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Estado de Minas ENTRE LINHAS

Ningu�m enfrenta os novos desafios sozinho

''A escolha feita pelo povo nas urnas precisa ser respeitada. Isso depende do candidato derrotado, mas, sobretudo, da for�a das institui��es''


31/10/2022 04:00 - atualizado 31/10/2022 09:14

Lula
Lula (foto: Ricardo Stuckert)
Dono de um in�dito terceiro mandato, com 59.563.912 votos (50,83% dos votos v�lidos), contra 57.675.427 votos (49,17% dos votos v�lidos) de Jair Bolsonaro (PL), o presidente Luiz In�cio Lula da Silva tem diante de si um desafio muito, mas muito maior mesmo, do que aquele que enfrentou ao ser eleito pela primeira vez, em 2002. Naquela �poca, seu governo sinalizava avan�o social no combate � pobreza, num ambiente saud�vel de reorganiza��o da vida institucional e econ�mica do pa�s, que herdou do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Agora, n�o, est� diante de uma ruptura com as pol�ticas de governo j� em curso, protagonizada pelo presidente Jair Bolsonaro, que � o primeiro a n�o se re-    eleger desde 2008, quando foi institu�da a reelei��o.

A vit�ria de Lula foi muito apertada, obtida �s 19h56 de ontem, quando 98,91% das urnas j� estavam apuradas e era imposs�vel reverter o resultado, apurados 117.305.567 votos v�lidos. Foram registrados 1.751.415 votos brancos (1,43%) e 3.889.466 votos nulos (3,16%). A absten��o chegou a 20,90%. Destaca-se a atua��o do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, que matou no peito todas as turbul�ncias do dia da vota��o, sobretudo a atua��o de setores das for�as policiais com claro prop�sito de dificultar o acesso �s urnas da popula��o mais propensa a votar no petista. No final do dia, minimizou as ocorr�ncias e proclamou o resultado oficial.

A vit�ria apertada de Lula n�o tisna a envergadura da mudan�a que significa, porque praticamente retoma o fio da hist�ria interrompido com a impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), com duas preocupa��es: a centralidade das pol�ticas de combate � pobreza e a pacifica��o do pa�s. “N�o interessa a ningu�m viver numa fam�lia onde reina a disc�rdia. � hora de reunir de novo as fam�lias, refazer os la�os de amizade rompidos pela propaga��o criminosa do �dio. A ningu�m interessa viver em um pa�s dividido, em permanente estado de guerra”, disse.

Embora o sil�ncio de Bolsonaro seja uma preocupa��o, o stablishment pol�tico reagiu de forma muito positiva . O presidente da C�mara, Arthur Lira (PP-AL), logo ap�s o resultado, reconheceu a vit�ria de Lula e defendeu a pacifica��o do pa�s. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), foi na mesma linha. Bolsonaro, ao n�o reconhecer imediatamente a vit�ria de Lula, sinaliza dificuldades na transi��o para o novo governo. Entretanto, Lula conta com amplo apoio das institui��es e uma solidariedade internacional muito robusta, simbolizada pelo r�pido reconhecimento de sua vit�ria pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. 

Bolsonaro obteve uma grande vit�ria em S�o Paulo, com a elei��o de Tarc�sio de Freitas. Perdeu no Rio Grande do Sul, com a vit�ria do tucano Eduardo Leite, o primeiro ex-governador do estado a ser eleito pela segunda vez, que ferrou seu aliado de primeira hora, o ex-ministro Onix Lorenzoni. Com sua grande vota��o e aliados importantes nos governos dos tr�s maiores estados do Sudeste — SP, RJ e MG —, continua sendo a segunda maior lideran�a do pa�s. Sua manifesta��o sobre o resultado das elei��es, aguardada para hoje, � muito importante para a normalidade do processo democr�tico. 

Problemas objetivos


A escolha feita pelo povo nas urnas precisa ser respeitada. Isso depende do candidato derrotado, mas sobretudo da for�a das institui��es e da maioria da sociedade, que deseja a volta � normalidade da vida nacional. Teremos um per�odo de transi��o de dois meses, no qual a coopera��o entre o   atual governo e a equipe de transi��o do presidente eleito ser� fundamental. As sequelas da disputa eleitoral ser�o duradouras, mas as feridas precisam ter cicatriza��o acelerada. A sociedade sangra com as disputas entre familiares e amigos, diverg�ncias que perdurar�o, mas n�o comportam inimizades e viol�ncias.

A democracia tem dois pilares, a altern�ncia de poder e o direito ao dissenso das minorias. � preciso respeit�-los, de um lado os que hoje est�o no poder, de outro os que v�o assumi-lo. Diante de uma grande encruzilhada, o pa�s tem um longo caminho a seguir. N�o se trata apenas do bem-estar imediato, por todos almejado, mas de construir um futuro melhor para as futuras gera��es, diante de um mundo no qual as mudan�as ocorrem numa velocidade que muitos n�o conseguem acompanhar. 

Num cen�rio desses, a rea��o de muitos, qui�� at� da maioria, � tentar congelar o tempo ou faz�-lo andar para tr�s. Isso n�o � poss�vel. As ideias reacion�rias v�m de um passado imagin�rio, no qual os velhos problemas s�o apagados, como se n�o fossem os trilhos das mazelas atuais. Entretanto, os problemas que est�o na esfera do comportamento, dos costumes, da tradi��o, das religi�es s�o de ordem subjetiva.

Entretanto, os grandes problemas nacionais s�o de ordem objetiva, est�o na esfera das nossa realidade, impactada pela globaliza��o da economia, as novas tecnologias, as novas formas de produ��o, os novos la�os sociais. Nossa integra��o � economia mundial perde complexidade em termos de balan�a comercial. Nossa voca��o natural de produtor de commodities de min�rios e alimentos na divis�o internacional do trabalho � uma vantagem estrat�gica, por�m n�o basta para assegurar o nosso pleno desenvolvimento.

Temos graves defici�ncias de infraestrutura e � flagrante a deteriora��o do nosso padr�o de urbaniza��o. As abissais desigualdades sociais s�o agravadas pela precariza��o do trabalho e por nosso secular racismo estrutural. Velhas pr�ticas pol�ticas patrimonialistas, clientel�sticas e fisiol�gicas, em contradi��o com o Estado democr�tico de direito e suas institui��es, enfraquecem o nosso sistema pol�tico e corrompe os partidos. Ningu�m enfrenta essas tarefas sozinho.
 

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