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Estado de Minas Entre Linhas

Julgamento no TSE: Bolsonaro, o ex-presidente em seu labirinto

Mesmo que novas provas n�o sejam incorporadas ao processo pelo TSE, sua inelegibilidade � dada como certa


28/06/2023 04:00 - atualizado 27/06/2023 22:26
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Julgamento de Bolsonaro deve terminar na quinta-feira
Julgamento de Bolsonaro deve terminar na quinta-feira (foto: SILVIO AVILA/AFP )

Com perd�o para a mem�ria de Sim�n Bolivar, o Libertador, e parafraseado Gabriel Garc�a M�rquez, a hist�ria do ex-presidente Jair Bolsonaro come�ar� a ser contada a partir de seu julgamento pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que deve conden�-lo � inelegibilidade at� 2030. O ex-capit�o, como o general de romance hist�rico da literatura latino-americana, construiu um labirinto do qual n�o consegue sair. Como o personagem fict�cio, cuja trajet�ria � fiel aos fatos hist�ricos, Bolsonaro ingressa agora numa fase na qual toda gl�ria se foi. Precisar� de muita resili�ncia para enfrentar mais de uma d�zia de processos, sem a prostra��o e a ang�stia do mitol�gico caudilho de Gabo no final de sua vida.

Spoiler desse cl�ssico da literatura universal: Garc�a M�rquez, vencedor do pr�mio Nobel de Literatura, ao contar a hist�ria de Sim�n Jos� Antonio de la Sant�sima Trinidad Bol�var y Palacios Ponte-Andrade y Blanco, O Libertador, fala dos percal�os da vida, do sofrimento e de sua sina cruel, que a realidade traz � tona sempre que pode, ao final da vida do caudilho.

“O general em seu labirinto” (Record), de 1989, come�a de tr�s pra frente, nos �ltimos dias do caudilho venezuelano, durante sua derradeira viagem atrav�s do Rio Magdalena, quando rememora paix�es, batalhas, derrotas e vit�rias. Tecido pelas dores do decl�nio, seu labirinto � uma mente ambiciosa, muito inteligente e sagaz, que sonhou faz�-lo o chefe pol�tico e militar perp�tuo de uma �nica grande na��o, do M�xico e � Terra do Fogo, depois de conquistar a Venezuela, a Col�mbia, o Equador e a Bol�via. O seu ocaso, por�m, � cruel.

Voltemos a Bolsonaro. O ex-presidente da Rep�blica � grosseiro e vulgar, mas n�o � burro. Inicialmente, n�o acreditava numa condena��o, que agora � dada como certa por seus aliados e at� ele pr�prio. Nos �ltimos dias, j� com a inelegibilidade dada como favas contadas, saiu da letargia e resolver mobilizar seus apoiadores pelas redes sociais, para pressionar ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Seu objetivo � evitar uma condena��o un�nime e recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF), mantendo-se na m�dia como v�tima de suposta persegui��o pol�tica. O general Braga Netto, vice na sua chapa, que tamb�m � r�u no processo, tem chance de escapar da condena��o.

A c�pula do PL j� trabalha com o cen�rio de Bolsonaro fora da disputa eleitoral. Suas declara��es de que pretende se candidatar a vereador no Rio de janeiro, nas elei��es do pr�ximo ano, s�o coisa de quem est� fora da realidade, no labirinto mental em que se enroscou. J� Braga Netto, n�o; em abril, o Minist�rio P�blico Eleitoral defendeu a rejei��o das acusa��es contra ele. Caso escape da condena��o, o que � mais prov�vel, pode ser lan�ado candidato a prefeito do Rio de Janeiro, onde certamente teria a mesma base de apoio de Bolsonaro, inclusive das mil�cias. O prefeito Eduardo Paes (PSD) apoiou Lula nas elei��es passadas.

Como foi o caso? Bolsonaro reuniu os embaixadores estrangeiros no Pal�cio do Planalto para denunciar a atua��o do TSE, principalmente do seu presidente, ministro Alexandre de Moraes, acusando-o do prop�sito de fraudar as elei��es nas urnas eletr�nicas, sem apresenta��o de provas. Ocorre que as investiga��es sobre o 8 de janeiro tamb�m est�o complicando a situa��o do ex-presidente. Mesmo que novas provas n�o sejam incorporadas ao processo, como a minuta do decreto de golpe encontrada na casa do ex-ministro da Justi�a Anderson Torres, ou as grava��es do celular do seu ajudante de ordens, coronel Mauro Barbosa Cid, apreendido pela Pol�cia Federal.

Cen�rios


Al�m disso, a condena��o de Bolsonaro pode criar jurisprud�ncia para outros julgamentos de pol�ticos acusados de crimes eleitorais, entre os quais as den�ncias vazias contra as urnas eletr�nicas. Nesse caso, haver� um strike nas bancadas bolsonaristas. Pode ser um rev�s ainda maior para o PL, de Valdemar Costa Neto, que trabalha para que Bolsonaro mantenha sua influ�ncia pol�tica, como o grande eleitor da legenda. Seu maior trunfo � a ex-primeira-dama, Michele Bolsonaro, mas apenas para as elei��es de 2026, em Bras�lia, porque n�o h� elei��es para vereador e prefeito na capital federal. Ela postularia uma vaga no Senado.

A inelegibilidade de Bolsonaro abre caminho para a reelei��o de Lula, mas tamb�m para a despolariza��o pol�tica, com fragmenta��o da extrema-direita ao centro pol�tico. � tamb�m um desafio para o presidente Lula, que precisa manter uma ampla coaliz�o de governo e uma maioria prec�ria no Congresso, que at� agora se estruturou gra�as � polariza��o pol�tica. Caso seu governo perca popularidade, alternativas surgir�o na pr�pria Esplanada dos Minist�rios.

No momento, os principais candidatos ao esp�lio eleitoral de Bolsonaro n�o s�o homens de extrema-direita, cultivam a imagem de pol�ticos conservadores, por�m esclarecidos: os governadores de Minas, Romeu Zema (Novo), que est� no segundo mandato, e de S�o Paulo, Tarc�sio de Freitas (PR), que poder� optar pela reelei��o. Nenhum dos dois � ligado a Valdemar Costa Neto, presidente do PL, que precisar� ter um candidato competitivo que canalize os votos de Bolsonaro.

O cen�rio com Bolsonaro enfraquecido aponta tamb�m para um quadro de realinhamento de for�as nas elei��es municipais. Como na velha pol�tica de concilia��o entre luzias (liberais) e saquaremas (conservadores) do Imp�rio, o fato de haver uma ampla coaliz�o de governo n�o significa que seus integrantes esque�am suas disputas nas elei��es locais. � a� que Bolsonaro pode testar sua for�a.


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