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Estado de Minas ENTRE LINHAS

Apesar dos violentos e seu vandalismo, a democracia segue seu curso

Jair Bolsonaro est� chocando o ovo de uma serpente natimorta. A correla��o de for�as pol�ticas, com a suja derrota, est� se alterando em favor da democracia


14/12/2022 04:00 - atualizado 14/12/2022 07:26

Bolsonaristas confrontam a polícia diante da sede da PF, onde xavante estava preso
Bolsonaristas confrontam a pol�cia diante da sede da PF, onde xavante estava preso (foto: Evaristo S�/AFP)

O vandalismo dos bolsonaristas inconformados com a pris�o de um xavante bolsonarista, baderneiro supostamente convertido ao Evangelho e oficiado pastor quando estava preso por tr�fico de drogas, na noite de segunda-feira, em Bras�lia, sinaliza muitas coisas, mas n�o a for�a suficiente para impedir a posse do presidente eleito Luiz In�cio Lula da Silva. Sua diploma��o pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre Moraes, que determinou a pris�o preventiva do �ndio renegado por sua tribo e a soldo de um fazendeiro do interior paulista, demonstrou que a democracia segue seu curso, com suas pompas e ritos, que consagram o nosso Estado de direito democr�tico.

O soci�logo Manuel Castells, ministro de Universidades da Espanha, disc�pulo de Alain Touraine, Michel Foucault e J�rgen Habermas, destaca que a democracia se constr�i em torno de rela��es de poder social que v�o se adaptando � evolu��o, mas sempre acaba por privilegiar o poder que j� est� cristalizado nas institui��es. E com o poder cristalizado ficando cada vez mais poderoso, mais dif�cil fica de elimin�-lo ou combat�-lo. Isso acaba por desencorajar a cria��o de novas representa��es pol�ticas fazer com que o cen�rio pol�tico se mostre cada vez mais dominado por grandes partidos, enraizados h� mais tempo.

Partindo dessa premissa, podemos constatar que o tsunami eleitoral de 2018, que levou Bolsonaro ao poder, ao mesmo tempo em que foi resultado do descolamento dos partidos da sociedade, por seu cretinismo parlamentar (que nada mais do que a defesa dos interesse pr�prios dos pol�ticos e n�o das ideias e eleitores que lhes deram origem), representou a derrota dos movimentos c�vicos que emergiram da crise do governo Dilma Rousseff em 2013. Esses movimentos n�o conseguiram dar origem a uma alternativa de poder de car�ter liberal. Esvaziados, sua base social foi capturada pelo bolsonarismo, um movimento assumidamente reacion�rio, cuja atua��o reproduz a velha extrema direita da crise pol�tica e da radicaliza��o dos anos 1930.

Agora estamos diante de um novo ciclo, em que o presidente Jair Bolsonaro, l�der carism�tico desses movimentos, perdeu as elei��es para o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva, fundador e l�der do maior partido de origem oper�ria da hist�ria do pa�s, num processo de polariza��o esquerda versus direita que precisa ser ultrapassado, mas se retroalimenta. Entretanto, h� uma diferen�a fundamental entre Lula e Bolsonaro: o primeiro tem um partido com experi�ncia pol�tica e eleitoral e o segundo, n�o; lidera uma milit�ncia fanatizada e organizada � margem dos partidos que lhe deram governabilidade.

Diria Castells, quem paga esse pato � a sociedade, que se v� longe do sistema pol�tico, ao mesmo tempo em que o processo de renova��o e evolu��o pol�tica do pa�s fica tolhido pelos partidos dominantes. Mas n�o sejamos manique�stas, o outro lado dessa moeda � o fortalecimento das institui��es pol�ticas, ainda que por uma “partidocracia”. Assim, a virul�ncia verbal e vandalismo dos bolsonaristas-raiz s�o preocupantes, desnudam a mentalidade fascista de suas lideran�as, por�m, ao mesmo tempo, revelam um certo desespero diante da for�a das institui��es e do curso da democracia.

Bagun�a tem limite


A bagun�a ocorrida em Bras�lia no dia da diploma��o de Lula estava escrita nas estrelas. Foi orquestrada e mostra as inten��es dos grupos golpistas que permanecem � porta dos quart�is, com prop�sito de impedir a posse do presidente eleito. Mas esse tipo de a��o serve tamb�m para isol�-los e p�r uma saia justa nos aliados de Bolsonaro que se passam por liberais e flertam com o autoritarismo, bem como as autoridades de seguran�a cujos servi�os de informa��o sabem o que est� se passando. Como um novo ciclo que se abre, esses grupos de extrema direita, com sinal trocado, se deparam com as mesmas dificuldades dos movimentos c�vicos que n�o conseguiram se integrar ao processo pol�tico institucional e se esvaziaram como for�a eleitoral. A chave do que est� ocorrendo � o Centr�o.

O cientista pol�tico Carlos Melo, professor do Insper, a prop�sito do momento em que estamos vivendo, numa conversa pol�tica entre amigos na segunda-feira, fez uma observa��o fundamental: separou a extrema direita bolsonarista do Centr�o ao analisar a for�a de Bolsonaro. Segundo ele, a sobreviv�ncia dos pol�ticos do Centr�o depende da rela��o com o governo e n�o da lideran�a de Bolsonaro. Por isso mesmo, a constru��o da governabilidade de Lula passa pela institucionalidade da pol�tica e n�o pelo confronto nas ruas. Esse seria o jogo dos violentos. Complemento: Quando Churchill disse que “a democracia � a pior forma de governo, com exce��o de todas as outras formas que foram experimentadas de tempos em tempos”, estava se referindo � capacidade de a democracia liberal do Ocidente sobreviver �s crises que ela pr�pria engendra. Foi mais ou menos o que ouvi de um general no Comando Militar do Planalto �s v�speras do 7 de setembro do ano passado: “a democracia � barulhenta, mas tem institui��es fortes.”

Em tempo: o presidente Jair Bolsonaro est� chocando o ovo de uma serpente natimorta. A correla��o de for�as pol�ticas, com a derrota eleitoral, est� se alterando rapidamente, porque o governo � a forma mais concentrada de poder e o aparelho burocr�tico-administrativo j� gravita em torno do novo presidente da Rep�blica e das for�as que o apoiam. Os bols�es de resist�ncia s�o localizados e est�o sendo desnudados, principalmente na �rea da seguran�a p�blica. O que houve em Bras�lia foi omiss�o e coniv�ncia com os baderneiros, mesmo assim, diante da escalada, chegou uma hora em que a repress�o aos manifestantes teve que ser adotada. N�o houve pris�es na segunda-feira, mas ser�o inevit�veis.
 

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