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Estado de Minas entre linhas

Dez anos depois das manifesta��es, os pol�ticos deram a volta por cima

A vit�ria de Lula n�o lhe deu uma maioria parlamentar, mas a conting�ncia de negociar com um Congresso mais conservador


09/06/2023 04:00
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Lula venceu Bolsonaro com diferença de apenas 1,8% dos votos
Lula venceu Bolsonaro com diferen�a de apenas 1,8% dos votos (foto: EVARISTO S�/AFP)


H� muito a pol�tica deixou de ser monop�lio dos pol�ticos, magistrados, militares e diplomatas. Existe a pol�tica dos cidad�os, sobretudo agora, que as redes sociais passaram a ter um papel decisivo na forma��o de opini�o e mobiliza��o pol�ticas, a partir de interesses individuais, para o bem ou para o mal. Essa ficha s� caiu para as lideran�as pol�ticas depois das manifesta��es de junho de 2013, que completaram dez anos e est�o sendo revisitadas. Para uns, foram o ovo da serpente do “neofascismo” brasileiro; para outros, a demonstra��o de que a crise de representa��o pol�tica dos partidos havia chegado a um ponto disruptivo, com a sociedade reagindo ao status quo. Ambos t�m sentido.

O que n�o faz sentido � atribuir o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff a um plano golpista e maquiav�lico, urdido pelos Estados Unidos, assim como a Opera��o Lava-Jato, ainda que os gringos possam ter dado um empurr�ozinho, em algum momento. As primeiras grandes manifesta��es ganharam as ruas e pra�as, das grandes e pequenas cidades, a partir de protestos espont�neos dos jovens paulistanos, contra o aumento das passagens de �nibus, que foram duramente reprimidos. No Rio de Janeiro, igualmente, a repress�o a um protesto de jovens contra a remo��o dos ocupantes do antigo Museu do �ndio, no Maracan�, foi o estopim das manifesta��es.

Devido � Copa do Mundo de futebol que se realizaria no Brasil, a palavra de ordem dos protestos era o “padr�o Fifa” para a educa��o, a sa�de, os transportes, a seguran�a etc., al�m das pautas identit�rias de g�nero e natureza �tnica. Mobilizadas e organizadas pelas redes sociais, uma novidade � �poca, at� mesmo para a Uni�o Nacional dos Estudantes (UNE), os protestos incorporaram grupos sociais e movimentos diferenciados, que buscavam uma pauta comum. As imagens da �poca mostram isso claramente.

Os protestos ocorriam quase diariamente, chegaram a 1 milh�o de pessoas no Rio de Janeiro, at� que esmoreceram em raz�o da repress�o policial, da a��o da extrema direita (mil�cias) e de grupos anarquistas (Black blocs), que come�aram a promover atos de viol�ncia e vandalismo. Protestava-se contra tudo e contra todos, por�m, principalmente contra a presidente Dilma Rousseff. Mas n�o o bastante para impedir a sua reelei��o, contra A�cio Neves (PSDB) e Marina Silva (Rede).

As jornadas de junho de 2013 foram leg�timas e republicanas, por�m, gestaram um caldo de cultura e um modus operandi que ressurgiriam mais tarde, no segundo mandato de Dilma Rousseff, como um movimento pol�tico de oposi��o. Dessa vez, o fator unificador dos movimentos foi a Opera��o Lava-Jato, que investigou o esc�ndalo da Petrobras e desaguou numa campanha em defesa da �tica na pol�tica, protagonizado por movimentos c�vicos de car�ter liberal, mas que acabou hegemonizado por for�as de extrema-direita. Trocou-se o ir�nico “Padr�o Fifa” por um irado “Fora Dilma, fora PT”.

Tsunami eleitoral

Se 2013 foi um fen�meno da p�s-modernidade, em sincronia com as mudan�as do capitalismo globalizado, a crise de representa��o pol�tica das democracias ocidentais e a inseguran�a de cidad�os em busca de uma nova identidade, 2015 foi outra coisa. Quando os protestos chegaram a 1 milh�o de pessoas na Avenida Paulista, com a realiza��o de manifesta��es simult�neas em centenas de cidade, j� era um movimento unificado com o objetivo de afastar a ent�o presidente da Rep�blica.

O movimento de oposi��o agregou insatisfa��es e demandas que brotaram em 2013, mas o que se viu em 2015 foi a centralidade da quest�o �tica. Era o in�cio da constru��o de uma nova hegemonia pol�tica no pa�s, de extrema-direita, que ultrapassou os chamados movimentos c�vicos.  Em 2018, durante o governo Michel Temer, que havia assumido a Presid�ncia, surgiu uma avassaladora candidatura antissistema, a do ex-presidente Jair Bolsonaro, cuja vit�ria era inimagin�vel at� o fat�dico dia da facada que levou em Juiz de Fora, durante a campanha eleitoral. Por causa da Lava-Jato, o presidente Luiz In�cio Lula da Silva, candidato at� ent�o favorito, estava ineleg�vel e na imin�ncia de ser preso. Seu candidato foi o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).

O governo Bolsonaro foi autoexplicativo. O que mais importa neste retrospecto � destacar a volta por cima dos pol�ticos nas elei��es de 2022. Blindaram seus mandatos no Congresso, por meio do controle vertical dos partidos, dos fundos partid�rio e eleitoral e de uma fatia consider�vel dos recursos de investimento do governo, por meio de emendas impositivas, individuais e de bancada, ao Or�amento da Uni�o. Devido a isso, a vit�ria do presidente Lula nas elei��es passadas, por apenas 1,8% dos votos v�lidos, n�o lhe deu uma maioria parlamentar, mas a conting�ncia de ter que negociar com um Congresso mais conservador do que o que fora eleito em 2018.

E os jovens rebeldes daquela �poca? Majoritariamente, � medida que amadureceram, derivaram para posi��es mais conservadoras. As pesquisas eleitorais mostraram isso com clareza. Lula venceu com os votos dos muito jovens, das mulheres e dos nordestinos. A Opera��o Lava-Jato est� sendo desconstru�da pela alta magistratura do pa�s. Os militares, que haviam voltado ao poder com Bolsonaro, se retiraram para a caserna, mais uma vez. Nossos diplomatas tentam implementar uma pol�tica independente, que d� ao Brasil um novo protagonismo internacional, mas esbarram na polariza��o fomentada por uma nova “guerra fria”, que op�e Estados Unidos e Uni�o Europeia � R�ssia e China. E os cidad�os? Por enquanto, est�o “astuciando coisas”, como diria o velho Herm�genes, folclorista capixaba.

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