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Estado de Minas OPINI�O

O iliberalismo n�o morreu com a inelegibilidade de Bolsonaro

'O que separa a democracia liberal do iliberalismo � falta de respeito pelas institui��es independentes e pelos direitos individuais, principalmente'


16/07/2023 04:00 - atualizado 15/07/2023 20:17
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Brasília (DF) 12/07/2023 - O ex-presidente Jair Bolsonaro fala com jornalista após depoimento no inquérito que investiga uma tentativa de golpe de Estado que teria sido articulada pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES)
'O que existe de alternativa de poder fora do governo s�o lideran�as que surgiram na aba do chap�u do ex-presidente Jair Bolsonaro' (foto: Valter Campanato/Ag�ncia Brasil)

A agenda social-liberal est� �rf� no Brasil, foi substitu�da por um projeto iliberal no governo Bolsonaro e ainda n�o foi plenamente assumida pelo presidente Luiz In�cio Lula da Silva, com vi�s nacional-desenvolvimentista, evidente na pol�tica externa e na pol�tica industrial.

Para neutralizar o iliberalismo, o governo Lula precisaria consolidar outro vi�s, a de um governo de ampla coaliz�o democr�tica, com uma pol�tica de integra��o competitiva � economia mundial e agenda social universalista, mas com foco nos mais pobres.

Uma terceira alternativa, com esse car�ter social-liberal, n�o � poss�vel na atual conjuntura, mesmo que alguns desejem, por falta de uma lideran�a de proje��o nacional. Essa disputa est� se dando dentro do governo Lula e n�o fora dele.

O que existe de alternativa de poder fora do governo s�o lideran�as que surgiram na aba do chap�u do ex-presidente Jair Bolsonaro, principal representante do iliberalismo na pol�tica brasileira, porque sua base eleitoral continua influente, articulada e identificada com uma agenda autorit�ria.

Com a inelegibilidade do ex-presidente da Rep�blica, sentenciada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), muitos acreditam que a amea�a � democracia deixou de existir. � um equ�voco. 

No momento, a maior eloquente demonstra��o de que o projeto iliberal n�o est� morto � a quest�o das escolas c�vico-militares. O governador de S�o Paulo, Tarc�sio de Freitas (Republicanos), liderou o movimento para manuten��o das escolas, depois da manifesta��o do Minist�rio da Educa��o, pedagogicamente correta, de que esse modelo de escola � anacr�nico e autorit�rio.

“Fui aluno de Col�gio Militar e sei da import�ncia de um ensino de qualidade e como � preciso que a escola transmita valores corretos para os nossos jovens”, disse o ex-ministro da Infraestrutura de Bolsonaro. Hoje, h� 13 unidades em S�o Paulo. 

Outros 12 estados decidiram manter o modelo, na maioria dos quais Bolsonaro venceu as elei��es passadas. H� duas raz�es para isso, uma � o comprometimento ideol�gico com o projeto iliberal, como fica claro nas declara��es do governador paulista; o outro, a press�o da base eleitoral de Bolsonaro.

Como na defesa da proibi��o do aborto, da posse de armas e da pena de morte, o senso comum leva muitas pessoas a acreditarem que a forma��o militar nas escolas com fins civis garantir� o futuro e a seguran�a de seus filhos.

Quais s�o os “valores corretos”. Os professores de nossas escolas p�blicas n�o t�m esses valores? � preciso a presen�a de ex-militares nas salas de aula para isso? O principal problema da qualidade das escolas p�blicas � a falta de recursos e a desvaloriza��o dos professores.

Modernidade l�quida

O iliberalismo no Brasil n�o � um projeto pol�tico descolado da nossa realidade e do mundo. A revolu��o digital, a crise de representa��o dos partidos e as mudan�as nos costumes, com o fim da antiga “sociedade industrial”, estruturada em classes sociais definidas, geram muita perplexidade e inseguran�a na sociedade.

Na chamada “modernidade l�quida”, conceito do soci�logo polon�s Zygmunt Bauman, principal caracter�stica de nossa �poca, as rela��es sociais, econ�micas e de produ��o s�o “fr�geis, fugazes e male�veis, como os l�quidos”. O iliberalismo � uma das faces pol�ticas dessa nova sociedade. 

Na “modernidade l�quida”, o indiv�duo molda a sociedade � sua personalidade, por seu estilo de vida, padr�o de consumo e comportamento. A mobilidade geogr�fica � muito maior, as migra��es ocorrem por necessidade ou oportunidade, a competi��o econ�mica aumenta, os sal�rios diminuem, o emprego � inseguro, novas profiss�es surgem e muitas desaparecem.

Uma pessoa ter o mesmo emprego por toda a vida � quase imposs�vel, exceto para funcion�rios p�blicos de carreira. E a� que surge o reacionarismo, o desejo de voltar a um passado idealizado, imagin�rio, para ter mais seguran�a. 

E o projeto iliberal? Esse conceito surgiu para caracterizar os movimentos e os partidos que combatem a democracia por dentro. Ganhou muita for�a no Ocidente durante o governo de Donald Trump, porque chegou ao poder nos Estados Unidos. O que separa a democracia liberal do iliberalismo � a falta de respeito pelas institui��es independentes e pelos direitos individuais, principalmente.

No Brasil, o iliberalismo ganhou for�a com a crise de nossa democracia representativa, cujo descolamento da sociedade ficou evidente nos protestos de 2013. Chegou ao poder no tsunami eleitoral de 2018. 
Em todo o mundo, lideran�as iliberais combatem os valores democr�ticos, disputam o poder dentro das regras do jogo e, quando vitoriosos, atuam contra as institui��es democr�ticas.

� o que ocorre na Hungria, na R�ssia e na Turquia; mais recentemente, na It�lia e na Espanha. E foi o que assistimos nos quatro anos de governo Bolsonaro. A express�o “democracia iliberal” (“illiberal democracy”, em ingl�s) apareceu pela primeira vez em 1997, em um ensaio publicado na revista “Foreign Affairs” pelo jornalista e cientista pol�tico americano Farred Zakaria, um cr�tico da cultura de cancelamento na esquerda.

No ensaio, Zakaria chamou de democracias iliberais os “regimes democraticamente eleitos e com frequ�ncia reeleitos ou mantidos no poder por meio de plebiscitos, que ignoram que seus poderes s�o limitados constitucionalmente e que destituem seus cidad�os de seus direitos e liberdades b�sicos”.

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