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Estado de Minas ENTRE LINHAS

Lula depende n�o s� do seu carisma, mas das regras do jogo democr�tico

Para se manter no poder, petista depende tamb�m do exerc�cio competente da pol�tica institucional


11/05/2023 04:00 - atualizado 11/05/2023 07:32

Avaliação negativa do governo Lula segue alta no mercado financeiro
Avalia��o negativa do governo Lula segue alta no mercado financeiro (foto: EVARISTO S�/AFP)


De um modo geral, governos populistas s�o “fulanizados”, ou seja, organizam sua sustenta��o pol�tica em torno de um l�der carism�tico. Quem primeiro caracterizou esse tipo de lideran�a foi o soci�logo alem�o Max Weber, autor de uma palestra c�lebre, intitulada “A pol�tica como voca��o”, ao separar poder e domina��o. Para ele, o poder � o exerc�cio da vontade sobre os indiv�duos; a domina��o, a aceita��o e a subordina��o dos indiv�duos ao poder exercido por algu�m. H� tr�s formas leg�timas de domina��o, uma delas � a carism�tica. As outras duas s�o a legal (um pacto entre os cidad�os para que eles tenham garantidos os seus direitos) e a tradicional (com base na moral e na religi�o, caracter&iac ute;stica das sociedades patriarcais).

O que nos interessa mais � a domina��o carism�tica, que depende da capacidade individual mobilizar a sociedade e comand�-la. Segundo Weber, o l�der carism�tico � uma esp�cie de for�a da natureza, exerce uma m�stica sobre seus seguidores, essencial para que seus liderados nele depositem a esperan�a de mudan�a e acreditem nas suas a��es. Nesse tipo de domina��o, a compet�ncia n�o est� em primeiro plano. Por isso, a instabilidade desse tipo de domina��o decorre diretamente da capacidade de persuas�o do l�der. Quando ela falha, o poder entra em crise.

No Brasil, o l�der pol�tico mais carism�tico de nossa hist�ria republicana foi Get�lio Vargas, que liderou a Revolu��o de 1930 e se manteve no poder como ditador, at� 1945. Voltou ao poder pela vontade popular, nas elei��es de 1950, com 46,36% dos votos, como candidato � Presid�ncia do PTB, partido que fundou. Naquela �poca, n�o havia segundo turno. Essa vota��o traduziu seu prest�gio junto aos trabalhadores assalariados do pa�s, mas tamb�m revelou forte a rejei��o da classe m�dia e das elites do pa�s. Vargas se matou-se para n�o ser deposto, no dia 24 de agosto de 1954, em meio a uma crise pol�tica provocada por um atentado ao jornalista Carlos Lacerda, seu mais figadal advers�rio pol�tico, perpetrado pelo chefe de sua guarda pessoal, Greg�rio Fortunato.

Depois de Vargas, sem d�vida, a lideran�a mais carism�tica � o presidente Luiz In�cio Lula da Silva, o ex-l�der metal�rgico, que chegou ao poder 2002, foi reeleito em 2006 e elegeu sua sucessora em 2010, a ex-presidente Dilma Rousseff. Construiu uma trajet�ria pol�tica com base no sindicalismo, desbancando o herdeiro natural do velho trabalhismo varguista, o ex-governador fluminense Leonel Brizola (PDT), nas elei��es de 1989, quando disputou o segundo turno com Fernando Collor de Melo, que foi eleito.

Carisma e poder


Vargas n�o tinha advers�rio eleitoral � altura, seu principal desafeto, Carlos Lacerda, no auge de sua popularidade, era uma lideran�a confinada � antiga Guanabara. Nem de perto tinha o carisma de J�nio Quadros, que se elegeu presidente da Rep�blica em 1960, por�m renunciou ao mandato, no segundo ano de governo, numa crise palaciana provocada pelo seu rompimento com Lacerda. J� o presidente Luiz In�cio Lula da Silva tem um advers�rio com forte lideran�a carism�tica, Jair Bolsonaro. O ex-presidente da Rep�blica n�o se reelegeu por uma diferen�a de apenas 1,8% dos votos v�lidos. Sua base eleitoral � forte e atuante, com uma extrema-direita ideol�gica que defende abertamente a volta ao regime militar.

Bolsonaro exerce sua lideran�a com um p� no pr�prio carisma e o outro na tradi��o moral e religiosa, ou seja, no velho patriarcado. Para se manter no poder, Lula depende n�o somente do pr�prio carisma, mas das regras do jogo democr�tico e do exerc�cio competente da pol�tica institucional. Gra�as a isso, p�de disputar as elei��es e tomar posse, apesar da conspira��o golpista que viria a se expressar em 8 de janeiro e est� sendo desnudada. Ou seja, Lula depende da domina��o racional-legal, que � compartilhada com o Congresso e o Supremo Tribunal Federal.

No momento, a rela��o do governo Lula com o Congresso � muito vol�til. Uma parte dos ministros atua na l�gica da domina��o carism�tica, na aba do chap�u do l�der, em busca de um programa de a��o focado nas pol�ticas sociais, por�m, com vi�s estrat�gico de velhas concep��es da esquerda latino-americana. Outra, de centro e centro-direita, luta por espa�os no pr�prio governo e defende um programa de reformas liberais. Para complicar, a maioria do Congresso � conservadora, fisiol�gica e patrimonialista.

Egressos do governo Bolsonaro, os l�deres do chamado Centr�o tamb�m querem um governo para chamar de seu, como foi o de Bolsonaro. Falta foco ao governo Lula para enfrentar essa situa��o e viabilizar suas prioridades imediatas, no caso, a aprova��o do chamado “arcabou�o fiscal” e a reforma tribut�ria. Para isso, � preciso pactuar programaticamente as rela��es entre as for�as que participam da coaliz�o de governo (uma agenda liberal-social pode ser o caminho) e negociar a implementa��o dessa agenda com o Congresso (um acordo com o Centr�o ser� inevit�vel). O carisma de Lula, apenas, n�o d� conta do recado, seus parceiros pol�ticos querem um governo para chamar de nosso.

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