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Estado de Minas entre linhas

Lula dobrou a aposta diplom�tica ao receber Nicol�s Maduro em Brasilia

Reatar rela��es � correto, mas chamar de preconceito as cr�ticas ao regime venezuelano � um erro pol�tico


30/05/2023 04:00
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Lula chamou de 'momento histórico' a presença de Nicolás Maduro tem território brasileiro
Lula chamou de "momento hist�rico" a presen�a de Nicol�s Maduro tem territ�rio brasileiro (foto: EVARISTO S�/AFP)


Um pressuposto de pol�ticas externas bem-sucedidas � o relativo consenso nacional em torno delas. O ex-presidente Jair Bolsonaro caiu num profundo isolamento internacional por causa do seu alinhamento com os l�deres de extrema-direita na pol�tica mundial, sem que houvesse massa cr�tica nas elites brasileiras para esse posicionamento. Ainda que os interesses do agroneg�cio o obrigassem a um giro de reaproxima��o com a China, em guerra comercial com os Estados Unidos. O ponto de inflex�o de sua pol�tica externa foi a elei��o do presidente Joe Biden. Com a derrota de Donald Trump, Bolsonaro ficou sem seu principal aliado. Seu isolamento internacional foi uma das causas de sua derrota e da frustra��o de suas inten��es golpistas.

Na campanha eleitoral, o presidente Luiz In�cio Lula das Silva teve no presidente Joe Biden o seu principal aliado na pol�tica internacional, uma vari�vel importante para a garantia de sua posse. Embora existam contradi��es entre os militares brasileiros e os Estados Unidos, nossas For�as Armadas mant�m estreita colabora��o com suas cong�neres dos Estados Unidos, Inglaterra e Fran�a. A coopera��o militar com a R�ssia e a China n�o tem grande express�o, ao contr�rio do que acontece com a Venezuela, que tem farto material b�lico de origem russa, chinesa e iraniana.

Ontem, o presidente Luiz In�cio Lula da Silva recebeu o presidente da Venezuela, Nicol�s Maduro, com tapete vermelho, nos dois sentidos. Hiperinfla��o, emigra��o em massa e um governo paralelo n�o foram suficientes para apear Maduro do poder. O presidente venezuelano sobreviveu � crise de 2019 por duas raz�es: seus generais convenceram Bolsonaro a n�o participar de uma aventura militar, em apoio � aventada interven��o norte-americana no pa�s vizinho; e o presidente russo Vladimir Putin equipou as For�as Armadas venezuelanas com armamentos que desequilibraram a correla��o estrat�gico-militar regional.

A R�ssia vendeu mais de US$ 11,4 bilh�es em equipamento militar para a Venezuela nos �ltimos 20 anos, incluindo ca�as, helic�pteros de ataque e transporte, defesa a�rea e plataformas navais, tanques, ve�culos blindados de transporte de pessoal (APC), artilharia autopropulsada e m�sseis terra-ar. Pululam instrutores militares cubano. A China se concentrou no apoio pol�tico e econ�mico fornecido � Venezuela, incluindo coopera��o estreita em energia, ind�stria, sa�de, finan�as e com�rcio. Entretanto, desde 1999, o 76º Grupo do Ex�rcito do Ex�rcito de Liberta��o do Povo Chin�s (PLA) realiza treinamento conjunto com as For�as Especiais venezuelanas.

Linha divis�ria

Lula classificou seu encontro com Maduro como um “momento hist�rico”. Tem raz�o quando argumenta que � inconceb�vel n�o manter rela��es com um pa�s vizinho, com o qual tem uma fronteira de 2.220 km e muitos interesses econ�micos. � um esfor�o para recuperar mercado para a ind�stria brasileira, ocupado pelos chineses. Mas classificar como preconceito as cr�ticas ao regime venezuelano � um erro pol�tico. “Acho que cabe � Venezuela mostrar a sua narrativa, para que possa efetivamente fazer pessoas mudarem de opini�o. [...] � preciso que voc� construa a sua narrativa, e eu acho que por tudo que conversamos, a sua narrativa vai ser melhor do que a narrativa que eles t�m contado contra voc�”, disse Lula. O problema da Venezuela n�o � a narrativa, s�o as viola��es de direitos humanos e a falta de elei��es livres e limpas.

Ontem, a prop�sito da coluna de domingo, o professor Darc Costa, presidente das C�maras de Com�rcio Brasil-Venezuela e da Federa��o das C�maras de Com�rcio da Am�rica do Sul, argumentou que a pol�tica externa brasileira deve projetar o que chamou de Ocidente Profundo. “N�o do Ocidente vindo da barb�rie, que habitava al�m das muralhas de Adriano, somos filhos da Ib�ria, a regi�o mais Ocidental do Imp�rio Romano”. Segundo ele, “Ocidente coletivo”, com a inclus�o do Jap�o, Taiwan e Coreia do Sul, � um conceito muito amplo, que inclui qualquer alian�a. “Qual o nosso lugar? Este enigma est� longe de ser decifrado e qualquer alinhamento agora � precipitado. Celso Amorim e o Itamaraty sabem disso”.

Feita a ressalva, volto � quest�o central. O nosso neorrealismo diplom�tico como doutrina, partindo de nossa posi��o geopol�tica na Am�rica do Sul e no chamado Sul Austral, tem seu valor, mas acontece que houve uma mudan�a na pol�tica mundial que n�o pode ser ignorada. Desde sua posse, em 20 de janeiro de 2021, a pol�tica externa de Biden retoma as alian�as estrat�gicas dos Estados Unidos que haviam sido implodidas por Donald Trump (2017-2021). Seu objetivo � reposicionar o pa�s na “posi��o de lideran�a confiante” das demais democracias do mundo contempor�neo, em contraposi��o � R�ssia e � China

Essa posi��o foi o maior obst�culo diplom�tico enfrentado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, pode igualmente neutralizar a pol�tica externa de Lula. Uma aproxima��o exagerada com a R�ssia e a China n�o tem a mesma sustenta��o interna do regime de Maduro. Velha estrat�gia de Zbigniew Brzezinski, a expans�o da Organiza��o do Tratado do Atl�ntico Norte (Otan) at� a fronteira com a R�ssia, acompanhado a amplia��o da Uni�o Europeia, est� praticamente consumada com a guerra da Ucr�nia. A Europa � a porta de entrada dos Estados Unidos na Eur�sia e a Otan, o instrumento militar para isso. A R�ssia � seu maior obst�culo. A prop�sito, a expans�o da Otan para o Atl�ntico Sul, desde a Guerra das Malvinas, seria mera formalidade.

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