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Estado de Minas ENTRE LINHAS

Depoimento de Mauro Cid desorientou defesa de Bolsonaro

Depoimento do ex-ajudante de ordens rompeu a linha de defesa de Bolsonaro (PL) e da ex-primeira-dama Michelle, que estavam sendo blindados por uma �nica vers�o


03/09/2023 04:00
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Ex-ajudante de ordem do presidente depôs por 10 horas à Polícia Federal e quebrou pacto de silêncio em torno de Bolsonaro
Ex-ajudante de ordem do presidente dep�s por 10 horas � Pol�cia Federal e quebrou pacto de sil�ncio em torno de Bolsonaro (foto: Evaristo S�/AFP - 11/7/23)

Ao optar pela Lei de Murici, a defesa do tenente-coronel Mauro Cid deixou o ex-presidente Jair Bolsonaro e os demais envolvidos no caso da venda das joias recebidas de presente da Ar�bia Saudita, inclusive a primeira-dama Michele Bolsonaro, diante de um desastre anunciado, que pode at� terminar na cadeia. O depoimento de Mauro Cid � Pol�cia Federal durou 10 horas e quebrou o pacto de sil�ncio em torno do ex-presidente da Rep�blica, que est� cada vez mais vendido na hist�ria.

O ex-ajudante de ordens teve tempo de sobra para explicar o “rolo” do Rolex cravejado com brilhantes que Bolsonaro recebeu de presente da Ar�bia Saudita, al�m de outras joias. Foi vendido nos Estados Unidos pelo general Lorena Cid, seu pai, e recomprado pelo advogado Frederick Wassef, para ser devolvido ao Patrim�nio da Uni�o. Nos bastidores da Comiss�o Parlamentar Mista de Inqu�rito (CPMI) dos Atos Golpistas, negocia-se uma dela��o premiada com a defesa de Mauro Cid. Seu novo advogado, Cezar Bitencourt, adotou uma linha independente de defesa.

Em conversa com o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, respons�vel pelo inqu�rito, o presidente da CPMI, deputado Arthur Maia (PP-BA), e a relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), receberam sinal verde para fazer o acordo. H� d�vidas sobre as consequ�ncias jur�dicas que um acordo dessa natureza teria: seria um fato jur�dico in�dito, sujeito a eventual nulidade.

O depoimento de Mauro Cid desorientou a defesa de Bolsonaro (PL) e da ex-primeira-dama Michelle, que estavam sendo blindados por uma �nica vers�o dos fatos. Por essa raz�o, permaneceram em sil�ncio ao serem interrogados pela PF. A PF colheu oito depoimentos de forma simult�nea, para impedir que uma s� vers�o fosse combinada pelos advogados. Bolsonaro e Michele permaneceram em sil�ncio.

Tamb�m foram ouvidos: o general Lorena Cid, que foi colega ex-presidente na Aman; o advogado Frederick Wassef, o ex-chefe de Comunica��o da Presid�ncia F�bio Wajngarten e os ex-assessores especiais Marcelo C�mara e Osmar Crivellati. O advogado de Bolsonaro adotou a linha de que o ministro Alexandre de Moraes n�o � o juiz natural do caso, que deveria tramitar em Guarulhos, em cujo aeroporto as joias foram apreendidas pela Receita Federal.

A grande preocupa��o de Mauro Cid seria com a pr�pria fam�lia, principalmente seu pai, que participou da opera��o de venda do Rolex nos Estados Unidos. A PF j� tem muitas provas, inclusive trocas de mensagens incriminadoras entre o ex-ajudante de ordens e o ex-secret�rio de Comunica��o F�bio Wajngarten. Segundo o jornal “O Estado de S�o Paulo”, uma delas dizia: “o pior � que est� tudo documentado”, ao se referir ao empenho de Bolsonaro para recuperar as joias apreendidas no aeroporto de Guarulhos, em 2021, com um assessor do ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque. Wajngarten respondeu a Mauro Cid: “Eu nunca vi tanta gente ignorante na minha vida". Bolsonaro tentou reaver as joias antes de viajar para os EUA, em dezembro de 2022.

Cada um por si

A linha adotada pelo advogado Cezar Bitencourt na defesa de Mauro Cid � a Lei de Murici, em meio a declara��es contradit�rias, inclusive sobre a dela��o premiada. Argumenta que Mauro Cid cumpria ordens diretas do presidente da Rep�blica. “Em tempo de Murici, cada um cuida de si”, disse o coronel Pedro Tamarindo, ao ordenar a retirada das tropas do Ex�rcito na terceira campanha de Canudos, um dos maiores desastres militares de nossa hist�ria, depois de assumir o seu comando.

Consagrado na Guerra do Paraguai, o sanguin�rio coronel Moreira C�sar fora nomeado para comandar a terceira expedi��o militar contra Canudos, ap�s o fracasso das anteriores, diante dos jagun�os de Ant�nio Conselheiro. Partiu do Rio para a Bahia com 1.281 soldados, seis canh�es Krupp, cinco m�dicos, dois engenheiros militares, ambul�ncias e um comboio de muni��es e mantimentos. Foi mortalmente ferido no ventre, quando se preparava para invadir o arraial de Ant�nio Conselheiro. Foi substitu�do pelo coronel Pedro Tamarindo, que decidiu recuar, ap�s sete horas de combate. Foi tr�gico aquele 3 de fevereiro de 1897.

“Recolhidas as armas e muni��es de guerra, os jagun�os reuniram os cad�veres que jaziam esparsos em v�rios pontos. Decapitaram-nos. Queimaram os corpos. Alinharam depois, nas duas bordas da estrada, as cabe�as, regularmente espa�adas, fronteando-se, faces volvidas para o caminho. Por cima, nos arbustos marginais mais altos, dependuraram os restos de fardas, cal�as e d�lm�s multicores, selins, cintur�es, quepes de listras rubras, capotes, mantas, cantis e mochilas(…) empalado, erguido num galho seco, de angico, o corpo do tenente-coronel Tamarindo”, revelou-nos Euclides da Cunha (Os Sert�es, Ateli�)

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