Quem vai ocupar os primeiros lugares

H� mais de dois mil anos Jesus pregou: “Quando fores convidado para uma festa de casamento, n�o ocupes o primeiro lugar. Pode ser que tenha sido convidado algu�m mais importante, e aquele que convidou a ti e a ele venha dizer-te: ‘Cede o lugar a este’. Ent�o ir�s com vergonha ocupar o �ltimo lugar”.

Mas logo os disc�pulos j� disputavam qual deles era o maior, recebendo outro pux�o de orelha: “Se algu�m quiser ser o primeiro, seja o �ltimo”. Para logo adiante os dois filhos de Zebedeu, Tiago e Jo�o, pedirem ao Mestre que um se assentasse � sua direita e outro � esquerda quando estivessem na “gl�ria”.

Se naquele tempo j� havia essa necessidade de ser o primeiro, o maior, o que est� � direita ou � esquerda, a situa��o veio complicando. Hoje, h� uma parte do mundo que s� quer ser o mais rico, o mais forte, o mais poderoso, o mais fotografado, o mais seguido. Ficar em cima do tablado e sob os holofotes, a humildade guardada no escaninho.

E, vejam s�,  nesta era em que se cultua a imagem e as opini�es nas redes sociais, onde todo mundo posta,  alegre ou indignado, em que as opini�es digitais gritam suas exclama��es por a�, os cat�licos reverenciam a figura de um homem que n�o diz uma s� palavra em toda a hist�ria sagrada.

Nesse tempo de muita ilus�o e pouca ess�ncia, em que muitos dormem sem remorso e acordam sem culpa, � o marido de Maria, o bom Jos�, um dos mais admirados santos da Igreja.

Parece que as pessoas adoram a sua nobreza de sentimentos e gostariam de fazer o que ele fazia. Mas s� Jos� fez tudo o que Deus queria. Obediente, escondido do mundo, quase impercept�vel, cumpriu sua miss�o e sumiu no sil�ncio.

Jesus n�o deu uma aula de etiqueta naquele dia. N�o era um cerimonialista � volta com as normas de preced�ncia, o livro que, para n�o provocar ci�mes entre autoridades, tem suas regras de quem deve se sentar no centro da mesa, ao lado direito do presidente, no lado esquerdo do prefeito.

Cristo aceitava com frequ�ncia convites de v�rias pessoas para comer em sua casa. Nessa passagem, o Mestre � recebido na casa de um dos principais fariseus da cidade. Movido pelo desejo de salvar todos, sem se importar com a opini�o p�blica, mesmo conhecendo a mal�cia dos fariseus, Ele v� os convidados escolhendo os primeiros lugares e conta a par�bola ambientada em um casamento.

Prega para todas as gera��es a humildade, encerrando com o famoso vers�culo “pois todo o que se exaltar ser� humilhado, e o que se humilhar ser� exaltado”. Ser convidado pelo anfitri�o a ocupar um lugar melhor �, com certeza, muito mais agrad�vel do que ocupar um lugar indevido e ter que deix�-lo, momento constrangedor que ningu�m quer vivenciar.

Enquanto o mundo distra�do insistia em disputar os primeiros lugares, um inimigo invis�vel se instalou entre n�s e estabeleceu um novo protocolo de conviv�ncia, custe o que custar, doa a quem doer.  N�o estamos mais na casa do fariseu, mas em uma longa prociss�o a c�u aberto, todos aprendizes de um novo tempo.

Quem est� na frente e atr�s de mim participa da mesma dignidade. Um bom tempo para reler o Antigo Testamento e ver quantas vezes Deus escolheu os mais improv�veis, os que pareciam ter menos chances.

Agora, n�o � ceder o lugar para quem � mais importante, tem mais t�tulos, mais conhecimento. � dar o lugar para o mais fragilizado, o mais necessitado, o mais desprotegido. Colocar a virtude da paci�ncia na nossa pressa.

Exercer a compaix�o. Realizar a��es individuais que resultem em benef�cio coletivo, praticando o que os economistas chamam de “externalidade positiva” – proteger os outros. Mudar os h�bitos e at� mesmo se mudar para beneficiar o outro. Mais ajudar e menos se satisfazer.

J� deixamos o outono, entramos no inverno e a pandemia n�o passa, mostrando que no depois nada ser� como antes. Cresce o n�mero de pessoas que necessitam ser consoladas, aumentam os casos de depress�o, as l�grimas est�o mais incontrol�veis. Precisamos descobrir qual parte nos cabe no milagre. Ser o bom Jos�. Tentar fazer pelo outro como Jos� faria.