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Estado de Minas ENTRE LINHAS

E se Trump ainda fosse o presidente dos EUA em 8 de janeiro?

Defender a democracia como valor universal � um escudo antigolpista. Tanto no plano interno quanto na pol�tica internacional


22/08/2023 04:00 - atualizado 22/08/2023 07:32
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Lula rejeitou decretar Garantia da Lei e da Ordem (GLO) durante a tentativa de golpe de Estado em Brasília
Lula rejeitou decretar Garantia da Lei e da Ordem (GLO) durante a tentativa de golpe de Estado em Bras�lia (foto: EVARISTO S�/AFP)

O ex-chanceler do M�xico Jorge Casta�eda disse � CNN internacional, no s�bado, que o golpe do ex-presidente Jair Bolsonaro para continuar no poder n�o ocorreu em 8 de janeiro porque os Estados Unidos atuaram para “persuadir” as For�as Armadas brasileiras a n�o aderir aos atos golpistas. Seu coment�rio foi feito num contexto em que criticou a atua��o do presidente Joe Biden em favor da democracia na Am�rica Latina. Cientista pol�tico, economista e diplomata, Casta�eda foi secret�rio das Rela��es Exteriores do M�xico de 2000 a 2003, durante a presid�ncia de Vicente Fox. Escreveu livros sobre os movimentos de esquerda na Am�rica Latina, entre os quais uma biografia de Che Guevara.

“Com a exce��o do Brasil, os Estados Unidos n�o foram uma fonte de for�a para a democracia na Am�rica Latina, em um momento que ela estava enfraquecida por todos esses eventos que n�s v�nhamos falando. No caso do Brasil, sim, os Estados Unidos convenceram, persuadiram as For�as Armadas brasileiras a n�o perseguir um golpe militar contra o presidente Lula, que foi eleito no final do �ltimo ano e tomou posse em primeiro de janeiro, e foi quase deposto em um golpe com grande participa��o militar em 8 de janeiro”, disse na entrevista, divulgada aqui no Brasil pelo site Congresso em Foco.

H� um consenso entre os principais analistas pol�ticos brasileiros de que a possibilidade de �xito de um golpe militar no Brasil era improv�vel por falta de apoio internacional, sobretudo ap�s a elei��o de Biden nos Estados Unidos. Mas se sabe muito pouco sobre o que de fato aconteceu entre o Departamento de Estado e os militares brasileiros. Essa avalia��o pol�tica decorre das manifesta��es p�blicas do presidente norte-americano em rela��o ao processo eleitoral e � vit�ria do presidente Luiz In�cio Lula da Silva, que foi recebido por Biden na Casa Branca antes de tomar posse.

O envolvimento de militares com as articula��es golpistas j� era bastante conhecido, inclusive as simpatias dos generais Braga Netto, candidato a vice-presidente, Lu�s Ramos (Secretaria-geral da Presid�ncia) e Augusto Heleno (Gabinete de Seguran�a Institucional), que formavam o estado-maior do governo passado. Tamb�m se sabia da torcida do general e ex-ministro da Defesa Paulo S�rgio e do almirante e ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos pela reelei��o de Jair Bolsonaro. Todos s�o oficiais de quatro estrelas e fazem parte do time que estava disposto a n�o aceitar o resultado das elei��es, se recebessem ordens de Bolsonaro para impedir a posse de Lula.

No decorrer dos acontecimentos de 8 de janeiro, tamb�m ficou evidente que o ent�o comandante do Ex�rcito, general J�lio Cezar de Arruda, n�o atuou como deveria para desmobilizar os “patriotas” acampados em frente ao QG do Ex�rcito, mesmo tendo sido nomeado pelo presidente Lula.  Foi no acampamento que a invas�o do Pal�cio do Planalto, do Congresso e do Supremo Tribunal Federal (STF) foi organizada. Tamb�m se sabe que havia a expectativa de que uma opera��o de GLO (Garantia da Lei e da Ordem) fosse decretada por Lula, para entregar o controle de Bras�lia ao Ex�rcito, a pretexto de conter os invasores. Lula preferiu uma interven��o do Minist�rio da Justi�a.

Defender a democracia

Agora, a Pol�cia Federal, o Minist�rio P�blico Federal, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e a Comiss�o Parlamentar Mista de Inqu�rito (CPMI) dos atos golpistas, na medida em que avan�am as investiga��es, mostram que o envolvimento de oficiais superiores da ativa do Ex�rcito e da Pol�cia Militar de Bras�lia na conspira��o � muito maior. Nesse aspecto, a quebra do sigilo fiscal, telef�nico e digital do general Lorena Cid, pai do ex-ajudante de ordens da Presid�ncia Mauro Cid, pode trazer novas revela��es sobre a conspira��o. Vale lembrar que uma das causas da demiss�o do general Arruda e sua substitui��o no comando do Ex�rcito foi manter o tenente-coronel Mauro Cid � frente do Batalh�o de Opera��es Especiais do Ex�rcito em Goi�s, para o qual havia sido nomeado a pedido de Bolsonaro.


No s�bado, ao lado do ministro da Defesa, Jos� M�cio Monteiro, o presidente Lula teve um encontro com os atuais comandantes da Marinha, Marcos Sampaio Olsen; do Ex�rcito, Tom�s Paiva; e da Aeron�utica, Marcelo Kanitz Damasceno. H� uma grande tens�o entre os militares em raz�o das investiga��es em curso, que s�o in�ditas do ponto de vista da rela��o das For�as Armadas com o poder civil. Pela primeira vez, ser� a Justi�a comum que punir� os militares envolvidos em malfeitos. Lula tem procurado melhorar a rela��o com os militares, prestigiar a c�pula atual das For�as Armadas, legalista, e garantir os investimentos programados para a ind�stria nacional de defesa.

N�o se sabe ainda toda a extens�o do envolvimento dos militares da ativa com a conspira��o golpista. Bolsonaro teve o apoio da maioria dos oficiais na elei��o. Perdeu por estreita margem, mas o resultado das urnas foi reconhecido pela maioria do Alto Comando. A tentativa de golpe de 8 de janeiro, que parecia uma trapalhada, foi uma amea�a muito mais grave � democracia. Diante da entrevista de Casta�eda, cabe a pergunta: o que aconteceria se Donald Trump ainda estivesse no poder? Ainda mais porque ele pretende voltar � Casa Branca.

A pergunta tamb�m � pertinente porque existe uma subestima��o dos riscos que a democracia correu no Brasil. Tanto de parte de setores democr�ticos que fazem oposi��o, com o prop�sito de rearticular desde j� uma terceira via, quanto dos setores de esquerda que n�o compreendem a democracia representativa como um objetivo em si e n�o um mero instrumento de luta pol�tico-ideol�gica. Defender a democracia como valor universal � um escudo antigolpista. Tanto no plano interno quanto na pol�tica internacional.

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