano Hang, o Velho da Havan, aliado de primeira hora de Bolsonaro, faz a apologia do empreendedorismo e critica duramente a regulamenta��o da economia pelo Estado, atribuindo � esquerda a responsabilidade pelo atraso econ�mico do pa�s, ao passo que a direita teria feito de Santa Catarina o para�so brasileiro para se investir, trabalhar e empreender.

E onde entra a “�tica protestante”? A express�o foi cunhada h� mais 100 anos pelo soci�logo alem�o Max Weber, impressionado com a competi��o entre as igrejas protestantes dos Estados Unidos. Hoje, na Springfield, no Missouri, h� uma igreja para cada mil habitantes. S�o 122 igrejas batistas, 36 capelas metodistas, 25 Igrejas de Cristo e 15 Igrejas de Deus, que competem ferrenhamente entre si, usando m�todos comerciais e de marketing, que s�o a inspira��o para as denomina��es pentecostais aqui no Brasil.

A valoriza��o do trabalho duro, do empreendedorismo e do sucesso individual � um “americanismo” que veio para ficar, t�o poderoso na sua proje��o global que nem mesmo a China comunista escapa de sua expans�o: estima-se que n�mero de protestantes chineses possa chegar a 110 milh�es. No Brasil, onde se multiplicam as denomina��es pentecostais, o avan�o evang�lico junto � popula��o de baixa renda est� alicer�ado na f� em Deus, na defesa da fam�lia, na pauta conservadora dos costumes, no esfor�o individual e no empreendedorismo. Sua ades�o ao projeto iliberal, como o do presidente Jair Bolsonaro, tem a ver com a absolutiza��o do sucesso individual como via de mobilidade social. Entretanto, num pa�s t�o desigual como o nosso, por si s�, n�o erradicar� a pobreza. Por isso, n�o sensibiliza a maioria dos eleitores de mais baixa renda.


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