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Estado de Minas Entrelinhas

O mundo que Michele Bolsonaro e Damares Alves oferecem �s mulheres

Houve uma revolu��o nos costumes, protagonizada pelas mulheres, que hoje ocupam espa�os cada vez maiores no mercado de trabalho e at� nas nossas for�as armadas


23/10/2022 04:00 - atualizado 22/10/2022 20:50

LUIZ CARLOS AZEDO

A primeira-dama e a ex-ministra
A primeira-dama e a ex-ministra e agora senadora tem feito campanha para o presidente Jair Bolsonaro (foto: T�lio Santos/EM/D.A Press)

Depois de algumas tentativas frustradas, consegui comprar na livraria Travessa, em Bras�lia, o livro “Os anos (F�sforo)”, premiad�ssimo, da escritora francesa Anne Ernaux, ganhadora do Pr�mio Nobel de Literatura deste ano. � uma mistura de cr�nicas do cotidiano e filosofia, numa “autobiografia impessoal” que reconstitui a evolu��o dos costumes da sociedade francesa num per�odo de 60 anos, que vai do imediato p�s-guerra ao atentado �s Torres G�meas, em 11 de setembro de 2021. Talvez a leitura nos ajude a entender um pouco melhor por que a maioria das mulheres n�o vota no presidente Jair Bolsonaro, embora ele tenha duas cabo eleitorais poderosas, a primeira-dama Michelle e a rec�m-eleita senadora por Bras�lia Damares Alves (Republicanos), ambas evang�licas.

“A vergonha era uma assombra��o na vida das mulheres. A maneira como se vestiam e se maquiavam era sempre acompanhada por um ‘demais’: curto, longo, decotado, justo, chamativo etc. A altura dos saltos, com quem anda, as sa�das e voltas para casa, o fundilho da calcinha no fim do m�s, tudo era objeto de uma vigil�ncia generalizada da sociedade. (...) Nada, nem a intelig�ncia, nem os estudos, nem a beleza, contava mais para a reputa��o sexual de uma mo�a, isto �, seu valor no mercado do casamento, do qual as m�es, a exemplo das pr�prias m�es, eram as guardi�s: se fizer sexo antes do casamento, ningu�m vai querer ficar com voc� – ficava claro, nas entrelinhas, que s� algu�m em condi��o parecida poderia aceitar, isto �, a esc�ria masculina, um doente, um louco ou, pior, um divorciado. A m�e solteira n�o tinha nada a esperar, s� a abnega��o de um homem que aceitaria colher seu erro.”

“At� chegar o casamento, as hist�rias de amor aconteciam escondidas do controle e julgamento dos outros”, completa Anne Ernaux, ao descrever o mundo no final dos anos 1950. De l� para c�, muita coisa mudou, houve uma revolu��o nos costumes, protagonizada pelas mulheres, que hoje ocupam espa�os no mercado de trabalho e at� nas for�as armadas, em igualdade de condi��es. Algumas profiss�es, muitas das quais tiranizaram secularmente as mulheres, como a medicina, por exemplo, est�o sendo dominadas por elas. Entretanto, muita gente vive e pensa como naquela �poca, o que provoca um choque de gera��es.

Uma jovem, atualmente, vive de forma completamente diferente, embora tenha muito o que agradecer �s mulheres mais velhas, como Anne Ernaux, que romperam as barreiras do preconceito e da discrimina��o, enfrentando o machismo e os preconceitos em condi��es absolutamente desiguais. As jovens de hoje t�m um card�pio afetivo de acordo com as circunst�ncias, que muda como as nuvens noturnas que escondem e desvelam a Lua e as estrelas: tem o “crush”, o “peguete”, o “ficante” e o at� o “friends with benefits” (amigos com benef�cios), que funciona como uma esp�cie de delivery afetivo. O namoro, o noivado e o casamento s�o coisas muito s�rias para ser vinculadas apenas ao sexo. � um mundo virado de pernas para o ar.

Dois mundos

O mundo que Michelle e Damares oferecem �s mulheres, na disputa entre o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro, � aquele descrito por Ernaux na sua juventude, n�o tem nada a ver com essa realidade dos dias atuais, em que as jovens mulheres vivem a plenitude de uma revolu��o de g�nero, na qual a orienta��o sexual � uma op��o individual garantida por direito. Tamb�m n�o � a realidade das m�es dessas jovens, que viveram os dois momentos e, mesmo que n�o estejam de acordo com o comportamento da nova gera��o, n�o desejam que haja uma regress�o aos costumes de sua adolesc�ncia e juventude, quando a virgindade era o tabu que alicer�ava todas aquelas "vergonhas" descritas por Arnaux.

“Ela � a mulher com blush no rosto, os dois rapazes de trinta e poucos anos s�o seus filhos, a mocinha � namorada do filho mais velho, a do mais novo foi quem tirou a foto.(...) Tem vontade de continuar sendo provedora do conforto material dos filhos, para compensar a eventual dor do peso da exist�ncia que eles possam sentir e da qual ela se julga respons�vel, j� que colocou os dois no mundo. Ela se acostumou com a ideia de que eles devem aproveitar a vida, apesar da situa��o prec�ria dos dois, com contratos tempor�rios em trabalhos inferiores � forma��o que t�m, com seguro-desemprego, dependendo do m�s, alguns bicos, em um eterno presente feito de m�sica, seriados norte-americanos e videogames, como se eles prosseguissem indefinidamente uma vida de estudante ou artistas sem dinheiro, e, uma boemia de antigamente, t�o distante da ‘situa��o’ dela na idade deles. (Ela n�o sabe dizer se a indiferen�a social deles � real ou fingida.)”

Nas palavras de Ernaux, eis uma cena t�pica da classe m�dia, que vota majoritariamente com o presidente Jair Bolsonaro, embora a maioria das mulheres, em raz�o do machismo e de atitudes mis�ginas do presidente da Rep�blica, se recusem a faz�-lo. Talvez a elei��o esteja sendo decidida nesse universo, no qual observamos confrontos extremos de comportamento social. Entre as mulheres, segundo o DataFolha (19/10), Lula vence de 51% a 42%. Em termos geracionais, vence entre os mais jovens, de 16 a 24 anos (50% a 41%), na faixa de 45 a 59 anos (51% a 44%) e entre os com 60 anos ou mais (52% a 43%).




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