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Estado de Minas

Lula precisa rever suas prioridades diplom�ticas, ap�s falas sobre Ucr�nia

N�o podemos p�r tudo a perder por causa da guerra. Empunhar a bandeira da paz n�o deve ser reposicionamento estrat�gico do Brasil


25/04/2023 04:00

Chico Buarque recebeu o prêmio Camões e criticou Jair Bolsonaro
Chico Buarque recebeu o pr�mio Cam�es e criticou Jair Bolsonaro (foto: PATRICIA DE MELO MOREIRA/AFP)

� mais ou menos um consenso na diplomacia a necessidade de compatibilidade entre a pol�tica externa e a pol�tica interna. Por exemplo, a entrega do Pr�mio Cam�es ao compositor Chico Buarque, ontem, em Lisboa, pelo presidente Luiz In�cio da Silva, est� em sincronia perfeita com o momento da pol�tica cultural brasileira, de valoriza��o dos nossos artistas e da tem�tica democr�tica, progressista e popular, que sempre foi uma caracter�stica do nosso cancioneiro.

Chico resumiu o mosaico nacional inspirado nos versos de Paratodos, uma de suas m�sicas: “O meu pai era paulista, meu av� pernambucano, meu bisav� mineiro e meu tatarav� baiano. Tenho antepassados negros e ind�genas, cujos nomes meus antepassados brancos trataram de suprimir da hist�ria familiar. Como a imensa maioria do povo brasileiro, trago nas veias o sangue do a�oitado e do a�oitador, o que ajuda a nos explicar um pouco”. Ao registrar que o Pr�mio Cam�es levou quatro anos para lhe ser entregue, registrou com ironia a grande  mudan�a pol�tica na vida nacional:

“Quatro anos com uma pandemia no meio davam �s vezes a impress�o que um tempo bem mais longo havia transcorrido. No que se refere ao meu pa�s, quatro anos de governo funesto duraram uma eternidade, porque foi um tempo em que o tempo parecia andar para tr�s. Aquele governo foi derrotado nas urnas, mas nem por isso podemos nos distrair, pois a amea�a fascista persiste, no Brasil e por toda parte. Hoje, por�m nessa tarde de celebra��o, reconforta-me lembrar que o ex-presidente teve a rara fineza de n�o sujar o diploma do meu Pr�mio Cam�es, deixando seu espa�o em branco para assinatura do nosso presidente Lula”.

Entretanto, n�o se pode dizer que a prioridade diplom�tica do presidente Lula esteja em sintonia absoluta com a pol�tica interna, a n�o ser que pretenda dar uma guinada � esquerda no seu governo, como j� est�o afirmando seus advers�rios, da extrema-direita � centro-esquerda. A forma como Lula se engajou e priorizou a guerra da Ucr�nia na nossa pol�tica externa est� favorecendo a forma��o de uma frente ampla de oposi��o, ao contr�rio do que ocorreu no segundo turno da elei��o, quando obteve o apoio das for�as de centro.

O erro de conceito � tratar como iguais a R�ssia e a Ucr�nia. Foi o que revelaram suas declara��es em Pequim, Dubai e, ao receber o chanceler russo Serguei Lavrov, em Bras�lia. O pre�o pol�tico desse equ�voco diplom�tico est� sendo muito alto. Por mais que no encontro com o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Souza, Lula tenha retoricamente se reposicionado. Talvez o erro seja at� estrategicamente mais grave: tratar a guerra da Ucr�nia como prioridade e n�o, como deveria ser, a quest�o ambiental. Na diplomacia presidencial, Lula perdeu a dimens�o de que a quest�o da Amaz�nia � t�o importante ou mais at� do que a guerra da Ucr�nia para a sobreviv�ncia da humanidade.

O ex-presidente Jair Bolsonaro se tornou um “p�ria internacional” sobretudo por foi n�o compreender que seu apoio ao garimpo ilegal, ao contrabando de madeira e ao genoc�dio de yanom�mis catalisou a opini�o p�blica mundial contra o seu governo, visto como uma amea�a pela maioria dos governos do Ocidente, mais at� do que sua a aproxima��o com Putin, cujo regime iliberal lhe servia de espelho. A vit�ria de Lula reabriu todas as portas do Ocidente para o Brasil, porque foi compreendida como uma afirma��o da democracia e o passo inicial para salvar a Amaz�nia e, com isso, conter drasticamente a velocidade do aquecimento global.

A posi��o do Brasil


A voca��o natural do Brasil na divis�o internacional do trabalho � a produ��o de commodities agr�colas e de min�rios, inclusive semicondutores. Nos dois casos, como provedores de insumos b�sicos, isso nos insere por gravidade no mundo das novas tecnologias. Ao mesmo tempo, podemos recuperar nossa complexidade industrial com a produ��o de f�rmacos e eletr�nicos, nos inserindo na reestrutura��o das cadeias globais de valor. Para isso, n�o podemos nos desconectar do Ocidente, principalmente dos Estados Unidos e da Uni�o Europeia. A China ser� cada vez mais o nosso maior parceiro comercial, mas, ao mesmo tempo, est� engolindo o mercado interno e externo das nossas ind�strias.

A hegemonia das rela��es comerciais entre Ocidente e Oriente � disputada pelos Estados Unidos e a China. Isso nos coloca diante das seguintes perguntas: Qual o grau de prioridade das nossas rela��es com o Mercosul e a Uni�o Europeia?  Como administrar a complexidade da nossa participa��o nos BRICS (Brasil, R�ssia, �ndia, China e �frica do Sul), novo o eixo das rela��es entre a �sia, a �frica e a Am�rica do Sul? N�o podemos p�r tudo a perder por causa da guerra da Ucr�nia. Empunhar a bandeira da paz n�o deve ser um reposicionamento estrat�gico do Brasil no mundo. Isso mudaria profundamente a correla��o de for�as pol�ticas internas, principalmente no Congresso.

Ainda n�o sabemos se a transi��o da bipolaridade para a multipolaridade na pol�tica internacional se processar� de maneira pac�fica ou, pelo contr�rio, violenta, como se apresenta agora na Europa. Essa transi��o tamb�m acirra conflitos de interesses entre as grandes pot�ncias e as principais na��es emergentes. Desde a Segunda Guerra, os conflitos armados foram regionais ou �tnicos, mas a guerra da Ucr�nia adquire outra dimens�o, est� sendo comparada pelos pa�ses da Otan � ocupa��o dos Sudetos (cadeia de montanhas situada entre a Pol�nia, a antiga Tchecoslov�quia e a Alemanha) pelas tropas de Hitler. Ao assinar o Acordo de Munique, a Fran�a e o Reino Unido chocaram o ovo da serpente da expans�o nazifascista.



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