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Estado de Minas ENTRE LINHAS

O lema dos gladiadores e a banaliza��o das a��es de Mauro Cid

Novo advogado n�o chega a responsabilizar Bolsonaro diretamente, mas insinua necessidade de identificar o respons�vel


17/08/2023 04:00 - atualizado 17/08/2023 07:32
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Mauro Cid é ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro
Mauro Cid � ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (foto: EVARISTO S�/AFP)

A express�o latina Ave Imperator, morituri te salutant ou Ave Caesar, morituri te salutant (“Ave, C�sar, aqueles que est�o prestes a morrer o sa�dam”) foi usada a primeira vez em 52 d.C, como sauda��o ao imperador romano Cl�udio, durante um evento no Lago Fucino, na It�lia, no qual escravos e criminosos condenados � morte foram obrigados a simular uma batalha naval denominado Naumaquia. Segundo o historiador romano Caio Suet�nio Tranq�lo, Cl�udio teria respondido “Aut non”(ou n�o). Em 89 a.C, o lago fora palco da morte de L�cio Cat�o, consul da Rep�blica Romana, durante batalha contra rebeldes das cidades italianas.

No cl�ssico De Cita Caesarian, Suet�nio escreveu sobre doze imperadores romanos, entre os quais Julio Cezar e Nero. A obra mistura verdade e fic��o, mas retrata de tal forma a vida no Imp�rio Romano que influenciou toda a historiografia  sobre esse per�odo da hist�ria e, de certa forma, a compreens�o da forma��o da civiliza��o ocidental. O lema dos gladiadores vem ao caso em raz�o da estrat�gia do novo respons�vel pela defesa do ex-ajudante de ordens  de Jair Bolsonaro,  tenente-coronel Mauro Cid, o advogado Cezar Roberto Bitencourt.

“Na verdade, ele � um militar, mas ele � um assessor. Assessor cumpre ordens do chefe. Assessor militar com muito mais raz�o. O civil pode at� se desviar, mas o militar tem por forma��o essa obedi�ncia hier�rquica. Ent�o, algu�m mandou, algu�m determinou. Ele � s� o assessor. Assessor faz o qu�? Assessora, cumpre ordens”, disse o advogado, ontem. A nova linha de atua��o da defesa de Mauro Cid � um reflexo do avan�o das investiga��es da Pol�cia Federal (PF).

At� agora, Mauro Cid estava como um gladiador romano, pronto para morrer por Bolsonaro, mas o esc�ndalo da venda do Rolex de ouro branco cravejado de brilhantes nos Estados Unidois complicou ainda mais a sua situa��o. E arrastou seu pai, o general Lorena Cid, ao olho do furac�o.  Com suas declara��es, Bitencourt  transfere a responsabilidade sobre os atos de Mauro Cezar para seu superior imediato. O cargo de ajudante de ordens � o �nico da Presid�ncia cuja nomea��o � prerrogativa do Ex�rcito. Entretanto, o nome j� diz: ajudante de ordens. Ou seja, o militar com essa fun��o cumpre ordens diretas do presidente da Rep�blica.

Bitencourt n�o chega a responsabilizar o ex-presidente Jair Bolsonaro diretamente, mas insinua , ao destacar a necessidade de identificar o respons�vel pelas ordens recebidas. Oficial da ativa, Mauro Cid  n�o estava subordinado ao ministro-chefe do Gabinete de Seguran�a Institucional, general Augusto Heleno, nem ao  Secret�rio-geral da Presid�ncia, general Luiz Ramos, mas integrantes do estado-maior da Presid�ncia. Hierarquicamente, cumpria ordens diretas de Bolsonaro.

Coisas erradas


A troca de advogados revela que a estrat�gia de defesa do grupo de envolvidos na venda de joias da Presid�ncia deixou de ser unificada. O advogado desmente a inten��o de negociar um acordo de dela��o premiada com a Pol�cia Federeal, mas a nova linha de defesa exige que Mauro Cid indique o nome de quem deu as ordens para fazer tantas coisas erradas. Com esse cavalo de pau na sua estrategia de defesa, virou um homem-bomba.

O militar tem informa��es sobre tudo o que acontecia nos bastidores do Pal�cio do Planalto, estava diretamente envolvido em a��es ilegais como falsificar certificados de vacina, tentar liberar joias na Receita Federal e, como ficamos sabendo, na tentativa de golpe de 8 de janeiro. A Pol�cia Federal (PF) j� tem tantas informa��es e provas contra o militar que somente aceitaria uma dela��o premiada se realmente surgissem fatos novos contra Bolsonaro.

Outro aspecto da linha de defesa de Mauro Cid � a “banaliza��o”das coisas erradas, para usar uma express�o de Hanna Arendt ao descrever a atua��o do criminoso nazista Adolf Eichmann, que foi localizado pelo Mossad, o servi�o secreto de Israel, na Argentina, sequestrado e levado para julgamento  em Jerusal�m. A fil�sofa judia-alem� radicada nos Estados Unidos fez uma grande reportagem sobre o julgamento, que presenciou integralmente.

Eichmann n�o era um mostro sanguin�rio, segundo Arendt, mas um burocrata obediente e zeloso, sem nenhuma empatia com suas v�timas. A fil�sofa desnuda a capacidade de o Estado nazista igualar a pol�tica de exterm�nio dos campos de concentra��o ao mero cumprimento de atividade burocr�tica, que era como Eichmann encarava seu trabalho. Por que condenar um funcion�rio p�blico dedicado, obediente, cumpridor de metas e dentro da ordem legal vigente? Obviamente, Eichman foi condenado � morte por seus crimes, a “banalidade do mal” n�o serviu de desculpa para sua absolvi��o.



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