(none) || (none)

Continue lendo os seus conte�dos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e seguran�a do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/m�s. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas Coluna

Na montanha

Cada um tornou a colocar no bolso o seu problema pessoal, aliviado por saber que sua afli��o n�o era t�o dura como imaginava


14/03/2021 04:00 - atualizado 14/03/2021 08:17

Um c�lebre s�bio vivia em uma montanha no Himalaia, recolhido em uma vida simples entre seus livros, comida, caminhadas ao ar livre. Cansado de conviver com os homens, passava a maior parte do tempo meditando. Sua fama, por�m, era t�o grande que as pessoas andavam por caminhos estreitos, subiam colinas escarpadas, venciam rios caudalosos apenas para conhecer o homem que acreditavam ser capaz de resolver qualquer ang�stia do trabalho humano.

O s�bio, como era um bom homem, cheio de compaix�o, dava um conselho aqui, outro ali, mas procurava livrar-se logo dos visitantes indesej�veis. Mesmo assim, eles apareciam em grupos cada vez maiores, e todos diziam que ele sabia como recuperar as dificuldades da vida. Um dia, o s�bio pediu que sentassem e esperassem mais gente chegar. Quando n�o havia espa�o para mais ningu�m, ele dirigiu-se ao povo diante da sua porta:
 
– Hoje vou dar a resposta que todos desejam. Mas voc�s prometem que, assim que tiverem os problemas solucionados, dir�o aos novos peregrinos que mudei daqui, de modo que possa continuar a viver na solid�o que tanto almejo. Se insistirem em saber para onde fui, voc�s ensinar�o o ritual que estou prestes a fazer, de modo que ningu�m possa se queixar de que a verdadeira sabedoria � inacess�vel. Homens e mulheres garantiram: se o s�bio cumprisse o prometido, ele n�o deixaria mais nenhum peregrino subir a montanha.

– Digam-me seus problemas – pediu o s�bio.

Algu�m come�ou a falar, mas foi logo interrompido por outras pessoas – j� que todos sabiam que aquela seria a �ltima audi�ncia p�blica, tinham medo de que ele n�o tivesse tempo de escut�-los. Minutos depois, a confus�o estava criada: muitas pessoas gritando ao mesmo tempo, gente chorando, homens e mulheres desesperados porque era imposs�vel ser ouvido. O s�bio deixou que a situa��o se prolongasse um pouco. At� que gritou:

–  Sil�ncio!

A multid�o calou-se imediatamente.

–  Sentem-se no ch�o e esperem.

Todos obedeceram. Ele entrou na sua pequena cabana, e logo retornou com folhas de papel, l�pis, e uma cesta de vime. Distribuiu o papel, pediu que cada um escrevesse o seu pior problema, dobrando em quatro e colocando na cesta. Quando todos terminaram, o s�bio recolheu a cesta, e a sacudiu bastante, de modo que os pap�is se misturassem. Em seguida, devolveu-a � multid�o, dizendo calmamente:

– Passem esta cesta por todos. Que cada um tire o papel que est� em cima e leia o que foi escrito. Se voc�s qui- serem podem escolher entre passar a ter o problema que est� escrito ou pedir ao outro que lhes entregue aquilo que colocaram na cesta.

Cada um dos presentes pegou uma das folhas de papel, leu e ficou apavorado. Conclu�ram que aquilo que tinham escrito, por pior que fosse, n�o era t�o s�rio como o que afligia o seu vizinho. Duas horas depois, tinham trocado todos os peda�os de papel, e cada um tornou a colocar no bolso o seu problema pessoal, aliviado por saber que sua afli��o n�o era t�o dura como imaginava.

Agradeceram a li��o, desceram a montanha com a certeza de que eram mais felizes que os outros, e – cumprindo o juramento – nunca mais deixaram que ningu�m perturbasse a paz do justo homem.

Nesta �poca de quaresma, � bom lermos hist�rias de pessoas santas que espalham a boa fama, sejam an�nimos que pregam para multid�es vindas de todas as partes, como de pessoas que preferem falar do presente ou do futuro, sonhando em um mundo sem pandemia, imaginando tornar um gr�o de sal em um exemplo de sabor, ou como fazer da luz no candelabro a possibilidade de iluminar o mundo.

A quaresma � o outono da vida espiritual, durante o qual colhemos os frutos para todo o ano. No caso do s�bio do Himalaia, aproveitamos que nesta �poca seria muito bom tamb�m subirmos a montanha, qualquer montanha, para aprender a enxugar as l�grimas dos aflitos, como consolar e saciar a sede de justi�a, como oferecer a outra face, fazer da caridade uma abertura para o outro. Assim, plante um monte no cora��o e sonhe que est� assentado, assentada, ao p� do Mestre, ouvindo palavras da divina sabedoria.

*Para comentar, fa�a seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)