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Estado de Minas entre linhas

Lacalle (Uruguai) e Boric (Chile) deixaram Lula numa saia justa


31/05/2023 04:00
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Lula
Lula reafirmou apoio a Maduro, mesmo ap�s cr�ticas de Chile e Uruguai (foto: EVARISTO S�/AFP)

 
� preciso ter cuidado para n�o jogar a crian�a fora com a �gua da bacia. A reuni�o dos presidentes sul-americanos, oito anos ap�s o colapso da Unasul, ontem, em Bras�lia, foi um passo importante para a integra��o dos pa�ses do subcontinente, num momento de reestrutura��o das cadeias globais de valor e de uma mudan�a importante na conjuntura pol�tica mundial, na qual a centralidade da democracia est� se impondo no Ocidente.
 
O erro pol�tico de Lula ao tratar o regime autorit�rio da Venezuela como uma “narrativa”,  que colocou a democracia em segundo plano, ofuscou a relev�ncia do encontro e desnudou o ponto fraco de sua pol�tica externa: a busca de alian�as que podem afastar o Brasil dos Estados Unidos. Os presidentes do Uruguai, o conservador Luis Lacalle Pou, e do Chile, Gabriel Boric, de esquerda, criticaram a fala de Lula e, duramente, a falta de democracia e viola��es aos direitos humanos na Venezuela.
 
Luis Lacalle Pou aproveitou o desgate de Lula e rejeitou a retomada de institui��es de integra��o regional como a Uni�o de Na��es Sul-Americanas (Unasul), criada em 2008, quando os ventos pol�ticos no continente sopravam para a esquerda. “Precisamos parar com essa tend�ncia de criar organiza��es, vamos � a��o”, declarou. Lula havia proposto reorganizar a Unasul na abertura do encontro. Lacalle registrou em v�deo o seu discurso e divulgou nas redes sociais, quebrando um acordo de que a discuss�o entre os presidentes seria a porta fechadas.
 
A repercuss�o negAtiva foi imediata e fragilizou Lula. Lacalle fora muito contundente: “Ora, se h� tantos grupos no mundo que est�o tratando de mediar para que a democracia seja plena na Venezuela, para que se respeitem os direitos humanos, para que n�o haja presos pol�ticos, o pior que podemos fazer � tapar o sol com a m�o”.
 
Ap�s a abertura, foi a vez de Boric roubar a cena. Defendeu o reingresso da Venezuela nos encontros multilaterais, mas criticou a fala de Lula sobre o regime de Maduro. O presidente chileno, em entrevista nos jardins do Itamaraty, revelou o teor de sua interven��o na reuni�o: “Eu manifestei, respeitosamente, que tenho uma discord�ncia com o presidente Lula quando ele diz que a situa��o dos direitos humanos na Venezuela � uma constru��o narrativa. N�o � uma constru��o narrativa. � uma realidade s�ria”. Ele cobrou “uma posi��o firme e clara de que os direitos humanos sejam respeitados sempre e em todos os lugares, independentemente do vi�s pol�tico do governante de plant�o”.
 
Depois do encontro, em entrevista coletiva, o presidente Luiz In�cio Lula da Silva minimizou o desgaste, ao ser questionado sobre as cr�ticas dos colegas ao regime e ao presidente venezuelano. “O Maduro faz parte deste continente nosso. Houve muito respeito com a participa��o do Maduro. Ningu�m � obrigado a concordar com ningu�m. � assim que a gente vai fazendo”, respondeu o presidente. “O fato de ter dois presidentes que n�o concordaram, n�o sei em que jornal eles leram. Eu disse que aqui n�o foi convocado reuni�o de amigos do Lula. Foi convocado uma reuni�o de presidentes para construir um �rg�o dos pa�ses”, afirmou.


Integra��o regional

A reuni�o convocada por Lula n�o deixa de ser um �xito da diplomacia brasileira. Al�m de Maduro, Lacalle e Boric, participaram do encontro o presidente da Argentina, Alberto Fernand�z; da Bol�via, Lu�s Arce, da Bol�via; da Col�mbia, Gustavo Petro; do Equador, Guillermo Lasso; da Guiana, Irfaan Ali; do Paraguai, M�rio Abdo Ben�tez; e do Suriname, Chan Santokhi. O presidente do Peru, Dina Boluarte, que vive uma crise institucional, foi representado pelo presidente do Conselho de Ministros, Alberto Ot�rola.
 
No encerramento, Lula fez um apelo aos demais presidentes: “Deixamos que as ideologias nos dividissem e interrompessem o esfor�o da integra��o. Abandonamos canais de di�logo e mecanismos de coopera��o e, com isso, todos perdemos”, declarou. Ficou acordado que em 120 dias ser� discutido um roteiro para a integra��o da Am�rica do Sul, cujos pa�ses vivem uma situa��o muito semelhante � do Brasil. Est�o na esfera de influ�ncia geopol�tica dos Estados Unidos, com exce��o da Venezuela, mas t�m como principal parceiro comercial a China.
 
Os maiores parceiros comerciais da China na Am�rica do Sul s�o o Brasil e o Chile, onde a sua balan�a comercial suplanta a dos Estados Unidos duas vezes. A seguir, vem o Peru, Argentina, Uruguai e a Venezuela. Somente na Col�mbia o com�rcio com os Estados Unidos suplanta o chin�s. A proposta de Lula de criar um mercado integrado de 450 milh�es de pessoas, com uma moeda unificada, a exemplo do que fez a Uni�o Europeia, n�o agrada nem um pouco os Estados Unidos, porque seguramente seria lastreada principalmente no yuan e enfraqueceria o d�lar.
 
A presen�a da China na Am�rica Latina � uma realidade. Ao contr�rio das empresas norte-americanas, as chinesas n�o t�m medo de economias ca�ticas e buscam oportunidades como as encontradas na prov�ncia argentina Jujuy, a 900 km de Buenos Aires, com quase 800 mil habitantes. O l�tio de suas salinas brancas � mais f�cil de ser explorada do que na Bol�via e no Peru. A oeste, a estrada que cruza a prov�ncia, constru�da pelos chineses, atravessa os Andes at� o Chile e chega ao Pac�fico; a Leste, liga a Argentina ao Paraguai e, depois, ao Brasil. Entretanto, os Estados Unidos est�o desvinculando suas cadeias de valor da China para criar cadeias regionais, principalmente de produtos eletr�nicos e semicondutores. � uma briga de cachorro grande, mas n�o deixa de ser uma oportunidade para a Am�rica Latina.

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